À medida que percorremos a estrada que nos leva à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, em Covas do Douro, vai-se tornando cada vez mais difícil apenas prestar atenção ao ziguezaguear do percurso. Do lado esquerdo, avista-se o rio e o ondular dos socalcos de vinha desenhados nos vales que cobrem o horizonte. Depois de alguns quilómetros, sempre a subir, vislumbra-se o nosso destino numa encosta ainda longínqua.
Num final de tarde ameno de junho, Teresa Frazão, diretora-geral do hotel e do enoturismo mais antigo da região, fala com entusiasmo das novidades da quinta detida pela família Amorim desde 1999. “O menu de degustação que vamos provar é assente numa preocupação com a sustentabilidade”, explica à mesa da zona exterior do Terraçu’s, o restaurante da quinta que oferece uma vista privilegiada para os socalcos de vinhedo e para o Douro.
“Tínhamos uma horta, que sempre existiu, mas que só há um ano começou a ser recuperada”, conta. É de lá, diz-nos, que a maior parte dos vegetais que encontramos nos menus de três e cinco momentos, elaborados pelo chef André Carvalho, são oriundos. A beterraba, elemento central da entrada de gaspacho com mousse de queijo fresco e gelatina de beterraba, “representa muito bem o que o chef procura – sabores sazonais”, aponta a responsável. Mas as novidades não se ficam apenas pela oferta gastronómica, que foi pensada para dar a conhecer a vasta gama de vinhos produzidos no local.
Há dois anos, a Winery House, a casa senhorial oitocentista que acomoda um número muito limitado de hóspedes, foi renovada, passando a integrar a conceituada cadeia Relais & Chateaux. Mais contemporânea, mas mantendo os traços e as mobílias característicos de uma casa com mais de dois séculos, é-se transportado para uma experiência em que o tempo passa devagar e em que tudo nos parece familiar e acolhedor.
Os 11 quartos disponíveis, distribuídos pelos dois pisos, fazem-nos esquecer que estamos num hotel. Sentados numa das salas de estar, cruzamo-nos com outros hóspedes que vagueiam pela casa como se fosse também sua. Na ponta oposta, um casal estrangeiro repousa num dos sofás, ao mesmo tempo que um casal mais jovem folheia algumas das revistas dispostas sobre a mesa de centro. Ao olharmos para as janelas, lembramo-nos então que a serenidade que a experiência que esta casa proporciona só fica completa descubrindo outro dos chamarizes da Quinta Nova de Senhora do Carmo: o vinho e as suas vinhas.
Enólogo por um dia
Sansão Gomes, nascido e criado na região, sabe as histórias de trás para a frente. O guia de enoturismo da Quinta Nova é quem nos recebe para uma visita ao Wine Museum Centre, um acervo com várias peças do século XIX e XX que foram sendo colecionadas por Fernanda Ramos Amorim e que dá a conhecer os costumes das gentes da região e os processos dos vinhos produzidos na propriedade. A par da visita ao museu, é possível ocupar os dias com algumas das atividades disponíveis na propriedade. Seja numa das cinco provas de vinhos disponíveis (€24-€116 por pessoa) ou numa das 11 experiências, que podem passar por um passeio de barco a partir do cais do Ferrão ou participar na vindima.
Desta vez, resolvemos ser “enólogos por um dia”. Sansão espera-nos no Patamar, a zona de provas e de loja da quinta, junto a vários copos e três garrafas. “Agora, vai ter de fazer o seu próprio vinho”, desafia-nos enquanto apresenta a atividade “Seja enólogo por um dia” (€250 por pessoa). A ideia é provar diferentes vinhos, perceber os seus sabores e conjugá-los criando um blend único, “que poderia ser o novo vinho da Quinta Nova”, brinca.
Rodeados por 120 hectares, há sempre algo para descobrir. Seja um dos vários percursos pedestres junto às vinhas ou uma visita à capela de Nossa Senhora do Carmo, que dá nome à propriedade, e que foi mandada erigir em 1721, quando o Douro ainda era um rio que levava muitas das vidas dos que o tentavam desafiar a fazer subir e descer as pipas de vinho.
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, Covas do Douro; 254 730 430; a partir de €435 por noite.