Mulheres | Fotografia: Unsplash
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Porque está a aumentar a procura por esta cirurgia íntima?

O que é e porque é esta cirurgia um grande passo quando falamos de mulheres portuguesas? As respostas da ginecologista Belisa Vides.

Num mundo onde a imagem ganha cada vez mais protagonismo, as cirurgias estéticas tornaram-se parte integrante da sociedade do século XXI. Se antes eram vistas como um luxo reservado a celebridades ou a casos clínicos extremos, hoje em dia são procuradas por pessoas comuns que desejam melhorar a sua autoestima ou corrigir características físicas. Desde rinoplastias a lipoaspirações, os procedimentos são inúmeros e há um segmento que tem despertado uma curiosidade crescente: as labioplastias.

De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), nos últimos três anos registou-se um aumento impressionante de 33% na realização de labioplastias, também conhecidas como ninfoplastias. Este procedimento visa a redução ou alteração da forma dos pequenos lábios vaginais e é muitas vezes procurado para corrigir flacidez, assimetrias ou outras irregularidades da zona genital.

Mas o que motiva esta procura? Quem pode realizá-la e o que ter em conta antes de se avançar com o procedimento? Estas são apenas alguma das questões que colocámos à ginecologista e obstreta Belisa Vides.

Dra. Belisa Vides, Ginecologista e Obstreta

Nos últimos anos, assistimos a um crescimento significativo na procura por cirurgias de labioplastia. Quais considera serem os principais fatores que têm motivado esta tendência em Portugal?

A labioplastia é a cirurgia íntima mais procurada em todo o mundo, com aumento nos últimos anos, impulsionada por motivos estéticos, funcionais ou emocionais. Portugal tem tido um avanço notável na diferenciação, divulgação e difusão deste procedimento que a par da informação gera mais procura por parte da população.

Esta tendência em Portugal, à semelhança a outros países da Europa, prende-se com a integração do conceito de beleza e bem-estar da mulher na definição de saúde global, uma maior abertura e quebra de tabus na intimidade e sexualidade, maior exposição dos órgãos genitais femininos como símbolo de empoderamento e sensualidade, e a noção do “envelhecimento” e perda de funções também a este nível. O aumento da população imigrante, sobretudo de países da América do Norte e do Sul, nos quais a estética tem um relevo maior, contribuiu também para uma maior procura e consciencialização dessas intervenções e das possibilidades de mudança a esse nível. Por último, destaca-se o próprio papel dos media.

Além das motivações estéticas, que condições médicas justificam a realização de uma labioplastia?

Em primeiro lugar, é importante referir que na labioplastia – que consiste na redução do tamanho ou alteração da forma dos pequenos lábios/capuz clitoriano e/ou pregas genitais – há vários sistemas de classificação que são aplicados na tentativa de atribuir uma classificação objetiva e correlação dos sintomas apresentados com as alterações anatómicas e “validar” este procedimento, sobretudo, nas idades mais delicadas e controversas como a adolescência. Quanto maior o grau de hipertrofia, mais prevalentes e marcados os sintomas: dor ou incómodo nas relações sexuais ou prática de exercício físico, trauma com o uso de roupas justas, dificuldade na higiene genital, diminuição da sensibilidade sexual pelo excesso de pele redundante, etc.

Além disso, existe ainda uma individualidade muito importante na autoimagem a considerar e que é independente destes sistemas, pelo que são igualmente razões legítimas para procurar uma cirurgia íntima: o descontentamento com o aspeto menos harmonioso da região genital, as alterações emocionais e a própria autoestima da mulher.

Como encara as críticas que associam este tipo de cirurgia à pressão estética e à influência da indústria pornográfica?

No caso específico da cirurgia estética e ginecológica, é muito importante a avaliação psicológica da paciente, o alinhamento das expectativas e a exclusão de algumas patologias nomeadamente a Perturbação Dismórfica Corporal (PDC), para que o resultado vá ao encontro dos reais desejos da paciente. No século XXI, tem havido um aumento da noção de perfecionismo estético e de padrões de beleza e sexualidade demasiado exigentes, motivando o recurso aos procedimentos estéticos – nestes casos, a labioplastia e a vaginoplastia não se assumem como uma forma de restaurar a funcionalidade e bem-estar da mulher, mas como um fator de pressão para o desempenho e performance sexual, corresponder a expectativas do parceiro e da sexualidade em geral baseadas na imagem da indústria pornográfica. Este aspeto pode ser encarado de forma saudável como o desejo de manter uma aparência e sexualidade prazerosas, como forma de autocuidado, mas também pode ser mais um fator de pressão e afastamento do casal e baixa autoestima.

As críticas são sempre importantes para que haja essa consciencialização e ética profissional, mas não devem ser limitativas, uma vez que a estética assume um papel importante desde o início da história da humanidade com a evolução necessária ao longo dos tempos.

Acredita que começa a haver uma mudança de mentalidade ou ainda vai persistir durante muito tempo um estigma social sobre este tipo de cirurgias?

Acredito que pelos fatores anteriormente referidos começa a haver uma mudança gradual de mentalidade. Há mais informação e desmistificação, acessibilidade aos tratamentos e quebra de tabus. No entanto, Portugal está sensivelmente 15 anos distanciado relativamente aos países da América do Norte e do Sul nesta área. É importante que as pessoas estejam informadas acerca desta área, contudo, há diferenças culturais entre os países que se vão manter sempre independentemente da evolução científica.

Na sua experiência, as pacientes portuguesas revelam-se bem informadas antes de realizar uma cirurgia íntima?

A minha opinião acerca das pacientes portuguesas é muito especial. São mulheres que culturalmente tiveram uma educação mais religiosa – em que, apesar de tudo, ainda é muito prevalente a dedicação à família e ao trabalho –, o envelhecimento e a resiliência impregnada pelo “fado”, sobretudo, nos meios mais rurais, sendo que tudo o que é relacionado com o bem-estar é por vezes ainda colocado num segundo plano. Temos o exemplo da incontinência urinária e a normalização que durante anos ainda se observa na procura do tratamento desta condição.

Na esfera íntima e sexual há aspetos que se prendem com essa cultura, sendo necessário consciencializar a mulher de que o bem-estar íntimo também é uma causa nobre e essencial nos dias de hoje e esse trabalho começa na sociedade e nos profissionais de saúde que as acompanham.

Quais são os procedimentos mais procurados em ginecoestética e que tipo de resultados têm sido observados nas pacientes?

Nos não cirúrgicos, de uma forma geral, apontaria o tratamento da flacidez e hiperpigmentação vulvar (tecnologias com uma fonte de energia – lasers, RF (rádio frequência), em combinação com preenchedores dérmicos (fillers) , bioestimuladores de colagénio, PRP e Celular Matrix, Exossomas e PDRN (Polidesoxirribonucleotídeo), peelings químicos, etc.). Na esfera mais funcional, o tratamento de patologias como o líquen Escleroso Vulvar, a incontinência urinária, a atrofia e secura vaginal, a dispareunia e vulvodinia, a modelação de cicatrizes perineais, vulvovaginites de repetição, entre outras.

Nos cirúrgicos, temos a labioplastia de pequenos lábios associada a plastia do capuz clitoriano e a vaginoplastia (diminuição da amplitude do canal vaginal) e perineoplastia (restauração e reforço da musculatura perineal). De uma forma geral, são efetuados procedimentos em combinação de forma individualizada, uma vez que os processos de envelhecimento ou patologias cursam com várias alterações simultâneas.

Que cuidados devem ser tomados na escolha do cirurgião e da clínica para garantir segurança e ética na realização destas intervenções?

Atualmente, há uma maior consciencialização da necessidade de treino técnico e cirúrgico direcionado, uma vez que a área da Ginecologia Regenerativa não se enquadra neste momento na formação específica em Ginecologia e Obstetrícia nem é uma subespecialidade. Desta forma, é importante a formação e o treino em cursos práticos, de preferência com academias com muito volume e diversidade de casos (Academia Brasileira de GERF), Sociedade Espanhola de GERF e os elementos reconhecidos a nível mundial da LIAGREF que individualmente também proporcionam oportunidades de acompanhamento e formação individual passo a passo. A ética e a integridade profissional devem estar inerentes a esta área como em todas. A escolha da clínica deve ser baseada na diferenciação dos profissionais e nas condições e qualidade das tecnologias e materiais utilizados, que será tanto melhor quanto maior a dedicação a esta área.

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