Auake. Soraia, fundadora e ceramista, e Clément, co-sócio e diretor criativo | Fotografia: D.R.
Design e Artes

A cerâmica Auake surgiu de um "verdadeiro amor à primeira vista" em Paris

Na rubrica diVERSA damos a conhecer a marca portuguesa Auake, criada por Soraia e Clément. Um amor à primeira vista uniu-os, assim como os une o amor pela cerâmica.

A cerâmica está enraizada na cultura de Portugal e desde há muito presente na casa dos portugueses nas mais variadas formas e feitios. A tradição hoje convive com o design contemporâneo e até é motivo de encontros em workshops

Alguns desses workshops têm lugar perto da Praia Grande (Almoçageme), em Colares, onde está situado o atelier de cerâmica Auake, marca criada em 2021 por Soraia Serrano, fundadora e ceramista, e Clément Rue, sócio e diretor criativo. 

A relação entre ambos começou muito antes da Auake, um "verdadeiro amor à primeira vista que surgiu após um encontro em Paris", daqueles que só existem nos filmes. Mas em vez de ficção, a realidade é que os olhares uniram-nos e as mãos também os une nos trabalhos de cerâmica que saem do atelier. 

Cada peça é única, feita à mão e sem recurso a roda de oleiro, e caracterizam-se pelos tons neutros que, ainda assim, mostram quão versátil pode ser o branco. "Há muito mais tonalidades de branco do que se imagina", afirma Soraia Serrano em entrevista à VERSA. 

Persistência é, para os sócios da Auake, a alma deste negócio, que tem como fim criar "objetos que perduram no tempo". 

O que a levou a trocar uma carreira de 15 anos na aviação pela cerâmica artesanal?

Quando deixei Portugal para me tornar assistente de bordo numa das melhores companhias aéreas privadas, queria descobrir o mundo. Tendo viajado até aos quatro cantos do planeta e tido a sorte de conhecer pessoas de culturas muito diferentes, isso moldou a minha sensibilidade e influenciou profundamente o meu trabalho enquanto ceramista. Ao regressar a casa, percebi o quanto estava ligada à minha cultura. Quis voltar ao essencial e fazer carreira a partir da terra, trabalhando com as mãos no meu país, onde o artesanato é a essência da nossa história.

Como é que as suas viagens pelo mundo influenciaram o estilo minimalista e os tons neutros que caracterizam as peças da Auake?

O meu trabalho em cerâmica é o resultado de todas as tradições que encontrei ao longo das minhas viagens. Num estilo moderno e minimalista, crio peças utilitárias inteiramente feitas à mão, sem roda de oleiro, no meu ateliê. O branco, sendo a síntese de todas as cores, levou-me a querer voltar ao essencial. Ao não trabalhar com cor, permito que as formas existam na sua expressão mais pura. Sem cor, não há adornos – é a forma do objeto que se impõe. Na verdade, há muito mais tonalidades de branco do que se imagina, e tento sempre trabalhar com vidrados em diferentes nuances dessa cor. Todos os meus vidrados são não-tóxicos e próprios para contacto com alimentos. Tenho também uma abordagem ecológica: utilizo apenas materiais biodegradáveis e embalagens amigas do ambiente. A argila que uso tem igualmente tons neutros. Desta forma, modernizo a cerâmica portuguesa, tradicionalmente feita em terracota, mantendo a ideia de criar objetos do quotidiano, práticos e duradouros.

Porquê a escolha do nome "Auake" e de que forma representa a filosofia da marca?

O nome Auake, pronunciado [uh-uêik], representa um sentimento, um estado de espírito. Estar "awake" é estar desperto, preparado, positivo, de mente aberta para tudo o que nos rodeia. É acordar cedo e começar o dia com um sorriso.

Como é que a colaboração com o Clément contribuiu para o desenvolvimento da identidade estética e criativa da AUAKE?

O meu encontro com o Clément mudou tudo. Acima de tudo, é uma história de amor – um verdadeiro amor à primeira vista que surgiu após um encontro em Paris. Ele apoiou-me e encorajou-me a mudar de vida e regressar a algo mais simples, e rapidamente percebi que queria enfrentar um novo desafio. Também ele queria sair do stress de uma grande cidade como Paris e procurar uma vida mais calma, com o mar como bónus. Não pensámos duas vezes e mudámo-nos para muito perto do ateliê de cerâmica, na vila autêntica de Almoçageme, em Colares – a região da minha infância. Já tinha criado o nome da marca e definido o meu estilo, mas com o Clément – que, graças à sua formação e experiência enquanto realizador e editor no mundo do cinema e da televisão – redefinimos juntos toda a imagem da marca e repensámos a direção artística de acordo com o meu trabalho de ceramista. Hoje em dia, é essencial ter conteúdo visual de qualidade, e foi o momento certo para essa parceria.

Quais são os principais desafios e recompensas de manter uma marca artesanal e sustentável em Portugal?

O maior desafio para mim é nunca desistir. A diferença entre quem tem sucesso e quem não tem é a persistência. A cerâmica em Portugal é um campo extremamente competitivo, mas acredito que há espaço para todos, e que a criatividade não tem limites. Há sempre a possibilidade de se destacar e inovar. Mas é preciso estar disposto a trabalhar incansavelmente. A maior recompensa é fazer aquilo que se ama e ter a liberdade de criar. Dar vida a peças é, para mim, o mais precioso. Crio objetos que perduram no tempo, e ver as minhas peças nas casas de pessoas por todo o mundo é o que mais me faz feliz. Adoro desafios e acredito que nada é impossível na minha profissão.

Como imagina o futuro da marca e que novos caminhos gostaria de explorar, tanto a nível artístico como empresarial?

No futuro da marca, começarei em breve a produzir peças de mobiliário e pretendo entrar no mercado do design. Como disse, anteriormente, há muito que se pode fazer com cerâmica – mesas, cadeiras, secretárias, candeeiros, por exemplo. Esta será certamente uma das direções que a marca tomará com o tempo, mantendo sempre o espírito útil e minimalista. Continuarei a produzir loiça de mesa e, claro, a dar formações, pois o contacto com as pessoas é um dos aspetos mais gratificantes do meu trabalho – algo que aprendi ao longo da minha carreira na aviação privada. Continuaremos também a viajar profissionalmente e a fazer pop-ups pelo mundo. Depois dos que fizemos em Paris e Maiorca, em Espanha, estaremos brevemente na Alemanha e noutros locais que, por agora, preferimos manter em segredo…

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