Imagens: reprodução filmes 'Silêncio dos Inocentes' e 'A Última Caminhada' | Edição: Vasco dos Santos
Controversa

"A última refeição de um condenado à morte" ou a brincadeira polémica do TikTok

O TikTok volta a impulsionar uma tendência controversa que não sai ilesa às críticas. Desta vez, a morbidade é prato do dia.

Se estivesses no corredor da morte, qual seria a tua última refeição? Esta é a nova brincadeira, mas antes mesmo de pensarmos em comida, vamos debater a pergunta (não tão) inocente.

 

 

As hashtags “Last Meal” e “Death Row Meal” (“última refeição” e “refeição no corredor da morte”, respetivamente, na tradução) já vingaram na plataforma do TikTok e nem todos aprovaram a tendência. Se para muitos utilizadores é divertido colocarem-se no cenário hipotético de estarem no corredor da morte a desfrutarem de uma última refeição, para tantos outros esta ideia mórbida serve de combustível para argumentações perigosas.

 

Tendo em conta que a pena de morte é assunto mais do que polémico, a última refeição de um condenado não teria efeito diferente. E, entre as vozes críticas, os pró-vida chegam-se à frente. Quem entende a pena de morte como um atentado aos direitos humanos fundamentais e defende a abolição da mesma de qualquer sistema jurídico no mundo acredita que esta tendência é perigosa por aligeirar questões de urgência humanitária. Afinal, parece que estamos a trocar a carta dos Direitos Humanos pelo menu de almoço, com a ligeireza esperada de um esparguete à bolonhesa.

Também é possível que os ativistas de direitos humanos, como os muitos que dedicam o seu trabalho à Amnistia Internacional, atentem nesta brincadeira como algo pouco inocente e com repercussões alarmantes para a luta pelo do Direito Fundamental à vida. É que falar "da última refeição em vida" e juntá-la a "corredor da morte" é fazer por não se passar despercebido.

Mais de metade dos países em todo o mundo já não pratica a pena de morte, mas ainda existem sistemas judiciais que têm esse estatuto válido, como muitos estados dos Estados Unidos, para crimes mais graves como o homicídio. E aqui soma-se outra polémica. A questão racial de estudos que demonstram que afroamericanos integram uma percentagem desproporcional nas condenações à pena de morte.

 

Os utilizadores do TikTok entraram rapidamente neste hipotético corredor da morte, mas claro que muitos não o fizeram a pensar nos métodos de execução sórdidos de muitos países, nem tampouco verificaram os dados de 2021 concedidos pela Amnistia Internacional, que registam, pelo menos, 579 execuções, em 18 países.

Brincadeiras à parte, é possível que depois de muito pensarmos sobre a última refeição de um condenado fiquemos sem apetite.

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