Alessandro Michele Gucci
Coolhunting

Num mundo Balenciaga, o que será da Gucci sem Alessandro Michele?

A Gucci acaba de confirmar a saída do seu diretor criativo Alessandro Michele.

Nos meus tempos de Central Saint Martins, falava-se de Alexander McQueen. Havia um mundo McQueen, esse “romantic schizophrenic” como se apresentava. E, quem teve o privilégio de ver a exposição “Savage Beauty”, viu lá tudo: a criatividade arrojada expressa através da arte e técnica do seu design, a intensidade dramática dos seus desfiles de moda, as instalações de vanguarda (do holograma de Kate Moss ao robot que pintou um vestido ao vivo) e a forma como desafiou destemidamente as convenções da moda. Um designer raro entre os designers, que viu a roupa com todas as suas possibilidades concetuais e imaginativas.

E isto a propósito do artigo que acabo de ler na i-D, "It’s Balenciaga’s world and we’re all just living in it". Hoje, o mundo tem uma marca, Balenciaga. E a moda um nome, Demna. Das crocs à alta-costura, dos desfiles à mala saco de lixo, de Kim Kardashian a Kanye West – a Casa de moda francesa tornou-se a marca de luxo com maior notoriedade destes tempos estranhos, como se lê no artigo. E a genialidade do seu diretor criativo faz com que as mundanidades pareçam saídas de uma campanha de publicidade: seja despejar o lixo, apanhar um autocarro, andar com um saco azul no Ikea ou esmagar literalmente um iPhone.

Nos últimos sete anos, o designer nascido na Geórgia tem vindo a redesenhar o conceito de luxo contemporâneo, transformando ostensivamente objetos e conceitos banais em produtos provocantemente caros. "Between confusion and fascination lie the secrets to Balenciaga’s succes” leio no artigo. Das coleções aos desfiles, dos acessórios à própria arquitetura raw das lojas, a Balenciaga surge como uma espécie de espelho dos nossos tempos estranhamente fragmentados. Não é essa uma das missões desta indústria?

Dirão que não é para todos. E não é. Noutras mãos seria apenas ridículo. Mas, nas de Demna, está a “irreverência no ato”. No que faz. No que pensa. Como ele já referiu uma vez: “É para alguém que realmente ama a moda, não para as pessoas que têm tempo para debater a Met Gala durante horas”. Talvez seja o único na atualidade que consegue fazer de um porta-chaves da Torre Eiffel um must-have e a preço proibitivo. Nessa mistura artística de nostalgia Y2K, futurismo e elevação de símbolos quotidianos, no que toca mostra o que pode significar a moda atualmente. É provavelmente o designer mais abrangente na moda, que reflete sobre o mundo em todos os seus absurdos, com ironia e sinceridade. Quer se goste ou não, somos obrigados a concordar com o artigo, o mundo é Balenciaga.

E o que será do mundo da moda sem Alessandro Michele na Gucci? A notícia da saída do diretor criativo da marca italiana foi avançada pela Women’s Wear Daily (WWD), citando uma fonte próxima, e hoje o Grupo Kering confirmou essa saída, mas sem anunciar quem o irá substituir.

No comunicado agradecem a sua inovação e criatividade e o CEO Marco Bizzarri acrescenta: "Tive a felicidade de ter a oportunidade de conhecer o Alessandro no final de 2014, e desde então, tivemos o prazer de trabalhar muito próximos e alcançar na Gucci o sucesso que a marca teve nestes últimos anos".

 Desde 2015 como o grande criativo da Casa, a sua saída significa o fim de uma era para a Gucci, a marca mais importante do Grupo de luxo francês Kering. À sua maneira, é também um dos designers mais influentes da atualidade. Nos últimos sete anos, conseguiu renovar a marca com sucesso, com um novo estilo arrojado, extravagante e muitas vezes sem género.

Há momentos em que os caminhos já não se cruzam devido a diferentes perspetivas que cada um pode ter. Hoje termina para mim uma experiência extraordinária, numa Casa onde estive 20 anos e a que dediquei todo o meu amor e criatividade. Durante este tempo, a Gucci foi a minha casa, a minha família adotiva" diz no mesmo comunicado Alessando Michele.

 

O italiano de 49 anos, antes de assumir o cargo na Gucci, era designer de acessórios, e, ao lado do CEO Marco Bizzarri, é responsável pelo período de crescimento do negócio entre 2015 e 2019. Os lucros aumentaram quase quatro vezes e as receitas quase triplicaram. Com os últimos números a não conquistarem os acionistas, a saída parecia já anunciada.

Gourmet

Oven: a Índia e o Nepal juntos, numa mesa requintada

Neste restaurante em Lisboa, o forno tandoor é o protagonista. Descobrimos a Índia e o Nepal à mesa e convidamos-te para a viagem.

Coolhunting