As irmãs Inês e Marta Fonseca, fundadoras da Latitid.
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10 anos, 10 ícones, a Latitid soma e segue

Uma das mais firmadas marcas de biquínis e fatos de banho de qualidade made in Portugal faz 10 anos. Agora a Latitid não só relança os seus 10 modelos mais icónicos, como uma nova bela coleção chamada Riviera. Fomos conversar com as irmãs Marta e Inês Fonseca, que fundaram a marca.

Inês e Marta recebem-nos, de manhã, na sua loja na Embaixada, no Príncipe Real, ainda de portas fechadas. Sentamo-nos no átrio de tetos muito altos onde sobressaem os pormenores de influência neoárabe daquele palácio construído no século XIX.

Marta tirou design de moda e participou “nuns concursos”, entre eles um da Triumph para fazer um soutien, e não só ganhou por cá, como ficou no top 10 internacionalmente. E assim começou a desenhar swimwear, “não havia nada ou havia pouca coisa e eram só marcas brasileiras”, diz-nos. Foi tirar o mestrado a Barcelona e começou a fazer os seus próprios fatos de banho, cobiçados pelas amigas. A Inês estava no marketing do Millenium e agarrou “a oportunidade de criar um negócio próprio, uma marca portuguesa, era uma coisa que gostava de fazer”, diz-nos.  A terceira sócia, a Fernanda, era quem tinha o contacto com as fábricas, então juntaram-se e desenharam “milhares de modelos e fomos perceber o que poderia funcionar.”

Estávamos em 2012, a marca é lançada em 2013, “com um showroom na Rua Garrett e um site muito precário”, depois abriram um no Porto, na Rua da Luz.  A primeira loja foi um charriot de três metros e um provador que ocupavam uma parede aqui mesmo na Embaixada, e que um dia se tornou numa loja. “Gostamos muito do sítio e gostamos muito do espaço”, onde passam, naturalmente, muitos turistas.

Em 2017 abrem a loja do Porto, na mesma rua do showroom e há quatro anos que têm uma pop up store na Comporta durante os meses de Verão, e o site da marca já é o terceiro feito de raiz. Hoje já vendem acessórios, roupa de praia, modelos para crianças, e não parecem parar de crescer. Vão lançar uma nova linha em setembro, mas ainda não quiseram revelar nada, e já aí anda um livro que celebra esta década de inspirações, viagens, vida. Fomos saber mais coisas:

Do que sentiam falta, no mercado, há 10 anos?

Marta: Havia mais biquínis do que fatos de banho, os que haviam eram muito clássicos, não havia modelos mais jovens. A Latitid começou a ser conhecida pelos fatos de banho, foi o elemento mais diferenciador, quando lançámos a coleção. Agora reparamos que há mais saída de biquínis do que de fatos de banho, mas sentimos que as pessoas ainda nos procuram muito pelos fatos de banho, porque somos fortes nesse ramo. Agora o consumidor está mais consciente, há mais marcas, o que é bom porque está mais atento, mas era mais fácil fazer coisas diferenciadoras, hoje há muita coisa. Penso que dantes compravam por ser diferente, agora muito por ser aquela marca também.

No que se quiseram distinguir?

Marta: Ter uma imagem mais ligada à moda, e qualidade no design, muito importante, desde o início, e do fitting

Inês:… e a variedade, temos muitos modelos, vários tipos de cortes para muitos tipos de pessoas, temos clientes de 15 anos até aos 70, quando entram aqui encontram biquínis e fatos de banho que se adequam a vários tipos de pessoas. E para várias situações: preciso de um biquíni mais tapado para também fazer desporto com ele, nós temos; quero lacinhos para poder dar de mamar, nós temos ou quero disfarçar não sei o quê, nós temos.

Marta: E em todas as coleções nos inspiramos numa latitude diferente, e é assim desde o início, num país ou numa cidade, onde vamos buscar inspiração. E pode ser um pormenor cosmopolita, a cultura de uma cidade, uma textura, cores, cortes, padrões, é uma marca que se tem mantido coerente desde o início.

E porque procuram inspirar-se em cidades e nessa ideia de viagem?

Marta: Eu normalmente para criar preciso de ter sempre um conceito base, e adoro viajar, cada sítio conta uma história. E uma das coisas de que mais gosto quando estou a desenhar, é começar logo a pensar em como é que isto pode ser fotografado, o que é muito desafiante: como é que fotografamos em Portugal para que pareça aquele sitio? Há um potencial gigante.

Vocês têm feito muito mais do que biquínis e fatos de banho…

Inês: Temos apostado muito nos acessórios também. O estrangeiro, então, chega muitas vezes a Lisboa e não tem a toalha, o saco de praia.  Mas também para se alargar e ser uma marca de swimwear como um todo. E a aposta também nos mais pequeninos, porque se as mães gostam da marca depois querem comprar para os filhos também.

Ao longo destes 10 anos, foram relançando os vossos clássicos. Porquê?

Marta: Sim, exatamente, porque nos pediam: “Ahh, havia aquele modelo e nunca mais fizeram”. As pessoas estavam sempre a perguntar, e isso mostra a coerência da marca. Um modelo nosso de 2013 é super atual, porque nós também sempre tivemos muito à frente. Por exemplo, fomos das primeiras marcas a ter tops escolhidos, isso não existia, e marcou a Latitid durante estes 10 anos. E, lá está, quisemos comemorar os nossos 10 anos com os 10 modelos que consideramos ser os icónicos da marca, por motivos diferentes, um porque foi o nosso primeiro modelo subido, outro porque vendeu muito…

Inês:… outros esgotam pela cor, são certos modelos, mas temos sempre de pensar o porquê de voltar a fazê-lo.

Dizem ser uma marca “para mulheres irreverentes, com atitudes individuais, cosmopolitas” que estão “ligadas a cultura, arte e modernidade”. Como é que se transformam isto em design?

Inês: Primeiro que tudo, através dos prints, não é?...

Marta:… sim, muitas vezes, mas antes de tudo através do design das próprias peças. Mas, o biquíni tem de ser confortável, acho que é o ponto principal. A peça pode ser muito irreverente, mas se não for confortável ninguém a vai querer usar. O lado irreverente vem do print ou do corte, é o que queremos manter e no que queremos evoluir. Claro que uns que são mais moda e outros são mais clássicos, mas em cada coleção tentamos ter um pouco de tudo, nem sempre é fácil, porque as pessoas estão a pedir modelos mais simples, mas que sejam diferentes! (risos) Mas procuramos sempre desenhar sobre o feedback das clientes. 

Inês: Por exemplo, agora os lacinhos voltaram, que era uma coisa que tinha desaparecido.

E vocês desenham para todo o tipo de corpos.

Marta: Sim, e fazemos os fittings em todos os corpos, do S ao L, e só avançamos quando está tudo ok, temos atenção a certos pormenores, nós também somos mulheres, sabemos como nos sentimos mais confortáveis.

Podem dizer que estes 10 anos têm sido um sucesso?

Inês: Têm corrido muito bem. E os melhores anos foram os da pandemia, por incrível que pareça… As pessoas estavam em casa, não tinham onde gastar, e sabiam que podiam ter praia e férias, e era o que tinham, não viajavam, não tinham casamentos nem festas…

Marta: Sim, estávamos em pânico, quando a pandemia chegou ainda não tínhamos a colecção, tivemos de mudar o conceito todo da campanha. Na altura a inspiração era LA, a terra dos sonhos, até calhou super bem, então aquela coleção era como se fosse um escape, as pessoas podiam viajar nos seus sonhos - na tua própria cabeça podes fazer o que quiseres. Então vendemos um sonho e a esperança que ainda ia haver verão e praia e tudo o mais.

Inês: Depois, em 2021 correu super bem, foi o melhor ano.

Marta: Foi o primeiro ano em que não escolhemos um destino, o destino foi you, inspirámo-nos nas mulheres que estavam à nossa volta. No fundo, não fomos a lado nenhum, por isso o ponto de partida era o ponto zero.

Inês: Fizemos uma live, as pessoas estavam em casa, aproximamo-nos imenso das clientes, foi muito giro e foi um ano de record de vendas absoluto, ninguém esperava.

É uma prova de que são uma marca já bem firmada no mercado, e têm sucesso online porque as pessoas já conhecem os vossos modelos. Mal comparado já não precisamos de experimentar umas Levi’s 501, não precisamos desse contacto com a loja, porque já há uma ligação afectiva com a marca.

Inês: Sim, sentimos imenso isso, foi espetacular. Agora preocupam-nos a falta de matérias-primas, exigências de produção, problemas da pandemia que estamos a sentir agora. Nós e todas as marcas. 

As peças são todas feitas cá, alguns tecidos vêm de Itália e de Espanha, mas as colecções são produzidas cá. Quiseram que assim fosse desde início?

Marta: Ai sim, claro, nem nunca pensei noutra coisa, a marca tinha de ser made in Portugal. Para já temos das melhores empresas de confecção da Europa, as pessoas não têm a noção da quantidade de marcas e designers estrangeiros que produzem cá em Portugal. No início, até foi um problema, as fábricas quase só trabalhavam para exportação, não para o mercado interno, foi difícil abrir a cabeça das pessoas… mas era impensável não fazer tudo cá, mesmo a roupa de praia, temos tecidos e malhas óptimos, só não temos tanto a parte técnica em swimwear

Planos, não digo para os próximos 10 anos, mas para os próximos anos?

Inês: Gostava muito de ter uma nova loja em Lisboa e readaptar esta loja. No Porto também, queríamos uma loja maior. O mercado nacional está conquistado, é começar a vender mais para fora, pelo site, o que não é propriamente fácil. E também começámos a vender em hotéis, aqui no Ritz e vamos vender no Vila Lara e no Vilamonte, no Algarve. Temos clientes que viajam todos os anos para Portugal, compram-nos aqui e depois online.

Marta: Imensos americanos, e os franceses que vivem cá.

Desde miúda que tenho esta ideia, eu e a minha irmã, de que os fatos de banho e os biquínis nunca são demais. Como os jeans ou outros clássicos. Sentem que é assim ou é uma coisa muito portuguesa porque vivemos ao lado da praia?

Inês: É, é dos portugueses, sim. Os espanhóis já se nota, mas nós fazemos muito mais praia, o português continua a apanhar sol loucamente, temos clientes que nos compram três, quatro por ano. A moda praia em Portugal é muito forte, também muito pela influência da cultura brasileira. E já temos clientes a comprar fatos de banho para ir para o Brasil, o que é uma coisa engraçada.

Marta: É manter uma coerência de design e de imagem, como temos feito. No ideal, ter sempre uma linha básica e uma coleção nova, mais pequena. É o futuro, e é uma marca sustentável, acima de tudo. E temos uma coisa boa, é um produto que dura muito tempo se as pessoas o tratarem bem. Queremos afastar-nos cada vez mais do fast fashion. A mentalidade do consumidor já está a mudar, mas as pessoas ainda não estão cansadas da novidade.

Inês: Criar os icónicos foi pegar nos nossos básicos, era um pouco isso que queríamos incutir nas pessoas: estão aqui o ano todo e nas cores base. Os estrangeiros gostam muito, são os que vestem bem, com que as pessoas se sentem confortáveis… E também queremos que nos reconheçam: aquele fato de banho é Latitid. 

Também a nível de responsabilidade social têm dado alguns passos. Durante a pandemia associaram-se à liga contra a fome, disponibilizando pontos de recolha de alimentos nas vossas lojas, desenvolveram também um chapéu cujas vendas revertiam para ajuda do cancro de mama, e a sustentabilidade, sempre.

Marta: Sim, tudo isso. Os nossos sapatos são feitos com fio reciclado, as toalhas com algodão orgânico. Tudo feito em Portugal, até para diminuir a pegada.

Inês: Uma francesa entrou na loja e perguntou onde estavam os produtos sustentáveis, só quero se forem sustentáveis. Achei imensa graça: isto está a mudar.

 

 

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