Mariana Soares
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Do papel para as noivas: com 19 anos, Mariana Soares faz magia

Pode ser ainda jovem, mas já tem um percurso feito. Damos a conhecer Mariana Soares, um talento de 19 anos que se apaixonou pelo mundo das noivas.

Não é comum, mas existem alguns casos que provam que, desde cedo, se pode ser mestre na arte da criação de moda. Falamos de prodígios como o francês Milan, de 13 anos, que chamou a atenção da Louis Vuitton ou Max Alexander, que com apenas 7 anos conquistou a Gucci. Agora, há um nome português a juntar à história. 

Com apenas 19 anos, Mariana Soares já soma várias experiências no currículo. A modelista de São Brás de Alportel começou a costurar à mão aos 8 anos e aos 12 aprendeu a costurar com a máquina de costura. Desde então, não parou. 

Em 2019 montou o seu primeiro negócio, com peças para bebés e acessórios em costura criativa, e, em 2020, em plena pandemia, iniciou uma ação solidária para ajudar os profissionais de saúde que enfrentavam o desconforto das máscaras. Posto isto, em 2023 decidiu mudar-se para Lisboa para estudar Modelagem de Vestuário, licenciatura que está a terminar. E com sucesso. 

Especializou-se em alfaiataria e em lingerie e está a realizar um estágio num atelier de noivas, área pela qual se apaixonou. Até onde vai o caminho de Mariana? A VERSA quis saber mais sobre o percurso e os sonhos para o futuro. 

A tua ligação à moda começou muito cedo. O que mais recordas desses primeiros momentos?

O que mais me lembro é o carinho e a paciência da minha avó. Passava as tardes e as férias na casa dela e adorava vê-la costurar, transformar pedaços de tecido em algo único. Quando me ensinou os primeiros pontos à mão, senti uma felicidade enorme. Ela estava a fazer um vestido para mim e deu-me os restos de tecido, ensinou-me a colocar a linha e a dar os primeiros pontos. Foi assim que criei a minha primeira peça, uma roupa para o meu gato bebé.

O teu primeiro “negócio” nasceu em 2019, com peças para bebés e acessórios criativos. Como olhas hoje para essa fase inicial?

Com muito orgulho. Foi uma fase muito inocente, ainda estava a aperfeiçoar a costura à máquina e a aprender as minhas primeiras técnicas de costura criativa, cada encomenda que recebia era um momento muito especial para mim, por saber que gostavam do que eu fazia e por apoiarem os meus sonhos. Hoje percebo que foi um começo simples, mas essencial. Deu-me confiança para continuar e sonhar mais alto. Todo esse meu trabalho foi também reconhecido quando ganhei os Prémios da Juventude 2022 de São Brás de Alportel, na categoria de Artes.

Durante a pandemia, desenvolveste uma ação solidária que ganhou destaque a nível nacional. O que significou para ti ver esse gesto reconhecido?

Foi uma fase marcante. Tinha apenas 14 anos e estava em casa, em quarentena. Depois de uma amiga me mostrar uma iniciativa que estava a acontecer em Inglaterra, decidi aderir e oferecer o mesmo tipo de ajuda aos nossos profissionais de saúde. Foi assim que comecei a costurar fitas para aliviar o desconforto das máscaras. No entanto, como todas as lojas estavam encerradas, tive dificuldade em encontrar o material principal, os botões. Mas, com a ajuda da população da minha terra, posso dizer que, de um dia para o outro, começaram a “chover” botões. Fiz tudo com o coração, sem esperar nada em troca, por isso ver o projeto ser reconhecido foi uma surpresa muito boa. E receber mensagens de agradecimento de quem usou as minhas fitas foi ainda mais especial.

Por que razão decidiste apostar em biquínis e fazer dessa coleção o teu primeiro desfile?

Na altura, quis desafiar-me e fazer algo completamente diferente do que estava habituada. Tinha acabado de investir numa máquina industrial de overlock, essencial para a produção dos biquínis, e foi daí que nasceu a ideia da coleção. Os biquínis representavam para mim liberdade, confiança e a relação natural com o corpo e eu queria transmitir exatamente isso. Foi uma forma de experimentar novas técnicas, trabalhar com tecidos diferentes e sair da minha zona de conforto.

O desfile foi um passo muito importante e sem o apoio da minha família e do município de onde sou natural nada teria sido possível. Marcou o início do meu caminho como criadora e deu-me coragem para seguir em frente e explorar novas áreas, como a roupa em tamanho próprio e, agora, os vestidos de noiva, com que me sinto verdadeiramente realizada.

O que te atrai na alfaiataria e lingerie para terem sido as tuas áreas de especialização?

Acho que o que me atrai é o contraste entre as duas. A alfaiataria é estrutura, rigor, linhas perfeitas, exige muita técnica e bastante paciência, principalmente na costura à mão, que é algo de que gosto bastante. Já a lingerie é delicada e pede uma sensibilidade diferente. Gosto de equilibrar essas duas energias: o forte e o suave, o que se mostra e o que se esconde. Trabalhar nessas áreas faz-me sentir que estou sempre a aprender algo novo sobre o corpo e sobre o detalhe.

No estágio no atelier de noivas, quais os maiores desafios e aprendizagens ao lidar com técnicas mais complexas?

Tem sido uma experiência incrível. O maior desafio é a perfeição que cada vestido exige, tudo tem de estar perfeito, desde o corte até ao último ponto. Mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante. Cada bordado à mão e cada aplicação são pensados ao pormenor, para que a peça tenha um caimento perfeito. Estou a aprender imenso sobre tecidos, acabamentos e paciência. Trabalhar com técnicas de costura mais complexas fez-me perceber o verdadeiro valor do tempo e do cuidado em cada peça.

O que te inspira atualmente na criação das tuas peças?

Neste momento, inspiro-me muito na ideia de unir estética e funcionalidade. Gosto de criar peças que sejam bonitas, mas também práticas e adaptáveis ao dia a dia. Procuro sempre a vestibilidade, que a roupa acompanhe o movimento do corpo e se ajuste a diferentes momentos. Tenho uma grande paixão por peças longas que se transformam em curtas, porque representam exatamente isso: versatilidade, mudança e liberdade. Acho fascinante quando uma peça pode ser usada de várias formas, sem perder o seu charme. Para mim, a moda tem de ser viva e flexível, tal como quem a veste.

Que sonhos ou objetivos tens para o futuro enquanto designer de moda?

O meu grande sonho é trabalhar com vestidos de noiva. É uma área que me apaixona completamente, cada peça tem um significado único e carrega uma história muito pessoal. Quero continuar a aprender sobre técnicas de costura mais complexas e, no futuro, abrir o meu próprio atelier, no qual possa criar vestidos feitos à medida, com atenção ao detalhe e ao sentimento de cada noiva.

Mais do que fazer um vestido bonito, quero criar peças que transmitam emoção e que façam parte de um dos dias mais importantes da vida de alguém. Esse é o meu maior objetivo: unir técnica, sensibilidade e amor em cada criação. Embora o meu trabalho esteja muito próximo do design de moda, a minha formação é na área da modelagem. Sou modelista e foco na parte técnica e na construção das peças a partir das ideias do designer.

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