No dia mais triste do ano, uma dose de realidade: O futuro da beleza é o “Feio”

Chamam-lhe “Movimento Beleza Feia” e questiona se devemos cortar com os padrões de beleza ou se é mais uma moda. Nesta Blue Monday, sê resiliente e lê até ao fim. O teu humor pode mudar.

Os mais atentos sabem que não é de hoje, tem vindo a apresentar-se nos últimos anos, ainda que de forma meio tímida e levado pouco a sério. Talvez visto como uma certa rebeldia de uma certa subcultura, como experiências isoladas (muitas vezes artísticas) por quem procura novas fronteiras para conceitos antigos. Mas quando começa a invadir as redes sociais, as Semanas de Moda e as ruas…o “Movimento Beleza Feia” pode ser mais do que uma simples moda passageira, quem sabe uma tendência que para já grita por atenção.  

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De certa forma pode chegar a confundir-se com a estética "Heroin chic" dos anos 1990, mas este momento “anti-beauty” que vivemos é todo um novo mundo, que terá de ser entendido e para o qual, quer se goste ou não, nos temos de preparar. É diferente, é novo e suficientemente relevante para ter espaço na Mission Mag, uma das publicações mais atenta e exímia na área das tendências urbanas. Eu parei no “The future of beauty is ugly”, o artigo que inspira este texto e que vem alimentar a minha curiosidade desde que a Dazed Beauty foi lançada e trouxe consigo toda uma nova linguagem, tantas vezes perturbadora e provocadora, abanando o nosso entendimento do tradicional conceito de beleza. 

E vamos colocar as coisas desta forma: Tens um ar cansado, um cabelo desgrenhado, acabaste de chorar, as pestanas que colaste ficaram desalinhadas? É isso, não mexe, assume,  acabaste de criar um look que entra diretamente na categoria de “Beleza Feia”. É esse o princípio, mas estás também só mesmo no princípio. Os verdadeiros “anti-beauty” estão já no campeonato de quem de forma intencionalmente desajeitada, imita a maquilhagem ao melhor estilo do Club Kid, o movimento que marcou a noite de Nova Iorque entre 1980 e 1990, fossem drag queens, góticos, amantes de música eletrónica, andrógenos, extravagantes, todos com muita cor e glitter à mistura. 

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É novo. É confuso. Vamos continuar. Falamos de maquilhagem propositadamente perturbadora; de desfiles na Semana de Moda de Nova Iorque como o da Barragán com modelos com lábios cheios de próteses e "dentes de metanfetamina", com falsos piercings faciais e maquilhagem “borrada”;  falamos da descoloração das sobrancelhas entendida como futurista; e falamos também de designers como Michaela Stark com um estilo único e igual às coleções que cria, com peças que acentuam as zonas do corpo com que nos sentimos mais desconfortáveis. Ou seja, a indústria da moda a compactuar com a da beleza. 

Neste mundo que gosta de subverter as convenções, há talvez um sentimento de fadiga com a beleza perfeita. Dizem-nos, sem o dizer, que estão cansados de cumprir os dez passos da rotina diária de cuidados com o rosto, e que preferem dormir com a maquilhagem e acordar nesse estado de “ugly beauty”. Mas não deixa de haver uma certa ironia, quando vemos entre as grandes defensoras do movimento a atriz e modelo Julia Fox, vamos concordar, uma mulher convencionalmente bonita. É preciso ser-se bonito para se querer ser feio? No Tik Tok, Fox admite que a descoloração das sobrancelhas é para “chatear o pai do filho” e que este movimento é um “repelente que mantém os homens à distância”. 

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Ainda que confuso e à procura de ele próprio se entender, este movimento da “Beleza Feia” está a ter o seu momento. E tanto se manifesta num projeto artístico, num ponto de vista feminino ou até numa crítica social. Por aqui juntamo-nos à reflexão da Mission: é libertador e refrescante olhar para o mercado e ver novas formas criativas de autoexpressão, mas no final do dia não gostamos todos de nos sentir bonitos? Essa revolução nos padrões de beleza tradicionais vai continuar a ser um tema de nicho, que alimenta apenas as redes sociais e o mundo da moda. Eu comecei por dizer que este texto deveria ser lido até ao fim. 

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