Fotografias: Getty | Edição de imagem: Vasco dos Santos
Controversa

“Revenge Songs”: cantavam as nossas dores, agora cantam as de Shakira

Vira o disco e toca o mesmo. Ano após ano, as “revenge songs” continuam a reinar o mundo da música, mas, se antes serviam para acalmar as nossas dores, agora servem para coscuvilhar as dores alheias.

Desde que há memória, cantam-se canções sobre os amores e desamores ou, desde que nasceram os amores e desamores, escrevem-se canções. Uma simbiose inegável que explica a música como uma espécie de terapia ou de veículo que extravasa o que sentimos, sem vergonhas, sem remorsos e com poucos limites. É então fácil compreender que as mágoas e infidelidades amorosas sejam mote dos hits mais ouvidos de todos os tempos. 

Antes mesmo da atual novela Shakira vs Piqué, cantava-se sobre lutos e lutas amorosas, acudindo à resiliência e sobrevivência da mulher nas chatices do amor. E parece que, a dado momento, estas “revenge songs” passaram de um escape musical às dores de todos nós para se focarem nas dores de quem as canta…

A lista de “revenge songs” é quase interminável e poderíamos escolher falar de várias, como Bad Blood, de Taylor Swift, ou Before He Cheets, de Carie Underwood, mas comecemos por uma das que entra na lista de todos os tempos e remonta aos anos 60, quando se eterniza o tema These Boots Are Made For Walking pela voz de Nancy Sinatra.

Esta canção fez de Nancy uma espécie de símbolo de empoderamento feminino e foi certamente um hino às dores de uma mulher. A música servia e serve para dar voz a um sentimento de revolta, como um boost de autoconfiança para quem a ouve, e pouco ou nada se quis saber sobre a vida amorosa da filha de Frank Sinatra quando a mesma cantava “tu continuas a mentir-me quando devias ser verdadeiro”. Como também não se queria saber da vida amorosa de Cindy Lauper ou Lana del Rey quando se ouvia Girls Just Wanna Have Fun ou High by The Beach. No entanto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades do que se quer saber ouvir…

Agora, queremos questionar “para quem é esta música”? Numa necessidade frenética de descobrir mais sobre a vida amorosa das celebridades, e tudo isto bem esmiuçado pela imprensa, claro. Muitos artistas ainda se recusam a limitar as suas criações a vivências pessoais e deixam a interpretação da letra a quem a escuta, outros aproveitam o marketing e oferecem a sua vida privada de bandeja para que o mundo despreze o homem ou a mulher que lhes fez mal. 

Claro que aqui entra o recente lançamento de Shakira, com o BZRP Music Sessions que, em poucos dias, conquistou mais de 125 milhões de visualizações. O sucesso estrondoso não se deve tanto à música quanto se deve ao mexerico. Todos querem saber mais sobre novela entre Shakira e o ex-companheiro Gerard Piqué, a quem a cantora dedica a música, com referências claras à alegada infidelidade.

 

Mas não é a única. Miley Cyrus, ainda que detenha uma extensa lista de sucessos, conquistou, em apenas 3 dias, 33 milhões de visualizações com o recente lançamento, Flowers. Tudo isto porque esta “revenge song” é um vislumbre do relacionamento da cantora com o ex-companheiro, Liam Hemsworth.

 

Se por um lado há quem se espelhe nas dores de uma Miley e de uma Shakira para ouvir as próprias dores, por outro, há uma maioria que apenas quer saber mais e mais sobre a novela das vidas alheias e uma imprensa que se aproveita de cada estrofe.

“Não me cante o que eu não sei sentir”, diria a poetisa Maria Bethânia, sem saber que já tão pouco queremos ouvir as canções que deviam ser de todos.

Nécessaire

A nova descoberta Dior: o primeiro sérum que transforma a pele

A Dior acaba de lançar "o primeiro sérum antienvelhecimento que transforma a pele", segundo explica a marca em comunicado.

Controversa