Vivemos num planeta extraordinário e sempre pronto a surpreender-nos com cenários naturais que desafiam os limites do possível. Um desses locais é a Depressão de Danakil, na Etiópia, um dos lugares mais quentes do planeta.
Localizada até 150 metros abaixo do nível do mar, esta antiga bacia marinha é um inferno à superfície: as temperaturas frequentemente ultrapassam os 50°C e a crosta terrestre é finíssima, com apenas 15 quilómetros de espessura, sobre a qual escorre uma piscina de lava. A água do mar infiltra-se no subsolo e emerge à superfície em fontes termais com temperaturas acima dos 100 °C e o resultado? Um espetáculo de cores criado pelos minerais e metais que tingem a terra.
Mas o que torna Danakil ainda mais surpreendente é o facto de, apesar das condições extremas – calor tórrido, salinidade extrema e acidez fora de escala (com pH abaixo de zero) – um grupo de cientistas ter encontrado sinais de vida.
A descoberta foi feita por uma equipa liderada por Felipe Gómez, do Centro de Astrobiologia de Madrid, que desde 2015 tem explorado os afloramentos hidrotermais da região de Dallol, no norte da Etiópia, onde, até então, se acreditava que nenhuma forma de vida conseguiria sobreviver.
Em 2017, encontraram pequenas estruturas esféricas mineralizadas nas chaminés dos géiseres (fontes termais que periodicamente lançam jatos de água quente e vapor para o ar) e as análises moleculares revelaram vestígios de DNA ativo, tendo sido identificadas pelo menos duas espécies de microrganismos.
"Uma delas pertence ao grupo das nanoarqueias halófilas. Trata-se de organismos esféricos de 50 nanômetros [milésimos de milímetro], o que é um terço do tamanho das outras bactérias. Cobrem-se de minerais e acabam cobertas por uma camada de minerais como se estivessem fossilizadas", descreve Felipe Gómez no relatório do estudo publicado na revista Scientific Reports.
O que fascina os cientistas é perceber como estas criaturas invisíveis, praticamente desconhecidas até há poucos anos, parecem ter um papel fundamental em ecossistemas extremos espalhados por todo o mundo. E mais. Outro dos aspetos mais fascinantes sobre a região de Dallol é que, segundo os investigadores, é parecida com Marte e até com a própria Terra há milhões de anos, quando ainda era coberta por lava. Esta semelhança abre novas possibilidades, uma vez que, se a vida conseguiu florescer num caldeirão como Danakil, quem pode garantir que o mesmo não tenha acontecido noutros planetas?
Visitar a Depressão de Danakil é possível, no entanto, as temperaturas são um desafio à resistência daqueles que suportam o calor com muita dificuldade. "O calor extremo foi insuportável, tornando a experiência exaustiva", diz uma das reviews no site do Tripadvisor.
Na galeria de imagens podes ver este local especial na Terra.