Não será um exagero se dissermos que a vida de Diza Campino poderia servir de argumento a um filme ou à próxima série da Netflix. Com um percurso profissional nas mais variadas áreas, que a levaram a viajar pelos quatro cantos do mundo, tudo começou com uma carreira no exército, quando se alistou aos 20 anos.
Foi aí que conseguiu prosseguir os estudos universitários, interrompidos aos 17 anos, altura em que foi mãe. Acabou por se formar em Artes Plásticas, História da Arte e Mercados de Arte, o que a levou a fazer um estágio profissional no Museu Britânico, em Londres, onde trabalhou como catalogadora.
“Desenvolvi experiência profissional em gravura e descobri a paixão pelo desenho”. Mas eis que uma nova mudança de vida a leva a Itália, para acompanhar de perto a família de um sheik da Arábia Saudita. “Fui contactada por uma agência de recrutamento de Londres, que procurava alguém com um background militar para acompanhar de perto a educação da filha do sheik e o meu perfil encaixava na perfeição”.
Depois de uma entrevista na Sardenha, ficou a trabalhar em Itália, mas passava a vida em viagens pela Arábia Saudita, Dubai, França, Suíça ou Inglaterra, já que acompanhava as deslocações da família do sheik, que ficava 2 a 3 meses em cada destino.
“Foi uma experiência única e um grande choque emocional. Quando pensamos que já sabemos tudo, começamos a valorizar ainda mais o que temos. Lidei diretamente com uma família e estava longe do meu filho, que só via de mês a mês, mas posso dizer que era mais próxima dele do que a relação entre a mãe e a filha para quem trabalhava. Foi um grande ensinamento e passei a valorizar o dia a dia com o meu filho”.
De regresso a Portugal, começou a trabalhar em 2017 no ISCTE, onde foi diretora de marketing da Business School. “Quem está no mundo das artes percebe que tem de se moldar às situações da vida, ser proativo e gostar de aprender. O que me fazia feliz em cada profissão diferente era aprender em cada uma das áreas”.
Até que surgiu o convite para fundar o departamento de marketing numa multinacional, o que lhe permitia ficar perto do filho. “Fiz o rebranding da empresa, na área da indústria plástica, implementei muitas novidades, mas comecei a acumular várias funções para as quais não tinha sido contratada”.
E tudo mudou com o Covid
O excesso de trabalho levou-a a sair do projeto e é nessa altura que o mundo entra em confinamento devido ao Covid. “Apesar de todos os projetos em que estive envolvida, nunca abandonei o trabalho na área da fotografia. Fazia vários casamentos e batizados desde 2015, mas com a pandemia perdi muitos desses trabalhos e estava cansada de fazer os outros brilhar, de criar marcas para terceiros”.
É aí que resolve criar o seu próprio projeto. “Queria algo inovador e comecei a desenhar à mão, diretamente em tecidos ecológicos, 100% em linho e algodão, que transformava em bolsas, malas e quadros”. O projeto começou a evoluir, o que fez com que quisesse dar mais um passo em frente. “Quando temos uma grande crença de que tudo vai dar certo, conseguimos gerir a agenda. Isto porque, nesta altura, trabalhava em simultâneo para outras empresas”.
É então que tem a ideia de reunir todas as valências num só projeto, tanto o marketing, como o design, a fotografia e uma componente holística, outro dos seus grandes desafios.
“Estava habituada a desenvolver marcas e projetos para outros, mas desta vez contactei várias empresas que desafiei para criarem a minha marca”. A resposta surpreendeu-a. “Disseram-me para desistir da ideia, era tudo muito confuso e não havia um fio condutor”.
Do caos a um atelier muito especial
Longe de se dar por vencida, Diza arregaçou mais uma vez as mangas e criou a sua própria marca – Diza Campino – onde, além dos tecidos, começou a criar brincos de madeira. “Disseram-me que o projeto era confuso, mas em vez de o simplificar, ainda acrescentei mais novidades”.
Os brincos foram um sucesso graças a uma componente holística. “Cada brinco tem um símbolo, uma iconografia e um significado, que estudo graças ao meu background de história da arte. Quem compra os brincos tem acesso a essa mensagem complementar”.
Foi graças ao impacto que o seu trabalho começou a ter nas pessoas à sua volta que decidiu procurar lojas em Leiria, na zona onde vivia, mas quis o destino que encontrasse o local perfeito em Pombal. “Já andava a desenhar esta loja há dois anos, em desenho 3D, até que encontrei este espaço que era tudo o que precisava para juntar todas as valências que desenvolvi”.
Inaugurada em maio, a loja reúne os serviços de Diza Campino, bem como as suas criações artesanais, que vão desde brincos feitos com farinha, amêndoas ou tisanas, até infusões orgânicas artesanais, velas com vários aromas feitas com 100% soja natural e cerâmicas feitas à mão numa olaria portuguesa. “Todos os meus produtos são ecológicos, uso a matéria-prima para as minhas criações”.
No atelier, além de ter instalado o seu estúdio de fotografia, ainda disponibiliza um espaço de leitura gratuita para quem quiser relaxar enquanto bebe um cappuccino sem lactose e prova um waffle sem glúten.
Diza Campino são várias vidas ao mesmo tempo. Não dizíamos que a sua vida dava um filme ou uma série da Netflix?