Irving Penn: Centennial | Fotografia: MOP Foundation
Design e Artes

Irving Penn: um fotógrafo transversal para descobrir numa nova exposição gratuita

Dos retratos despojados às naturezas-mortas, passando pelos icónicos nus, a exposição do MET de Nova Iorque viajou para o Centro MOP na Corunha e celebra o centenário do nascimento do fotógrafo norte-americano, dando a conhecer uma obra prolífica, que vai além da moda.

Irving Penn é um dos grandes nomes mundiais da fotografia de moda, mas a sua obra não se cinge apenas a esse universo glamouroso, repleto de luzes de estúdios e de roupas elegantes. O fotógrafo norte-americano, que morreu em 2009, tanto fotografava no mesmo dia um afiador de facas como uma modelo vestida de Balenciaga ou uma natureza-morta. “Ele não via hierarquia. Tinha uma ideia muito democrática sobre o papel da câmara”, afirma Jeff L. Rosenheim, curador do departamento de fotografia do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.

Estamos sentados na esplanada do café do MOP, o centro cultural da Fundação Marta Ortega Pérez (MOP), no Muelle de Bateria, uma zona portuária desativada da Corunha, Galiza. É aqui que, desde 2021, Marta Ortega Pérez, a herdeira e presidente do império Inditex (dona da Zara, entre outras marcas), exibe, gratuitamente, o trabalho de alguns dos nomes maiores da fotografia, combinando num só espaço três das suas paixões: a moda, a fotografia e a Corunha. 

Depois de Peter: Lindbergh: Untold Stories (2021), Steven Maisel 1993, A Year in Photographs (2022) e Helmut Newton – Fact & Fiction (2023), o holofote posiciona-se agora sobre a obra de um fotógrafo transversal que sempre quis ser pintor. “Esta é uma história muito diferente daquela que a maioria das pessoas conhece sobre Irving Penn”, antecipa Rosenheim numa conversa que antecede a visita a Irving Penn: Centennial, mostra que teve origem numa colaboração entre o MET e a Irving Penn Foundation e que, desde 2017, ano do centenário do nascimento do artista, tem sido mostrada em várias cidades pelo mundo como Paris, Berlim, São Paulo ou São Francisco.

“Quando escrevi uma carta à Fundação Penn, já o conhecia, tinha feito uma exposição em 1992 com Penn no museu. Os nus, que ele nunca tinha mostrado porque as pessoas os achavam terríveis. Escrevi ao filho do artista e disse-lhe que fizéssemos algo para o centenário do nascimento de Penn”, explica Rosenheim, que tem no currículo a aclamada exposição Photography and the American Civil War (2013). 

Em 164 imagens, que se dividem por oito salas, as paredes despojadas do complexo industrial reabilitado pelo atelier Elsa Urquijo Arquitectos obrigaram Rosenheim a libertar-se do supérfluo. “Não podia mover paredes. Era fixo, mas era um constrangimento bonito. Há esta porosidade entre as séries.” As fotografias patentes na exposição datam da década de 1930 até aos primeiros anos do século XXI. Pelo meio, entre fotografias de moda, nus elegantes, retratos de personalidades mundiais, anónimos, ou as suas prediletas naturezas-mortas, os visitantes cruzam-se com peças únicas como a tela original que utilizava como fundo no seu estúdio ou com a recriação em tamanho real de uma estrutura triangular a que Penn recorria para fazer os retratos intimistas como o de Truman Capote.

“Penn era, como a maioria dos fotógrafos, um tipo controlador. Há uma fotografia na exposição de 1947 de um sapato segurado por uma mão que está dissociada de um corpo, exceto por um cotovelo, e a mão tem uma luva e a costura da luva alinha-se com a manga, e toda esta história é um fio incrível que o olho segue. É a melhor fotografia de um sapato que alguma vez verão. É uma das melhores fotografias que alguma vez fez. É uma natureza-morta fenomenal”, exemplifica o curador sobre o que se pode esperar de uma exposição em que as paredes cinzentas nos ajudam a entrar no mundo minimalista mas intenso de Penn.

Penn não gostava de ter sofás, janelas pinturas ou candelabros nas suas imagens como os fotógrafos seus contemporâneos, explica o curador. “ Se estiver a fotografar alta-costura, quer ter este ambiente de alta-costura. Mas Penn pensava de forma diferente. Quando começou um projeto para fotografar os povos do mundo, quer fosse em Tahoma ou Beni, em Marrocos,ou na Nova Guiné, queria separar as pessoas do ambiente”, exemplifica, apontando para a reconstrução do estúdio portátil do fotógrafo instalado sobre um lago, a meio caminho da entrada do complexo industrial onde estão expostas as fotografias de Irving Penn. “Ele preferia trabalhar no seu próprio estúdio com este pano de fundo em branco, que ele próprio pintava. Obteve-o em Paris em 1950. É enorme. Está na exposição. É a oferta especial da exposição.”

Tal como em outras exposições patentes no MOP, a escala em que as fotografias são exibidas é impressionante. Conhecido pela sua obsessão de reproduzir de diferentes formas as ampliações das suas obras fotográficas, os visitantes deparam-se com inúmeras versões originais de impressões de gelatina de prata de algumas das fotografias mais conhecidas de Penn. “Em vez de cada impressão ser exatamente igual, Penn queria que cada impressão do negativo fosse diferente, para sobrecarregar a possibilidade visual.”

Para Jeff L. Rosenheim, a exposição que fica patente na cidade galega até 1 de maio de 2025 é especial não só por se tratar da última vez que será mostrada, mas por ser acessível a todos. “A entrada é gratuita e isso é extraordinário. Em todos os outros locais por onde a exposição passou, as pessoas tinham de pagar para entrar, o que significa que o grupo de pessoas que vai ver esta exposição aqui é completamente diferente”, elucida.  “Penn era um homem humilde”, lança, sugerindo que o artista concordaria com a decisão.

Irving Penn: Centennial. Muelle de Batería s/n, Corunha, Galiza. Seg-qui 10h-20h; sex 10h-21h; sáb-dom 11h-21h.

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