Sapatos homem
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Senhores, dêem-me uma boa razão para não calçarem sapatos portugueses

A VERSA esteve na MICAM, em Milão, a mais importante feira de calçado e onde se apresentam as grandes novidades do setor.

Há quem tenha essa estranha mania de associar sempre a compra de sapatos a um dos grandes prazeres femininos. A ideia de que nós, mulheres, pensamos sempre quantos mais, melhor. E é tudo verdade. Mas é precisamente por isso que hoje dedico toda a atenção aos homens. Por vocês, senhores, corri os vários pavilhões da MICAM (repito: fiz mesmo muitos quilómetros por vocês) para conhecer as propostas de algumas marcas nacionais focadas no segmento masculino, e tentar resposta a uma simples questão: por que não compram e não usam mais calçado made in Portugal? E se vos disser que é "a indústria mais sexy da Europa"?

Já lá vai o tempo, (mesmo!) em que Portugal produzia sapatos com um design pouco “sexy” para homem. É verdade que continuamos a ser um país reconhecido por produzir um bom par de sapatos clássico em pele, um posicionamento estratégico para o setor nos mercados internacionais, mas até alguns clássicos surgem hoje mais irreverentes. E há depois marcas novas com propostas jovens, descontraídas, com ténis, por exemplo, com design contemporâneo e até materiais inovadores.

A Profession Bottier, que nasceu dentro da empresa Ferreira Avelar com 75 anos de experiência no setor do calçado, é uma daquelas marcas com que vos vejo a passear facilmente por aí. Se calça homens da Europa ao Japão, também seria uma marca interessante de ver a pisar a calçada portuguesa. “A nossa génese é um produto mais clássico, mas hoje temos também calçado mais casual. Estamos sempre a olhar para o mercado e a seguir as tendências, a trabalhar com materiais nobres, com a ergonomia muito estudada e com muita inovação” explica Eduardo Avelar, gerente da Profession Bottier. “Não parámos no tempo” acrescenta.

Se fizermos “Escape Shift Control” temos um shortcut para a entrada no universo da ESC, uma jovem marca portuguesa “alternativa, com inovação nas cores e nas linhas, mas que mantém a tradição do setor ao trabalhar com pele genuína. Acompanhamos os interesses globais e temas como a sustentabilidade. Temos, por exemplo, um modelo vegan” explica à VERSA Vânia Nobre, designer da marca.

É um dos raros casos que vende apenas os seus produtos em Portugal, online e em lojas próprias como no Porto ou em Lisboa. E quando lhe coloco “A QUESTÃO”, diz-nos: “O artigo nacional já é confortável, acho que se apostarmos sempre em sapatos confortáveis e de boa qualidade, conquistamos mais homens portugueses”.

E chegamos a outra “QUESTÃO”: o fator preço. “O homem português sabe bem que o handmade in Portugal é sinónimo de qualidade, até as grandes marcas internacionais identificam-nos como um bom fornecedor, mas o peso na decisão de comprar para a média dos portugueses é o fator preço. Acredito que haja necessidade de trabalhar o preço para o mercado nacional, porque acabam por comprar produtos mais baratos, não produzidos em Portugal” explica Susana Nogueira, diretora comercial da Campobello.

Uma marca fiel ao conceito de qualidade e tradição da marca mãe, a Cruz D Pedra, fundada em 1945, mas com uma abordagem mais urbana e apostada a trabalhar novos conceitos como o sem género. “A indústria em Portugal de sapatos é de valor acrescentado e de economia circular, nós temos como política reutilizar, restaurar um bom sapato de pele” acrescenta.

E a verdade é que quem tem um poder de compra mais alto muitas vezes vai atrás dos grandes nomes internacionais, muitos deles que escolhem Portugal para produzir os seus sapatos. Ironias. O poder do branding. E também a vocação tradicional do setor.

“Portugal exporta mais de 95% da sua produção. Atualmente, o calçado português chega a 173 países, Burindi e Belize são as últimas conquistas. Portugal é um mercado importante, mas apenas mais um mercado. Para um setor com esta dimensão, a abordagem teria sempre de passar pelos mercados externos. No segmento masculino, Portugal terá sempre os seus sapatos do mundo, mas o público português, tradicionalmente muito conservador, começa agora a descobrir a sua indústria de calçado” explica Paulo Gonçalves, responsável pela área de comunicação e marketing internacional da APICCAPS (associação dos Industriais de Calçado).

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