Fotografia: Getty | Edição: Vasco dos Santos
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Envolta em polémica, Shein domina o mercado – e os tontos somos nós

O tempo é dos espertos e dizem que até traz sabedoria. A Shein comprova a primeira premissa, mas o nosso bom senso tarda a chegar.

Depois de todas as polémicas sobre as quais assenta o modelo de negócio da Shein, foi sem remorsos ou lamentações que tornámos a grande chinesa na marca de moda mais popular em 2022 (e, muito provavelmente, receberá o mesmo troféu no próximo ano).

Shein foi a marca mais pesquisada no Google em 113 países, dando uma valente coça à Zara, à Adidas e até à Nike, segundo um levantamento da Money. Este sucesso estrondoso claro que se revê no enriquecimento significativo da marca, o que deixa a indústria desanimada, mas não só - as repercussões deste plano (maléfico) de dominar o mundo da moda vão bem mais além.

É difícil sugerir que este êxito se deva a um consumidor desinformado, tendo em conta todo o histórico da marca que nos últimos tempos fez correr tinta na imprensa até mais não. Fomos tão bombardeados com informações sobre a má conduta da gigante chinesa que é estranho não sabermos o que estávamos a fazer, enquanto somávamos peças ao carrinho online. Ainda assim, vamos recapitular as polémicas e pesar a consciência?

Maus-tratos aos trabalhadores e uma produção com impacto ambiental devastador que chega a prejudicar a saúde de quem produz, distribui e usa as peças. Este é apenas o resumo de um histórico com muitas páginas que fica bem mais feio à medida que avançamos.

Uma reportagem levada a cabo pela Bloomberg mostrou que as roupas eram feitas a partir de algodão e outros produtos provenientes de Xinjang, os mesmos que estão proibidos de serem importados pelas autoridades federais dos Estados Unidos, já que esta é uma região conhecida pelas terríveis condições de trabalho (inclusive, trabalho forçado) da população, predominantemente muçulmana.

Pensávamos que estávamos no caminho para uma era em que a sustentabilidade passava a ser mote para uma das indústrias mais poluentes, mas, afinal, não. A Shein produz, diariamente, uma quantidade de peças que perfaz milhões de toneladas de dióxido de carbono, com químicos perigosos que estão a inundar os mercados europeus. É a Greenpeace quem denuncia este atentado e, num relatório apresentado pela divisão alemã da organização ambientalista internacional, consta que, dos 47 produtos da Shein testados em laboratório, 7 “continham químicos perigosos que violam os limites estabelecidos pelos regulamentos da União Europeia”. Estamos a falar, por exemplo, dos químicos ftalato e formaldeído, encontrados em sapatos e num vestido para crianças, respetivamente.

“Descobriu-se que a empresa, sediada em Nanjig, na China, está a violar os regulamentos ambientais da UE sobre químicos e a pôr em risco a saúde dos consumidores, dos fornecedores e dos trabalhadores que fazem os produtos”, assinala a Greenpeace.

Claro que a Shein foi-se manifestando no desenrolar destas polémicas e prometeu algumas melhorias em matéria ambiental. Quanto aos produtos provenientes de trabalhos precários, preferiu não confirmar o seu uso, mas não contestou os resultados dos testes. A chave do sucesso não é então nenhum segredo, é apenas uma esperteza óbvia e nada bonita.

Quando os espertos só veem lucro e os tontos só veem preços baixos, eles ganham e nós só temos a perder.

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