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A 11 mil euros da felicidade

"Escrevo esta crónica no aeroporto, enquanto espero um voo para a Córsega, torcendo para que não se atrase, ao mesmo tempo penso que tenho de registar o Euromilhões".

Aqueles que me seguem no Instagram já sabem que esta semana sofri com os atrasos e cancelamentos do aeroporto de Lisboa, que está cada dia pior. Com a quebra de receitas provocada pelo Covid 19, as companhias de aviação viram-se obrigadas a reduzir fortemente o número de funcionários. Reduziram ainda as suas frotas e tentam otimizar os seus voos o mais possível. Isso traduz-se em caos nos aeroportos, greves atrás de greves, atrasos nas saídas, na entrega de bagagem... Ou seja, um verdadeiro pesadelo para quem voa.

Pelo que as novas regras de sobrevivência para viajar são: esquecer malas de porão e carregar apenas uma mala de cabine, evitar voos ao fim do dia, bem como os do fim-de-semana (os preferidos dos grevistas). E, mesmo assim, não é certo que o seu voo aconteça e consiga chegar ao destino. Quem tem um orçamento mais folgado agora só voa em aviões privados.

Fiz uma pesquisa rápida e um voo Lisboa-Nice em private jet ficava por 11.600 euros (avião com capacidade para 7 pessoas). Assim de repente, parece-nos proibitivo. Mas vou-lhes mostrar que da maneira que andam as companhias aéreas tradicionais nem sempre o será. Uso o meu caso como exemplo. O meu voo Lisboa-Nice foi cancelado esta quarta-feira à noite. A TAP só me garantia um novo voo dois dias depois, apesar de lhes ter dito que tinha mesmo de estar antes no destino porque tinha outro voo para apanhar na sexta de manhã. Não quiseram saber. Sem opções fui obrigada a comprar um bilhete da Easyjet para o dia seguinte que, em cima da hora, custou 250 euros, tendo de deixar a cadela em Lisboa, já que esta companhia não aceita animais, o que acarretou um custo extra que nem vou contabilizar. Tendo de voltar a Lisboa daqui a uns dias para recuperar a cadela, decidi aproveitar um voo que já tinha para Madrid, para daí voar para Lisboa. Somados os voos, darão mais uns 250 euros.

Remarquei o voo cancelado pela TAP para poder regressar a Nice com a cadela, que custou originalmente outros 250 euros, mais o custo do bilhete da cadela (70) e vamos em 820 euros. Com o que já gastei estou a menos de 11 mil euros de fazer uma viagem prazerosa. Ainda é puxado. Agora... se eu arranjasse seis amigos com quem dividir o avião privado, o custo passaria a ser de 1657 euros por pessoa, ou seja: apenas mais 837 do que aquilo que já me custou chegar ao destino com a cadela. Mais: sem filas, sem dores de cabeça, sem pensar no tamanho da mala, sem atrasos ou cancelamentos e sem refilar com os assistentes telefónicos da TAP. E ainda com atendimento personalizado, com o comandante a receber-nos na chegada ao aeroporto e a acompanhar-nos até ao avião, evitando o posto de controlo normal, entrando diretamente na pista com um transporte cómodo, fresco e cheiroso, ótimo serviço a bordo, gente simpática, cadeiras espaçosas e confortáveis, comida de qualidade, e até uma poltrona individual para a cadela... Tudo sem filas e sem esperas. Saindo na hora que queremos. Uma maravilha.

Se até agora para voar assim era preciso ter o seu próprio avião, o que tornava esta opção impraticável para o comum dos mortais, hoje, com a possibilidade de comprar bancos de horas ajustadas às necessidades de cada um (em função do avião escolhido), esta opção deixou de ser uma miragem só ao alcance de poucos. Claro que ainda assim, é preciso ter um mínimo de capital, pois a compra mínima a fazer é de 25 horas, a um custo médio de 6.000 euros/hora (que pode sempre dividir por 7, não se esqueça, se juntar uns amigos). Aviões maiores, como o Challenger 650, já disparam para outros preços, claro. Num desses aparelhos a hora já custa uns 16.500 euros, mas pode levar até 11 pessoas e tem mais autonomia de voo.

Seria ótimo que em Portugal lançassem um serviço como um que existe entre o Rio de Janeiro e São Paulo, onde pode comprar um lugar individual num avião privado para fazer a ponte aérea a um preço idêntico ao de um voo normal, ou mesmo até a um preço inferior, voando num Pilatus PC-12, que leva 8 pessoas. Pagará apenas 1.500 reais por pessoa, para viajar com todo o conforto.

Escrevo esta crónica no aeroporto, enquanto espero um voo para a Córsega, torcendo para que não se atrase, ao mesmo tempo que penso que tenho de registar o Euromilhões. Com alguma sorte, poderia passar a comprar horas de voo à vontade para fugir às filas e viajar em grande estilo.

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