Throwaway Living, uma das fotografias na exposição, de Peter Stackpole, publicada na capa da revista Life em 1955
Design e Artes

De que falamos quando falamos de plástico? A nova exposição do MAAT põe-nos a pensar

Imprescindível nas nossas vidas, mas percepcionado como supérfluo. Até agosto, em Lisboa, é-nos contada a história deste material revolucionário e do seu poder destrutivo.

Ele está presente em todo o lado e na base de tantos objetos que entendemos como essenciais nas nossas vidas. Ele pode dar forma a uma simples garrafa de água que transportamos para o trabalho ou a uma caixa que usamos para armazenar comida no frigorífico. Ele está presente na composição das nossas roupas, das mobílias que temos em casa, das janelas dos aviões ou dos assentos do metro. Ele está dentro de nós, circulando-nos pela corrente sanguínea.

Se depois desta enumeração dúvidas persistirem sobre a que objeto nos referimos, é de plástico que falamos – desse material que começou por revolucionar o mundo, mas que, no presente, apenas o condena. Muitas vezes mencionado genericamente apenas como plástico, este material é, na verdade, uma amálgama de produtos sintéticos complexos, com diferentes finalidades, muitas vezes percepcionado como de baixo valor ou descartável.

Posto isto, afinal, de que falamos quando falamos de plástico? É a essa reflexão que a nova exposição Plástico. Reconstruir o Nosso Mundo, patente no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, a partir desta quarta-feira, convida o público a ter, traçando um historial da ascensão desta substância disruptiva, ao mesmo tempo que evidencia o seu papel destrutivo no ecossistema terrestre. Fá-lo mostrando peças icónicas de design, como a cadeira de plástico criada em 1972 por Henry Massonnet, uma das mais usadas em todo o mundo e concebida em apenas dois minutos, ou a maquete da Monsanto House of the Future, uma casa construída exclusivamente com plástico que esteve instalada na Disneyland, nos Estados Unidos, entre 1957 e 1967.

Com curadoria de Jochen Eisenbrand e Anna-Mea Hoffmann, do Vitra Design Museum, na Alemanha, de Charlotte Hale e Laurie Bassam, do Victoria & Albert Museum Dundee, na Escócia ( por onde a exposição passou anteriormente), de Johanna Agerman Ross e Corinna Gardner, do Victoria & Albert de Londres e de Anniina Koivu, o objetivo desta mostra, que fica em Lisboa até 28 de agosto, “não é demonizar o plástico”, diz Koivu durante uma visita com jornalistas no dia que precede a inauguração.


Mas em que difere esta exposição de outras que, ao longo dos anos, têm abordado a questão das alterações climáticas e da poluição? Está tudo relacionado, reconhece Anniina Koivu, mas estando os responsáveis de Plástico. Reconstruir o Nosso Mundo ligados ao mundo do design e à arquitetura, houve um equilíbrio para que o que agora é mostrado ao público português não recaísse apenas sobre uma perspetiva científica. “Acredito que podemos fazer boas escolhas para o futuro se percebermos o passado das coisas. Acho que isso é válido para quase tudo”, começa por afirmar a curadora finlandesa, relembrando que a história deste material artificial  remonta há mais de 150 anos e que começou por ser usado para substituir materiais naturais que começavam a escassear, como o marfim ou a guta-percha, que era retirada das árvores e usada no isolamento de cabos telegráficos. “Descobrimos algo e fazemos coisas incríveis e úteis com o que descobrimos, até que se torna demasiado e aí então temos de encontrar uma alternativa para salvar a situação. Até que se volta a atingir um clímax. Estamos neste círculo vicioso”, elucida sobre a trajetória exponencial da importância que o plástico assumiu na sociedade moderna e pós-industrializada.

Antes de a exposição começar, somos confrontados com uma sala escura como breu. Em ambos os lados estão instalados ecrãs que mostram a relação geológica entre o plástico e a natureza, mostrando todo o ciclo deste material presente em quase todos os aspetos da nossa vida, até se transformar em microplástico que invade as partes mais recônditas do ser humano. No decorrer da exposição que reúne 400 objetos que contam a história do plástico e a sua evolução, somos levados por três fases distintas. 

 

Num primeiro momento, relaciona-se a industrialização e o aumento dos salários com a procura de plásticos naturais que, por sua vez, estimulam o interesse por novos materiais artificiais como o parkesine ou a caseína. A entrada no século XX traz “uma infinidade de novas possibilidades”, como se lê no cartaz do primeiro setor da exposição, É em 1907, por exemplo, que se dá a descoberta da baquelite, o primeiro plástico sintético criado pelo belgo-americano Leo Baekeland, que é considerado o pai da indústria do plástico, e que foi amplamente utilizado nos revestimentos de rádios e de outros aparelhos tecnológicos.

A petromodernidade, como é descrito o período nos anos 1920 em que são alcançados grandes avanços nas ciências químicas, tornam possível a compreensão dos plásticos a nível molecular, mas essas descobertas apenas contribuem para que o plástico se torne um material de uso quotidiano cujas implicações hoje conhecemos. Mesmo nos dias de hoje, “um dos maiores desafios para um cientista é perceber que tipo de plástico tem em mãos e como o reciclar, porque há alguns ingredientes que têm de ser mencionados, como se de um rótulo nutricional se tratasse”, nota Anniina Koivu. “Mas nem todos os componentes do plástico são mencionados, especialmente os aditivos. Portanto cometemos um erro ao afirmar que plástico é apenas plástico. É muito mais variado do que isso e nunca haverá uma única solução para o problema do plástico.”

Parte da solução do problema do plástico passa pelo papel do design neste círculo vicioso, defende Anniina Koivu. “O papel do designer é extremamente importante. O designer normalmente consegue ver o panorama mais alargado porque se encontra entre a indústria, a produção e o consumidor”, nota.  Criar objetos que sejam reparáveis, modulares e que possam ser desmantelados para serem descartados ou apenas para reparar um elemento em vez de a peça inteira são assim algumas das preocupações que devem ser implementadas por quem cria peças utilitárias.

A partir de 1970 até hoje, a produção anual de plástico a nível mundial aumentou oito vezes, atingindo os 400 milhões de toneladas. Estes dados são nos passados na terceira e última parte da exposição, em que nos é escarrapachada, através de gráficos, a nossa dependência do plástico. Anniina Koivu acredita que “não podemos demonizar a indústria, pois esta também tem pensado em alternativas”. “O consumidor pode ser mais exigente, o designer pode ter mais atenção”, enumera. 

A curadora acredita que, mais do que todas as escolhas ambientais a adoptar, importa percepcionar o plástico de outra forma. “Falando da qualidade das coisas, poderemos querer investir em roupa de melhor qualidade e que dure mais tempo para sobreviver a anos de lavagem. Investe-se em algo em vez de comprar algo barato que nem uma estação irá durar. É este tipo de escolha que tem de ser feita –  tal como com a roupa, conferir um novo valor e qualidade ao plástico.” 

“Plástico de qualidade continua a ser fantástico. Se o usarmos no que realmente faz sentido e onde não há alternativas melhores, como nos cuidados de saúde, é fantástico. Mas temos de ter cuidado para não o usar apenas como o caminho mais fácil para tudo”, conclui Koivu. Apesar de reconhecer que não há uma solução imediata e única para o problema, a curadora espera que esta exposição nos possa pôr a pensar sobre este material tão presente nas nossas vidas e o valor que lhe conferimos. Afinal, “temos de pagar dois cêntimos por um saco de plástico no supermercado? Não é caro, mas podemos dizer que não queremos, certo?”

No final da exposição há ainda uma máquina de reciclagem de plástico para ver, que tritura pequenos pedaços deste material, transformando-os em réguas, cabides ou ganchos, através de moldes.

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