É a ideia da independência, da mobilidade e da aventura que me leva até à Yescapa. Queria oferecer aos miúdos (e a nós, pais) uma experiência diferente de uma casa de férias ou de uma estadia de hotel. Nunca acampámos, não sabíamos se tínhamos o espírito, mas fazemo-nos à estrada com tanto de entusiamo como de incertezas. Uma coisa sabemos: queremos estar os cinco num fim de semana free spirit, no rules.
Disclaimer: a ideia de viajar sem regras afinal avistava desafios, pois há diretrizes de estacionamento e pernoita a seguir. No entanto, somos nós que decidimos onde vamos e onde ficamos. E essa liberdade não há regra que nos tire.
Parece que há uma certa rebeldia hippie em andar de caravana e é nesse mood que nos inspirámos quando preparámos o que queríamos levar. Se há cozinha, e bem equipada, além de um pequeno armário despensa, decidimos de antemão que não iríamos a restaurantes. Assim, levámos todos os ingredientes para refeições fáceis que desfrutámos na mesa de exterior, sob o toldo da caravana que se estende.
Como citadina pura, preparo uma mala de fim-de-semana para toda a família, cheia de mudas de roupa, o que claramente se comprovou desnecessário. Vivemos quase em modo praia, porque a (quase) primavera tem destas boas surpresas: um sol que aquece o suficiente para aproveitar ainda melhor esta experiência e dispensar camisolas e casacos.
Mas acho que já me antecipei com detalhes desta aventura. É que temos de voltar ao princípio. No site altamente intuitivo da Yescapa, procurámos uma autocaravana para 5 pessoas. Em seguida, escolhemos a região do país e aparecem as sugestões possíveis. Nota que a Yescapa não é proprietária de qualquer autocaravana ou campervans, o que faz é mediar o aluguer das mesmas entre os proprietários e os viajantes. O sistema de reserva funciona impecavelmente, é rápido e muito seguro. Uma plataforma de grande confiança e com ótimas reviews.
E como para nós era mesmo importante que fosse uma autocaravana que estivesse perto de casa, tivemos em conta as opções da Yescapa e decidimo-nos por uma autocaravana nas Laranjeiras para começar a viagem. Nota que, depois da reserva feita, passámos para relação direta com os proprietários. E que sorte tivemos com a Marta Melo! É fundamental que a relação com o proprietário seja boa, pois será ele que nos explicará todas as regras, funcionamento e afins. A avaliação é mútua, o proprietário também pode decidir se os viajantes se enquadram no perfil que escolhem para a sua autocaravana. Demo-nos bem imediatamente e agilizámos o check-in para o início da tarde. Fomos avisados para contar com um hora para aprender a mexer em tudo e ficarmos a par das regras fundamentais do autocaravanismo para que seja feito de forma responsável e de acordo com as regras de estacionamento e pernoita.
Estamos prontos a partir! E, com dois surfistas a bordo, pai e filho, São Torpes é o primeiro destino.
Ao contrário do que poderíamos imaginar, levámos apenas alguns minutos a adaptarmo-nos à condução. A principal diferença é que a velocidade tem mesmo de ser reduzida, o tempo de travagem tem de ser muito maior e as curvas merecem toda a calma. Afinal, temos uma casa às costas.
Os miúdos estão finalmente a viver a viagem que se planeia há duas semanas e parece-lhes muito melhor do que imaginaram. Uma mesa para jogarem durante a viagem, janelas grandes, numa viatura maior do que qualquer outra… sentem-se importantes. Estão felizes. Nós, entusiasmados, seguimos sem pressa e com a música alta que alimenta o espírito.
Aproveitamos o final do dia em frente à praia. Há tempo para jogos na areia, para surf e para montar a mesa no exterior e preparar um piquenique digno deste estilo de vida. Depois, agarramos na nossa casa, vamos até Porto Covo, estacionamos em sitio próprio para pernoita e ainda passeamos numa noite que se pode dizer perfeita.
Ansiosos pela experiência de dormir numa autocaravana, surpreendemo-nos com o conforto das camas, com tamanhos impecáveis. A cama de casal tem 1,60m e é de muito fácil utilização, com as escadas próprias e o mecanismo de levantar e baixar. Para os miúdos, os beliches são sempre uma boa opção.
Amanhecemos num dia não muito solarengo, mas de temperatura perfeita. E temos todo o tempo do mundo para decidir onde ir. Vamos a Vila Nova de Milfontes. Aqui, as restrições para as autocaravanas são bem maiores. Nenhuma estrada de acesso à praia tem trânsito permitido às autocaravanas, pelo que temos sempre de optar por estacionamentos exteriores. Sem problema. Seguimos a pé.
Na altura do aluguer, determina-se o número de quilómetros médios que se pretende fazer por dia. Tínhamos definido 200 por isso é preciso ficar pelos mesmos lugares, o que não é problema. É que esta viagem de dois dias não se faz só pela estrada, é preciso desfrutar das paragens.
Sendo que o estacionamento de Vila Nova nada tem de bonito para montar a mesa de almoço, regressamos a Porto Covo.
E deixo aqui o desabafo: é inevitável espreitar a vida de outros autocaravanistas. E vejo exatamente aquilo que sinto, tempo. Muito tempo. Claramente mais estrangeiros do que portugueses e mais velhos do que nós, em modo “esplanada” por grande parte do dia, com uma bebida na mão e um livro na outra. A aproveitar o sol, o tempo que não foge em obrigações e, claro, o que a nossa costa tem de melhor: um mar imenso e uma temperatura ótima.
Para os que se querem aventurar, junto apenas mais algumas notas importantes: a temperatura interior da autocaravana é regulável, o que permite estar confortável todo o tempo; a cozinha tem utilização perfeitamente normal e funcional; todo o equipamento exterior monta-se com facilidade e arruma-se da mesma forma; há espaço de bagageira, mas não cometam o erro de levar coisas a mais; o duche é bem quente apesar de apertadinho; a utilização da casa de banho é perfeitamente normal, mas requer uma certa mecânica com a limpeza das chamadas cassetes, é preciso saber onde despejar e lavar (para mim, o lado menos prático, mas eu já tinha avisado que não sou muito experiente nesta coisa do camping). Só é possível a utilização de microondas, chaleira e máquina de café quando se tem ligação a eletricidade exterior e isso só acontece em parques de campismo. Por isso, se ficares, como nós, em estacionamentos próprios, ficas apenas com o gás do fogão e os 12v que servem, pelo menos, para o carregamento dos telemóveis.
Regressamos a casa cheios!
Entregamos a autocaravana à Marta e à sua família e, ainda entusiasmados com a experiência, partilhamos os nossos melhores momentos e agradecemos a disponibilidade que tiveram quando algumas dúvidas nos surgiam.
Quanto a preços, é também imprtante saber que esta não é uma experiência muito barata e requer a entrega de uma caução, por isso é preciso alguma flexibilidade financeira. Falamos de €480 para três dias e duas noites, nesta caravana de 5 lugares e com todas as comodidades. No final do dia, para nós, a experiência vale o preço.
A pergunta que se impõe: repetes? Sim, quantas vezes conseguirmos.
Porque o fim de semana resume-se a isto. Pequenas voltas, estacionamentos em frente à praia. Jogos de areia, banhos de mar, surf, skate e futebol. E, como vos disse de início, este fim de semana fica na memória como uma multiplicação de tempo e de bons momentos em família. O que mais podemos pedir?