Nos últimos três quatro anos, o diretor criativo da Balenciaga, Demna, trouxe algumas das criações mais provocadoras, e de uma criatividade sem limites, que marcavam o futuro de uma Casa de luxo alimentada de expectativas irreverentes que, muito além da moda, queria defender um ideal, um estado de espírito.
Esta estética louca e genial começou a seguir o mote do estapafúrdio e é quando é lançada a perversa campanha para a primavera 2023, na qual se colocou crianças a posar com peluches e acessórios de bondage, num gesto de promoção a práticas sexuais de natureza sadomasoquista e de “incentivo à pedofilia”, que a Balenciaga parece ver os seus dias de glória contados. Nesse momento, tudo quanto Demna tinha trazido de bom para a indústria tinha de ser forçosamente esquecido.
Para muitos, o diretor artístico da marca espanhola não soube lidar com os acontecimentos polémicos e chutou a culpa da decisão criativa para canto. Por isso, restava-nos esperar pela coleção outono/inverno 23'24, apresentada na Semana da Moda de Paris, para vermos recuperada a ousadia da Casa de luxo. Queria-se recordar os gloriosos dias de uma criatividade disruptiva e audaz.
As expectativas eram altas e há duas leituras possíveis desta apresentação:
Por um lado, a visão de uma apresentação monótona e um pouco desenxabida, que não parece fazer juz à ousadia da marca e que nos mostra um Demna mais contido, é tese que serve de crítica para muitos.
Por outro lado, Demna, através de uma folha em branco (o cenário do desfile, de uma froma literal), pede para ser julgado apenas pela sua génese, o design na sua forma mais crua, sem artefactos e sem afrontas. Inspirou-se na sua infância e mostrou-se vulnerável. E não é este um bold move?