“Temos o melhor do mundo, mas no Alentejo. Temos boa comida e bom vinho, é o lugar perfeito para descansar. É como a Toscana portuguesa”. É assim que o empresário alemão Dieter Morszeck define a Vidigueira, pela qual se perdeu irremediavelmente de amores em 2017, o que o levou a adquirir a Quinta do Paral, uma propriedade de 85 hectares.
“A calma que encontrei na Vidigueira é diferente de todos os outros lugares por onde passei no mundo inteiro. Sei que cada pessoa tem o seu gosto, mas para mim é como chegar a casa. O conforto que sinto aqui, com a minha família, é o que quero partilhar com as pessoas que por aqui passarem, não esquecendo a gastronomia alentejana e, claro, os vinhos”, confessou numa entrevista em exclusivo à VERSA.
Ficámos com tanta curiosidade que quisemos ver com os nossos próprios olhos o que tem de tão especial a Vidigueira e a Quinta do Paral, onde foi inaugurado, no passado dia 17 de junho, o The Wine Hotel, um hotel de cinco estrelas onde não há qualquer limite de orçamento para garantir a qualidade do serviço.
Um portal para outra dimensão
Com 85 hectares, a Quinta do Paral e foi revitalizada por Dieter Morszeck num investimento de cerca de 8 milhões de euros, que passou pela ampliação da adega e pela construção da unidade hoteleira sob o conceito de quiet high luxury.
A palavra de ordem é “qualidade, qualidade, qualidade”. O empresário alemão não se cansa de repetir a palavra e de assegurar que são “especialistas em qualidade. Foi o que aprendi há muitos anos, com as malas Rimowa”, o negócio de família que acabou por vender, em 2016, à Louis Vuitton.
Na Vidigueira encontrou a possibilidade de unir duas das suas grandes paixões: os vinhos e um hotel de luxo. “Não queremos crescer a todo o custo, mas quando temos um bom produto, crescemos. Não somos baratos, mas a qualidade é muito boa”.
Mal chegamos à Quinta do Paral somos convidados a desligar, com tudo o que isso implica. O carro fica esquecido por uns dias no estacionamento, já que não é permitida a circulação dos veículos no interior da propriedade, e nem temos de nos preocupar com as malas. O staff encarrega-se de as colocar no nosso quarto.
Só temos de aceitar a boleia de um carrinho de golfe, que nos transporta através de um túnel verde de videiras, quase como um portal para outra dimensão, qual Alice no País das Maravilhas. Do outro lado do túnel esconde-se um reino encantado de jardins e vinhas, paz e sossego, onde tudo foi pensado ao pormenor para o mais puro relaxamento, num irresistível convite ao dolce fair niente.
Em vez da clássica receção, somos recebidos com um welcome cocktail no wine bar, onde somos surpreendidos com pequenas toalhas geladas, um truque mais do que eficiente para nos esquecermos, por momentos, dos 37ºC no exterior.
“À chegada, a ideia é que o hóspede faça essa desconexão. Que use as toalhas, tome uma bebida, seja uma água aromatizada ou um vinho rosé, prove as nossas bolachas caseiras e depois seja acompanhado ao quarto, onde já tem as malas à sua espera. E é aí que o check in é feito discretamente”, revela Sofia Moreira, diretora do The Wine Hotel, a nossa anfitriã numa visita guiada pelos segredos da Quinta do Paral.
À descoberta do quiet high luxury
Integrado na rede Leading Hotels of the World e com um total de 22 quartos, o hotel de cinco estrelas está dividido em várias tipologias, onde o quiet high luxury salta à vista, quer nos materiais usados na renovação, a cargo dos arquitetos Saraiva & Associados, quer na linha de amenities da marca de alta perfumaria Amouage. Dieter Morszeck deixa claro que o dinheiro não é um problema.
“O investimento inicial era de 6 a 8 milhões de euros, agora já será um pouco mais. Mas quando temos ideias não há um limite”, confessa. “Claro que precisamos de ter sucesso, mas para isso temos de investir e aí não há limites”.
E isso está bem visível tanto nos vários quartos, decorados com cores neutras e tons de terra, como nos materiais escolhidos a dedo. “Vemos o conforto, a qualidade dos materiais, mas não queremos que sobressaiam em demasia, com muitos dourados”, explica Sofia Moreira.
Todos os quartos têm uma televisão discretamente escondida no móvel da cama, que sobe ou desde com a ajuda de um comando, e graças à qual podemos ter acesso à nossa conta de Netflix ou Disney +. Também temos à disposição um iPhone, o qual podemos usar para aceder às playlists pessoais do Spotify.
A par dos luxos tecnológicos, destaca-se a máquina de café do quarto, que dispensa as habituais cápsulas, que foram substituídas por café moído na hora, outro exclusivo do The Wine Hotel. “Temos o nosso próprio blend, que importámos do Brasil, da Chapada Diamantina, e que é 100% Arábica”, explica Sofia Moreira. “É exclusivo do The Wine Hotel e só pode ser provado ou nos quartos ou no nosso restaurante”.
Quando olhamos de perto para alguns detalhes, percebemos que Dieter Morszeck fez questão de mostrar o seu agradecimento aos portugueses, ao apoiar vários projetos locais. Por todo o hotel vemos cerâmicas nacionais da Costa Nova, Costa Verde, Spal e Vista Alegre, mas também de pequenos produtores da Vidigueira, como a Barru Potery, que se destaca pelas peças decoradas com croché.
Todos os quartos são decorados com a arte de David Reis Pinto, um pintor do Alentejo que se deixou inspirar pelas videiras da propriedade para decorar os espaços com pinturas abstratas.
Um convite a relaxar
Se o luxo e requinte dos quartos convidam a um relaxamento imediato, o verdadeiro descanso está no exterior, na zona do jardim com piscina, ou nas vinhas, que podemos visitar numa das várias experiências que o hotel coloca à disposição dos hóspedes.
Entre passeios de bicicleta ou a cavalo ao final do dia, onde que somos brindados com o voo de bandos de estorninhos e andorinhas, à observação do céu estrelado à noite nos jardins, ao som de um coro de rãs, percebemos que é nestes pequenos/grandes luxos que se esconde o botão do off, tão difícil de encontrar nos dias de hoje e que nos faz desligar das preocupações que ficaram lá atrás, no início do túnel de videiras.
“Muitas pessoas precisam apenas de relaxar e este lugar é perfeito. Temos boa comida e bom vinho, que convidam a desacelerar”, confessa Dieter Morszeck, um apaixonado pela aviação e que faz questão de pilotar o próprio avião quando vem passar uns dias à Vidigueira.
Não é por isso de admirar que o The Wine Hotel tenha o seu próprio avião privado, que coloca à disposição dos hóspedes dos quatro cantos do mundo. Seja para fazer compras em qualquer lugar da Europa ou para uma reunião de última hora, basta pedir um transfer privado no Pilatus PC12 e levantar voo ou aterrar em Beja, a poucos quilómetros da Vidigueira.
Outra das mordomias à disposição dos hóspedes – até agora maioritariamente americanos, brasileiros e alemães – é o acesso a um mordomo privado, um serviço disponível em algumas suites e na Manor House, a casa de famílias nobres de dois pisos que foi renovada e que agora conta com quatro quartos, incluindo a própria cozinha para os hóspedes que não prescindam de viajar sem o seu próprio chef. Em Agosto, um dia na Manor House pode custar cerca de €450, como podemos confirmar no site de reservas online.
O The Wine Hotel tem à disposição 6 colaboradores que receberam formação do International Institute of Modern Butlers para facilitar a vida de quem já está habituado a viver no dia a dia com estas mordomias. “No serviço nunca se diz que não, há sempre uma alternativa. Temos sempre uma sugestão a fazer e queremos ultrapassar as expetativas dos clientes”, explica Sofia Moreira.
Pintar com vinho e jantar ao som de cante alentejano
Nesta experiência de três dias fomos convidados não só a conhecer os bastidores do The Wine Hotel, como a jantar ao som do tradicional cante alentejano, a descobrir como é possível pintar com vinho e a provar as iguarias preparadas por José Júlio Vintém, o responsável pelo restaurante Tomba Lobos, em Portalegre, e que aqui assume a função de chef consultor do The Wine Restaurant.
Com uma cozinha acabada de estrear, o chef preparou um menu de comida de conforto com um toque de sofisticação, confecionada com ingredientes locais e sazonais, onde não faltam pratos típicos da região. Tivemos a oportunidade de nos deliciar com um carpaccio de favas com morangos, bem como gema de ovo com perdiz e caldo da mesma, arroz de garoupa, coentros e lima e borrego no forno em cama de puré de cenoura e legumes.
A acompanhar um menu de luxo, só poderíamos esperar vinhos de luxo, com destaque para o Quinta do Paral Vinha Velha Origem, feito com as primeiras vinhas velhas que Dieter Morszeck comprou quando chegou à Vidigueira. Graças às suas castas únicas, o resultado são vinhos de qualidade superior, com uma maior intensidade de sabor e complexidade.
“Os meus vinhos são os melhores e tive a felicidade de encontrar a melhor pessoa, o melhor enólogo – Luís Morgado Leão – que, além do projeto vínico, está a ajudar-me na gestão do hotel”, lembra o empresário alemão.
A VERSA teve o privilégio de visitar as vinhas velhas, com as quais é preparado um dos vinhos da Quinta do Paral, bem como a adega onde são produzidos todos os vinhos com recurso tanto a métodos ancestrais, como aos mais modernos, com destaque para as cubas em cimento. Tudo aos comandos de Maria Pica, a diretora comercial cujos olhos brilham quando fala com paixão sobre a arte de produzir vinhos.
A preservação da cultura vinícola do Alentejo, e da Vidigueira, é o que faz mover o projeto Quinta do Paral, que também investiu na economia local. Cerca de 90% do staff é da região e “ainda estamos a contratar”, revela Sofia Moreira, que acaba por nos confessar que também Vila de Frades, perto da Vidigueira, saiu a ganhar com este investimento, já que a fundação de Dieter Morszeck, fundada em 2016 para ajudar quem mais necessita, investiu um milhão de euros para revitalizar a zona.
“Temos uma marca jovem, que começou do zero há seis anos. Estamos no meio da natureza, na vinha. Aqui podemos relaxar, podemos ver o pôr do sol e apreciar a vida”, lembra o empresário alemão. Talvez seja esse o verdadeiro luxo por descobrir no Alentejo.