Fotografia: Getty | Edição imagem: Vasco dos Santos
Controversa

ControVERSA. Balenciaga em perspetiva: o crime inocente de um monstro sedento

'Warner: Do not feed the beast'. Balenciaga, o bestial que também é besta.

Irreverência sem limites e criatividade por vezes indecente: a receita de sucesso da Balenciaga virou-se contra a marca, mas quem alimentou o monstro fomos nós.

Já sabíamos que a genialidade da marca espanhola se define dentro de um limite ténue entre a criatividade disruptiva e a provocação excessiva. Não parece medir meios para chegar aos seus fins e nós alimentamos este esforço, tantas vezes absurdo, que coloca uma marca de luxo nas bocas do mundo.

Aliás, o futuro de toda a espécie de arte parece encaminhar-se para um saciar de massas alheias ao real valor das coisas que se vendem pelo estapafúrdio e o desnexo. O mau gosto e o sem sentido não importam, se permanecermos naquela busca constante pelo que é “diferente” e extravagante a todo o custo. A arte da simplicidade deixou de ser prato apreciado e o descabido, sempre fácil caminho, é aquele que merece aplausos. E atenção que, de forma alguma, se retira o mérito de quem pensa para lá do óbvio ou é irreverente nas suas criações, como foi muitas vezes o caso da Balenciaga. Mas quando o óbvio é uma provocação fácil, não se entende a sua glória ou protagonismo. Evoluímos apenas porque o tempo passa e não porque ganhamos discernimento. Se é genialidade ou chamada de atenção, dá igual.

Ora depois de termos criado o monstrinho Balenciaga, dificilmente se doma a fera da indústria da moda. Felizmente, a perspetiva pessimista que aqui trouxe também tem os seus dias contados (assim esperemos). E a recente polémica é prova disto.

Pelo olhar meticuloso de um alguém neste mundo, fomos obrigados a ver para lá da irreverência e tomámos atenção à gravidade da recente campanha da marca, “Toy Stories”. Incitar a pornografia infantil - colocando crianças a posar com peluches e acessórios de bondage, num gesto de promoção a práticas sexuais de natureza sadomasoquista, e ao lado de documentos de um julgamento de pornografia infantil - são acusações sérias que não devem ser desconsideradas. Até porque a inocência da marca é aqui totalmente suspeita. Não há descuidos ou olhos cegos ao óbvio, quando se trata de uma campanha de milhares que é pensada, criada e revista por tanta gente. Quando nos tentam convencer do contrário, parece que nos passam um atestado de estupidez.

A revolta do público levou a que a marca se retratasse e eliminasse a campanha, emitindo um pedido de desculpas que não anula o processo de 25 milhões de dólares a que Balenciaga terá de responder. Ups.

“Pedimos imensa desculpa por qualquer ofensa que a nossa campanha possa ter causado […] As nossas malas de peluche não deveriam ter sido apresentadas com crianças nesta campanha. Retirámos imediatamente a campanha de todas as plataformas”, lê-se em comunicado.

Também o fotógrafo de renome Gabriele Galimberti, responsável pelas fotografias da campanha, se pronuncia: "Não estou em posição de comentar as escolhas de Balenciaga, mas devo salientar que não me coube, de forma alguma, escolher os produtos, nem os modelos, nem a combinação dos mesmos. Como fotógrafo, foi-me pedido única e exclusivamente que fotografasse e que tirasse as fotografias de acordo com o meu estilo. Como é habitual para uma sessão comercial, a direção da campanha e a escolha dos objetos expostos não estão nas mãos do fotógrafo."

E muitas celebridades viram-se obrigadas a comentar o assunto, nomeadamente, a embaixadora da Balenciaga Kim Kardashian, que, dado o escândalo, disse estar a “reavaliar” a sua parceria com a marca de moda.

Ainda assim, muitos são aqueles que perdoam a Balenciaga, apoiando-se no currículo criativo e essencial à indústria.

Mas uma marca com tanto palco e sede de espetáculo precisa do nosso olho crítico e não apenas de ovações. Por isso, por favor, não alimentem a besta.

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