Assim que saiu do primeiro lockdown devido à Covid-19, a China registou uma febre de compras de produtos de luxo a que tradicionalmente se chama "revenge buying”, ou seja, vingamo-nos em compras por todo o tempo que estivemos impedidos de ir às lojas e gastamos dinheiro. Mas com os sucessivos isolamentos em diferentes cidades e os impedimentos de viajar mesmo internamente, o país está a viver um cenário completamente diferente a que os especialistas já chamam de “panic selling”, isto é, em vez de vermos os consumidores em filas à porta da Hermès, hoje estão numa corrida desenfreada para vender as suas malas icónicas.
São cada vez mais os chamados "high-net-worth individuals”, os chineses com mais de um milhão de dólares de património líquido que estão a vender os seus bens de luxo em segunda mão, principalmente relógios da Rolex e malas Hermès, para um encaixe rápido de dinheiro. Mas a pressa tem estado a gerar maus negócios, por exemplo, o valor de um Rolex Submariner em segunda mão caiu 46% e as famosas Hermès Birkin, consideradas até agora um investimento melhor do que em ouro, viram o seu valor baixar em 20% no mercado pre-loved.
Até aqui considerado um mercado à prova de crises, a verdade é que o luxo está a mudar e a recessão que já bate à porta da China está a tornar os consumidores mais cautelosos e, em vez de gastarem, preferem ter o dinheiro no bolso. Acresce que a estratégia por parte das grandes casas de luxo de aumento dos preços numa lógica de posicionamento de produtos exclusivos, também desacelerou a compra e trouxe debates para as redes sociais com tópicos como “desde quando a Prada se tornou tão cara?”.
O alerta vem da China, um dos mercados mais importantes em matérias de luxo, e os players internacionais devem estar também atentos ao decréscimo do valor dos produtos em segunda mão, até aqui um investimento à prova da recessão. Com um consumidor mais racional, aguarda-se pelas estratégias das marcas para seduzir e conquistar o coração dos clientes.