Pode haver muitos conceitos inovadores, como o interior da Tesla com apenas um ecrã central, mas de longe podemos dizer que tal cumpre a funcionalidade para quem está a conduzir. A nossa visão humana é horizontal e deve estar focada na estrada. Não num ecrã gigante na vertical para onde temos de baixar os olhos. Além disso, o conceito de um apoio de braços central que pode avançar e recuar, para dar mais ou menos espaço à frente e atrás, é apenas um dos pormenores modulares.
E os materiais e soluções de interface!... Tão bom. A equipa de design do Ariya está de parabéns. Este conceito torna a Nissan muito mais do que uma marca de carros. Vem mostrar que a marca não é mais uma, mas sim tem uma proposta de valor incopiável. Se terá mercado para segurar vendas em volume, o tempo dirá. Esperamos que sim.
Experiência sensorial
“Japanese futurismo”
Imaginar uma experiência que cruza a tecnologia e filosofia do Japão com a Escandinávia era um conceito inovador, mas até aqui inexistente. Mas a Nissan conseguiu-o. Com o Ariya, e sobretudo com o interior do Ariya, prepara-te para romper com o que conheces do interior de um automóvel. Daqui deste casulo acolhedor e envolvente não vais querer sair.
Aviso à Navegação:
Neste artigo não vamos falar nem de velocidade, nem experiência de condução. Porque ainda com o Ariya desligado e ao entrar no mesmo ficámos surpreendidos. E decidimos manter-nos a explorar um interior que deveria fazer mudar nos vários pormenores muitas outras marcas num antes e depois.
Design Escandinavo MEETS Filosofia Japonesa
Os materiais. Como não ceder perante uma combinação contrastante como a que encontrámos? A alcântara macia encaixa nos painéis similares de madeira, sem plásticos de botões, porque a equipa de engenharia conseguiu que esses ficassem desenhados no painel, com luz, mas tendo resposta tátil ao toque de um botão. Genial!
E tal como na filosofia japonesa aos olhos deve ser mostrada calma e tranquilidade, tapando a desarrumação que pode estar presente dentro de armários e estantes, também aqui o espaço sereno é protegido com pormenores como a cortina tapa-copos para quando estes não precisos. Pormenores. Mas um somatório de muitos pormenores!
Kabuku
Distribuído no exterior e sobretudo interior do Nissan Aryia vão encontrar pequenos padrões rendilhados que são reflexo da cultura japonesa e do kabuku, a montagem de peças de madeira por forma a criar padrões geométricos.
É o evocar do artífice, mas num interior tecnológico que não se impõe, mas antes convive de forma esplendorosa.
Claro E Escuro
Depois de explorar o interior fomos perguntar à diretora de design que estava presente para nos explicar um pouco mais do conceito do interior e reparámos graças a ela em algo que nos havia escapado: o jogo subtil de contrastes da luz.
Em primeiro, a equipa de design transpôs para o interior o conceito de luz diáfana e difusa dos candeeiros de papel japoneses. É uma luz suave branca que preenche de forma colhedora.
Em segundo, as cores foram pensadas para evocar a nobreza (Ariya deriva de uma palavra sânscrita que significa nobre ou respeitável), desde logo a cor cobre numa das versões de pintura que puxa para a expressão exterior o lado elétrico do seu coração de baterias, mas encontra-se o jogo de cores também na combinação dos bancos e madeira replicada e nos poucos plásticos ao toque.
O resultado é um interior relaxante. Como se de um “lounge” de hotel se tratasse. Não apetece sair.
Cidade vibrante vs Casulo do lar
Onde não se pouparam esforços foi na insonorização. Todos os vidros são duplos, o que faz com que o isolamento sonoro seja extraordinário. Conseguimos perceber os avisos do exterior sem prejudicar a segurança (buzinas, etc.) mas de uma forma atenuada, sobretudo o “ruído de fundo”. Conversar dentro do Ariya é um prazer.
No áudio, a marca nipónica manteve a sua parceria com a BOSE para esgrimir fortes argumentos, embora pessoalmente achemos que nos volumes mais baixos a envolvência para a música pudesse ter sido melhor conseguida pela Bose, sobretudo nos graves, com uma coluna central no tablier a compensar os tweeters colocados nos cantos do espaço, como já é habitual nos modelos das marcas alemãs.
Sem terminar o tema acústico, é maravilhoso notar o pormenor dos barulhos que a equipa da Nissan não descurou: no abrir do porta-malas, no fechar das portas, etc.
Infotainment Americano vs. Alemão vs. Japo-Escandinavo
Confessamos que aqui deste lado da Versa achamos a solução Tesla de um ecrã vertical a assumir todas as funções algo... discutível. Gostamos do minimalismo que provoca ao entrarmos, mas experiência de condução fica afetada. Distraímo-nos à procura dos comandos no grande ecrã. E na condução de olhos postos na estrada o desviar de olhos para mapa e músicas e comandos é de todo por demais. Para além de algum estilo despido-demais.
Do outro lado temos o estilo mais preenchido das marcas alemãs. BMW, Mercedes-Benz ou Audi. Aqui aposta-se na envolvência, com cockpits onde condutor e passageiro estão ladeados e envolvidos por ecrãs, painéis, luzes, apoios, sobretudo a coluna central a separar condutor e “pendura”.
E depois temos o Aryia. Conceito inovador e bem conseguido. Um ecrã horizontal que facilita a condução e leitura, por se encaixar na forma como vemos o mundo, em 16.9, tal como a Mercedes fez há poucos anos. O passageiro consegue aceder aos comendos de controlo para o interior, e e o condutor tem várias opções no volante e no seu ecrã para tudo o que precisa para a condução. Isto mantendo espaço, muito espaço para as pernas e sacos e o que quiser na frente.
3 abordagens e filosofias bem distintas. Cabe a cada um optar pela que mais goste.
Veredicto Versa:
Apaixonados
A ter em conta:
- Experimenta e diz-nos se pelo menos não é surpreendente e diferente
- Design exterior com marca nipónica no traço pode não agradar a todos
Repetimos e recomendamos:
- Painéis ao toque com botões luminosos e responsivos
- Texturas
- Conforto sonoro
- Estilo interior, muito estilo!