Continua a ser um tópico pouco consensual, a nível social, cultural e mesmo dentro da comunidade científica. Se por um lado existem estudos que comprovam os benefícios terapêuticos da canábis, outros tantos preocupam-se com os efeitos do consumo a longo prazo.
Mas aqui não tratamos de questões médicas, apenas refletimos sobre um recente artigo da Highsnobiety, que nos leva a traçar uma analogia curiosa entre o mercado de luxo e a canábis. Do tipo diz-me o que fumas e dir-te-ei a que classe social pertences (talvez com uma exposição menos controversa).
Claro que falar sobre o mercado da canábis nos Estados Unidos, onde a legalização da marijuana para fins recreativos tem vindo a aumentar, em nada se compara com o mercado português. Em Portugal, o uso da canábis apenas para fins terapêuticos foi legalizado em 2018 e regulamentado em 2019 e, como atentou O Jornal Económico num artigo em 2022, o nosso país até que apresenta excelentes condições geográficas e climáticas para se tornar num hub europeu. Ainda assim, os americanos levam a vantagem económica e, acima de tudo, atribuem um certo status quo aos consumidores.
“Com uma entrada de cerca de 33 mil milhões de dólares por ano, a cannabis transporta o mesmo volume que a indústria de relógios de luxo. Apesar de crescer mais rapidamente à medida que a legalização se espalha pelos Estados Unidos, a falta de regulamentação torna difícil definir um padrão de qualidade”, escreve a Highsnobiety.
E é por isso que os especialistas da área que elevam a planta a uma marca "exótica" ou de "topo de gama" são mais procurados, já que garantem essa qualidade. Ganham assim terreno neste mercado e transformam o charro num objeto de desejo. E não é isso luxo? Basta olhar para uma das lojas mais sofisticadas de venda de canábis, a MedMen, uma empresa de marijuana medicinal, localizada na Fifth Avenue, em Los Angeles, conhecida como a “Apple Store do Canabis". E antes do fim da Barneys, em Beverly Hills, chegámos a ver prateleiras com sapatos Burberry e Louboutins ao lado da loja High End, que vendia os artigos de fumo mais luxuosos de sempre.
Mas nem precisamos de contar com a tecnologia e a sofisticação deste mercado para falarmos do status quo desta planta. Para isto, contribuem várias celebridades, como rappers e outros músicos, cantores, atores e até atletas.
Artistas como Jay-Z, Snoop Dog, Britney Spears, Seth Rogen ou a estrela de NBA Al Harrington são algumas das celebridades que já defenderam o uso de canábis, muitos deles até investem neste mercado em crescimento, como é o caso de Justin Bieber ou de Beyoncé. E outros tantos, de forma mais ou menos provocativa, fumam nas redes sociais ou em paco, como é o caso de Miley Cirus ou Rihanna, quase como um statement de estilo ou só de lifestyle.
Esta cultura “fixe” da canábis, se assim a podemos chamar, conduz a uma maior procura e consequentemente maior valor. Mal comparado, lembram-se de quando víamos as primeiras imagens de celebridades a fumarem um cigarro?
Na altura, o tabaco parecia ganhar um estatuto de qualquer coisa exótica, quase como assumindo a forma absoluta de sex appeal. Ora o canábis tem-se revelado um objeto de desejo, sexy e rebelde, quer gostemos ou não da ideia.
Longe vão os dias em que fumar um charro era uma coisa de junkie, agora é qualquer coisa com swag e outros tantos bling bling.