Reprodução videoclipe "Anti-Hero", de Taylor Swift
Controversa

ControVERSA. Taylor Swift, fazemos “delete” à cultura de cancelamento

Vamos iniciar sessão na mais recente controversa. Feito o download de "Anti-Hero", o novo hit de Taylor Swift, descobrimos que o vilão somos nós.

No mundo virtual, acionamos o comando Ctrl+Alt+Delete e eliminamos o que está a causar prolemas. Imaginemos agora este mesmo mecanismo no mundo real, onde seria possível fazer o delete de quase tudo. Um facilitismo que tem tanto de atrativo e de poderoso, como de perigoso. Com um clique apenas, podemos censurar a posição, a opinião, a influência e até a expressão artística de alguém. Esta definição, ainda que parca, ilustra aquilo a que hoje chamamos de “cultura do cancelamento”. Trazemos este tema por meio de Taylor Swift, ainda que o “cancelamento” de que aqui falamos não seja direcionado a esta celebridade, mas, sim, à sua vulnerabilidade. Por sorte, houve um retroceder nesta janela de julgamento.

"Anti-Hero" é o mais recente tema da cantora, inserido no álbum "Midnights", que - diga-se de passagem - se tornou num dos maiores sucessos de sempre da plataforma Spotify. Assim que o tema foi lançado, o número de visualizações disparou e os fãs renderam-se de imediato. O single relata as inseguranças com que a artista se debate, numa viagem ao “cenário dos pesadelos e pensamentos mais intrusivos” de Taylor Swift. Mas ainda que a música tenha sido manifestamente bem-sucedida, parece que o videoclipe da mesma acabou deturpado e censurado. A artista teve de eliminar uma cena do novo videoclipe, na qual surgia sobre uma balança que mostrava, em letras garrafais, a palavra "FAT" (“Gorda”, na tradução).

Nos dias que correm, por culpa da Internet e do acesso rápido e bastante frívolo à informação – ou seja, dessas coisas todas que contribuem substancialmente para a evolução da humanidade, mas que destroem o humanismo - ficámos bastante permeáveis à critica gratuita, ao boicote e ao xingamento público. O que sai prejudicado? As lutas basilares da sociedade, essas que rapidamente aligeiramos com comentários descontextualizados e desinformados. Racismo, Xenofobia, Bullying, Homofobia (e tantas outras fobias) perdem, assim, lugar no contexto.

Voltando, então, à cena eliminada do videoclipe, é importante lembrar que complexos de imagem, autoestima e transtornos alimentares não escolhem peso ou “padrões estéticos”. Por isso, seria de imaginar que a vulnerabilidade e crueza do processo criativo de "Anti-Hero" não fosse motivo de tanta critica: “Gordofobia” foi um dos rótulos atribuídos à imagem que servia para passar a ideia de um pensamento destrutivo e recorrente na vida de Taylor Swift. Mas, visto que a artista é considerada magra e encaixa assim nos ditos “padrões de beleza”, é-lhe vedado o direito de sofrer um transtorno ou insegurança, como se tal fosse sequer uma escolha.

Cancelamos a vulnerabilidade da artista e acusamo-la de coisas graves. Mas quem não tem o direito à condenação desmesurada somos nós, os vilões de uma “cultura de cancelamento”.

Para reiniciarmos o tema, sugiro arrastar a tolerância para a “pasta de favoritos” e fazer um “delete” à censura.

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