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No Rastro de Madrid, há de tudo e mais alguma coisa

O Rastro é um mercado ao ar livre emblemático e é um dos meus lugares favoritos de Madrid. O relato de quem o revisita a cada semana e descobre sempre algo novo.

Já antes de viver em Madrid, o Rastro era um lugar que me fascinava. Mudar-me para esta cidade trouxe-me a possibilidade de o visitar com frequência aos domingos e nos dias de feriados. Situado entre os Bairros La Latina e Lavapiés, em pleno centro histórico de Madrid, o seu ritmo frenético e multicultural cativa-nos e permite-nos encontrar um pouco de tudo, desde objectos do quotidiano a curiosos e, por vezes, peculiares objectos antigos. São manhãs bem passadas, envoltas numa atmosfera animada, cheias de uma energia única que contagia. Deambular pelas ruas do Rastro é também sinónimo de ouvir cantores de rua, grupos de batuques, grupos de jazz que facilmente se tornam na banda sonora que acompanha a visita a este mercado emblemático.

Breve História do Rastro

Trata-se de um mercado bastante antigo que tem passado por algumas metamorfoses. Surgiu em cerca de 1496 como o primeiro matadouro da cidade de Madrid, o Viejo Matadero de la Villa, que ficava ao lado da Praça Cascorro, atual epicentro do Rastro. À sua volta, instalaram-se atividades profissionais ligadas ao matadouro, sobretudo curtumes, que utilizavam as peles do gado. Mais tarde, também se instalaram nesta zona sapateiros e fábricas de velas, que nessa época eram feitas com sebo ou gordura animal. No decorrer do século XIX, foram-se instalando nesta zona livreiros, negociantes de bens em segunda mão e, já no final do século XIX, instalaram-se antiquários e leiloeiros. Ao longo do século XX foi-se adaptando às circunstâncias históricas e, contrariamente ao que se chegou a prever, manteve-se firme enquanto importante mercado de rua do centro de Madrid. Já na década de 2000, o Ayuntamiento de Madrid criou uma regulamentação que lhe permite controlar toda a atividade do Rastro, impedindo a venda de animais vivos e de bens alimentares nas bancas.

A origem do nome do Rastro é curiosa: conta-se que, quando era um matadouro, durante a transferência de gado para os curtumes, ficava um rastro de sangue, que foi o que acabou por dar origem ao nome deste famoso mercado.

O Rastro dos dias de hoje

O costume de ir ao Rastro procurar artigos em segunda mão e antiguidades tem uma longa tradição, e nos dias hoje, também encontramos muitos outros produtos, como vinis, livros, roupa nova e usada, bancas de calças de ganga em segunda mão para todos os gostos e feitios, malas, mochilas, meias, fotografias antigas, caixas e candeeiros, móveis, artigos para pássaros, espelhos, colares, brincos e pulseiras bastante diversos, mantas, jornais antigos, ilustrações, chaves de ferro antigas. E a lista poderia continuar porque, no Rastro, encontramos tudo e mais alguma coisa. Umas das frases que mais se ouve dos madrilenos é “se existe, está no Rastro”. E diria que é bem verdade.

Adoro perder-me pelas ruas deste mercado. O meu percurso começa quase sempre da mesma forma, mas cada semana que o visito descubro novos recantos, sigo diferentes caminhos, e nunca tenho uma experiência igual. Talvez por isso seja tão cativante passar as manhãs de domingo no Rastro. Gosto de começar o passeio pela Calle de las Maldonadas porque aí encontro umas bancas de calças e casacos em segunda mão que costumam ter muita oferta de qualidade e a bons preços. Desço até à Plaza de Cascorro, epicentro do Rastro que, a partir dessa praça se expande como se de um leque se tratasse. Umas semanas, desço pela Calle la Ribera de Curtidores, cuja oferta são sobretudo artigos novos, tendo também algumas bancas de artigos em segunda mão. A diversidade de bancas é enorme e conseguimos sempre encontrar artigos originais e ótimos presentes com preços bastante acessíveis. Outras vezes, opto por descer a Calle Toledo e entrar directamente numa das ruas estreitas com muita oferta de todo o tipo de artigo em segunda mão. Para além das bancas que encontramos nos dias de Rastro, também há muitas lojas antigas e outras bastante recentes que vale a pena conhecer.

Em qualquer estação do ano, com qualquer tipo de clima, ir ao Rastro implica mergulhar num mar de gente. Turistas e madrilenos misturam-se pelas ruas do Rastro, com eles transportam uma energia única que a autora do livro Todo Rastro Madrid, Alejandra Seijas tão bem capta nas fotografias que semanalmente recolhe no mercado. Uma página que vale a pena visitar, pois capta muito bem o espírito único deste incrível mercado ao ar livre. Também eu adoro fotografar o que vou vendo e descobrindo no Rastro, sobretudo a zona das velharias, pois cada semana que lá vou, as bancas de rua reconfiguram-se, adequam-se à estação do ano, às remessas recebidas e tornam cada um desses domingos numa experiência singular.

A melhor maneira de terminar uma manhã de Rastro é ir a um dos vários bares da zona beber alguma coisa, acompanhado das inevitáveis e típicas tapas que acompanham as bebidas. Mas destes bares falarei numa próxima crónica.

O Rastro funciona todos os domingos e feriados, entre as 9h e as 15h. Nunca é demais relembrar que é aconselhável ter cuidado com os objectos de valor ao caminhar pelas ruas movimentadas e com grande concentração de pessoas, pois é comum que por essas ruas andem, também, carteiristas atentos aos turistas pouco cuidadosos.

Uma visita a Madrid fica, sem dúvida, mais rica se incluir uma visita ao Rastro. Garanto que vale a pena.

 

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