Sem no que pensar hoje? O microondas está de regresso à tua vida

Este é um artigo para os que cozinham e para os que não cozinham. E vem com o manual de instruções dessa Bíblia chamada… Vogue.

É no mínimo estranho (para uma pessoa como eu pouco ligada à cozinha) a força quase magnética que exerce sobre mim um artigo da Vogue inglesa sobre microondas: "Is Microwave Cooking About To Make A Comeback?" é o título em que paro e que me inspira hoje. Haverá aqui novos comportamentos, mudanças nas nossas vidas ou forma de levar a vida que justifiquem uma reflexão?

Costumo dizer que “já sou antiga” e, neste caso, antiga o suficiente para me recordar da febre dos microondas. Do tempo em que viveram os seus anos de ouro na cozinha da casa dos pais e onde nem se enquadravam na categoria de eletrodomésticos, eram todo um campeonato à parte. Eram os microondas. Com design, com as mais variadas funções, vieram simplificar a vida, chegaram e disseram: isto agora é tudo nosso. Descongelámos literalmente (pre)conceitos sobre a cozinha, e de um momento para o outro já quase só se usava o microondas.

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Desde a sua criação na década de 1940, simbolizavam a libertação do fogão e o marketing ajudou a criar a ideia (principalmente dirigida às mulheres) que o tempo entre tachos e panelas poderia ser usado de formas mais gratificantes, bastava um botão para um jantar rápido. E já nos anos 80, no pico de vendas, posicionavam-se como um aliado da mulher bem sucedida. Os antigos, tal como eu, devem guardar memórias como esta.

Tal como assisti ao encantamento, vivi o desencantamento. Com o novo milénio cresce um interesse por temas ligados à nutrição, à saúde e ao que se convencionou chamar de “comida boa”. Entrámos no mundo em que os chefs se tornaram estrelas, os smoothies e os sumos detox passaram a fazer parte da nossa dieta, e aquelas “ondas” do microondas já não se propagavam neste nosso novo estilo de vida que queriamos mais saudável. Recordo-me que havia até quem se orgulhasse de não ter um microondas em casa.

Se a Vogue é a chamada Bíblia da moda, porque não o ser também em matéria de microondas. E, se diz que estão de volta, devemos pelo menos dar uma hipótese a esse regresso. A começar numa nova geração de chefs e de fãs de comida que nas redes sociais passou a revelar que ama, sem vergonha, o seu microondas. David Chang fundador dos restaurantes Momofuku já é conhecido como o “microwave guy” e acaba de lançar o livro How I Learned To Stop Worrying About Recipes (And Love My Microwave). Para além disso, quando na agenda estão temas como o ambiente e o custo de vida, já se ouve que os microondas são mais eficientes em termos energéticos do que os fornos convencionais, ou seja, usar o microondas uma hora por dia "custa cerca de metade da energia total de um forno a gás natural e 60% menos do que um forno elétrico” lê-se no artigo.

A tendência que começa a espalhar-se então pelo mundo é ver como um microondas nos pode transformar num cozinheiro gourmet e já agora rico em dinheiro e em tempo. Talvez não a tendência para aqueles que gostam do ritual de cozinhar, talvez não a melhor forma para apurar sabores tal como uma panela ao fogão durante uma hora, mas há uma nova relação com o microondas que parece refletir atitudes e comportamentos globais. Talvez não seja para todos, mas parece que na década de 2020 há uma nova vida na vida dos microondas.

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