Fotografia: Unsplash | Edição de imagem: Vasco dos Santos
Controversa

O boicote à Adidas por culpa de um homem em roupas de mulher

Na certeza deste boicote à Adidas, a dúvida: será que a nossa tolerância termina onde começa a tolerância do outro?

PRÉ-BOICOTE

Ainda que com muito dinheiro no bolso, estes últimos tempos não têm sido fáceis para a Adidas. A gigante alemã cortou abruptamente a relação com Kanye West, também conhecido por Ye, em outubro passado, tendo posto de parte a parceria com o rapper. Isto porque a marca tinha de defender uma posição contra os comentários antissemitas que o artista teceu na altura e via-se obrigada a dar provas da sua tolerância: “Os comentários e ações recentes de Ye foram inaceitáveis, odiosos, perigosos, e violam os valores da empresa de diversidade e inclusão, respeito mútuo e justiça”, lê-se no comunicado que confirmava o fim da colaboração.

Mas, atenção, não vamos falar de mais uma polémica de Kanye West. Só queríamos aproveitar o embalo deste abraço coletivo da Adidas que todos lembram para dar o pontapé de partida para a polémica atual. É que, curiosamente, parece que acabamos a falar do mesmo: tolerância.

O BOICOTE

“Let Love Be Your Legacy” é o mote para a coleção “Pride 2023” da marca de sportswear, com a autoria do designer sul-africano Rich Mmisi e em parceria com a Athlete Ally. Esta linha chega a propósito do mês do Orgulho Gay e, segundo a marca, é "uma celebração da autoexpressão, da imaginação e da crença inabalável de que o amor une", e surge como homenagem à comunidade LGBTQIA+.

Até aqui, tudo certo. A partir daqui, as coisas complicam-se.

Para a divulgação de uma das peças desta nova linha, a Adidas escolheu um homem para servir de modelo a um fato de banho inserido na secção de mulher. A peça não foi promovida como uma peça de mulher, mas surge nessa secção com uma designação neutra de “unefit”. Assumidas ativistas dos direitos das mulheres e outras vozes que tais não gostaram da abordagem e fizeram-se ouvir.

Modelos masculinos que comercializam um fato de banho feminino? Este é o problema para muitos que acreditam que nesta tentativa de aproximação da marca à comunidade LGBTQI+ rasura-se a mulher! Dramático? Continuemos...

Não fosse a tolerância a melhor das religiões, prega-se que esta peça deveria estar numa secção LGBTQ+ para que as mulheres não sejam levadas ao engano. Faz-se ainda juras pela Internet para não voltar a comprar produtos Adidas sob forma de protesto. Há quem diga que tolerância não é sinónimo de aceitação e talvez seja um pouco disto que este fato de banho nos traz: tolero a ideia, mas não a aceito nestes contornos. Deixando os comentários de anónimos para trás, chegam também comentários de figuras públicas, nomeadamente de atletas, até porque não se esqueçam de que marca falamos, nem que há um atleta olímpico entre os rostos da campanha (Tom Daley), ou que a parceria, como já referimos, é com Athlete Ally.

 

"Não percebo porque as empresas estão voluntariamente a fazer isto a si mesmas. Podiam pelo menos ter dito que o fato é 'unissexo', mas não o fizeram porque se trata de uma tentativa de apagar as mulheres. Já se perguntaram por que razão dificilmente vemos isto acontecer no sentido contrário?", partilhou Riley Gaines, nadadora profissional e ativista dos direitos das mulheres, que ao falar das empresas, no plural, faz uma clara referência à estratégia de marketing que muitas marcas têm vindo a consolidar nos últimos tempos, muitas delas com companhas protagonizadas por rostos conhecidos e influencers da comunidade.

ARGUMENTO I

Já percebemos. Um homem em roupas de mulher.

ARGUMENTO II

Nos entretantos deste arrufo aceso na Internet, não sei se alguém teve tempo de reparar, mas o site também apresenta o fato de banho num modelo feminino plus size. O mesmo modelo, na secção de mulher, num corpo feminino. Ou será esta outra problemática de representatividade e talvez as mulheres dos XS’s comecem a arregaçar as mangas? 

Sem mais argumentos, encerramos a discussão e deixamos a pergunta inicial sem resposta.

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