A galeria Underdogs é conhecida por ter um olhar único sobre a arte urbana e é, por isso, uma montra preferencial para descobrir os melhores artistas de intervenção social e com as mais inovadoras linguagens, quando a vontade é trazer a arte para as ruas. Os nacionais, mas também os internacionais.
Este verão, o espaço principal da galeria inaugura Está Iloviendo do artista Escif, que pertence à escola de adoráveis inconformados de onde se destaca Banksy. Na verdade, o muralista espanhol tem colaborado com ele e, como o famoso artista esquivo, também Escif é meio misterioso e explicitamente político e provocador.
Nesta mostra trabalha o conceito de espaço abandonado pelo homem, e como este permanece um lugar de ninguém ou uma oportunidade de expressão da natureza que se adapta ao solo que escapa ao cimento. Uma ideia de terceira paisagem, pensada a partir do trabalho do arquiteto paisagista e intelectual francês Gilles Clément, que pensa profundamente sobre estes temas. Assim, a galeria passa a ser um lugar de ensaio para peças únicas que ali se refugiam sem ordem ou obediência.
Destaque para o extintor de cerâmica que o artista pensou no âmbito das Dream Editions da Underdogs, isto é, quando convida os artistas a pensarem uma peça específica com que sempre sonharam, mas que várias razões adiaram. No caso de Escif, este quer evidenciar a força e a fragilidade de um banal extintor como uma metáfora da própria natureza, sempre em defesa. Também se aconselha espreitar o mural em grande escala que Escif está a fazer para o Projeto de Arte Pública da Underdogs, na estação de comboios do Braço de Prata, e que estará finalizado até aos primeiros dias de agosto.
Oportunidade para conhecer também o artista Dimitris Trimintzios aka Taxis, que tem raízes polacas e vive em Atenas. Vem do grafitti e da ilustração, que sempre fez para publicações e livros, e os seus contos têm sido premiados. Os temas são humanistas, ele olha para a luta interior diária de cada um de nós para retratar a sociedade e as suas imposições e exigências constantes, tantas vezes irrealistas e desumanas.
Agora ocupa um espaço da galeria Underdogs com Vacancy, precisamente um olhar sobre o lugar, a atmosfera, a partir da palavra “Vacant” (vazio). É a sua primeira individual em Portugal e aqui, segundo o comunicado da galeria, “o artista constrói uma alusão ao facto da maioria das obras representarem ambientes, paisagens e lugares abandonados, componente que se estende até nas composições que retratam pessoas, e que transmitem uma sensação de desconforto e desenquadramento, tanto pela natureza dos espaços, como pela inatividade das figuras.”
Para ver na Galeria Underdogs, na R. Fernando Palha 56, 1950-132 Lisboa, até 6 de agosto de 2022.