“Acorda que é tarde!”
Evasão

“Acorda que é tarde!”

Vocês sabiam que na gíria dos marinheiros as duas únicas cordas que existem num barco são “a corda do relógio” e “acorda que é tarde”?

Começo a crónica de hoje com este palavreado náutico que, acreditem, se vai revelar muito útil na hora de fazerem férias no mar. Não por causa das tripulações estrangeiras - para quem a palavra não quer dizer rigorosamente nada-, mas para o caso de terem algum amigo fanático por barcos e não correrem o risco de não parecerem minimamente entendidos. É que este é o erro básico da maioria (trocar uma palavra por outra), sobretudo se a bordo de um veleiro ou catamaran, “forrados” a cabos. Ainda assim, não terá sido, certamente, um engano dessa natureza que terá ditado, na semana passada, o naufrágio do My Saga, um iate de origem monegasca de quase 40 metros. Devem ter visto algo nas notícias sobre isto. Um iate novinho, com menos de um ano, a submergir em pleno Verão na costa italiana sob o olhar impotente de quem ia a bordo e dos vizinhos de navegação. Confesso que até a mim me deu uma dor no coração quando vi o vídeo. Imaginem o que é estar a bordo, numas supostas férias de sonho, e o iate começar a meter água. Ninguém merece. Claro que este não é o desfecho esperado quando se aluga um barco. E sosseguem: não é sequer habitual. Pelo que se para o próximo Verão quiserem sonhar com um plano parecido, têm de começar já a pensar em tratar disso. É que por mais incrível que pareça, apesar do mundo estar em crise, o custo de vida ter disparado e estar mais caro que nunca viajar, este é um mercado que não tem sentido com a crise. Pelo contrário: se pensa que o espaço livre deixado pelos russos, que foram declarados quase “personas non gratas” um pouco por todo o mundo, ia baixar o preço dos items de luxo, desenganem-se. É que os americanos entraram em força na Europa, agora que o dólar está mais forte, e que finalmente se livraram das restrições de saída do país, e tomaram conta dos barcos disponíveis. Pelo que não: os preços dos barcos não vão baixar. Pelo contrário, a conta final vai ficar bem mais salgada, também por causa do aumento do preço do combustível, que já se nota bem nas faturas dos últimos meses.

Este Verão, por exemplo, quem tentou alugar de última hora um iate com um mínimo de 20 metros na Côte Azur, teve sérias dificuldades, para não dizer que foi impossível, apesar de um brinquedo destes ficar à volta de 5.000 euros por dia (além das despesas com alimentação, combustível e porto): é que estavam todos já destinados, e muitos deles em viagem. É que do Mónaco, ou sul de França, saem grande parte dos iates que percorrem os principais destinos de Verão da Europa. A rota com a melhor relação custo-benefício é Monaco/St Tropez (separados por menos de duas horas de viagem), que lhe permite ir parando ao longo da costa francesa em algumas das mais belas enseadas da Europa: Eze-sur-Mer, Beaulieu-sur-Mer, Villefranche, Antibes, Cannes... até chegar a St Tropez. Em alternativa, pode rumar ao lado italiano e fazer uma das rotas mais charmosas do mundo: passando por Cinque Terre, Portofino, Capri, ilhas Éoliennes e estender a viagem até à Sicília se o tempo, e o orçamento, permitirem. Outra alternativa é rumar à Sardenha, que continua a ser um dos destinos preferidos dos super iates (muito mais do que Mikonos, por exemplo, que por causa dos fortes ventos pode ser um problema para estes barcos a motor). Ou então percorrer a costa da Croácia e do Montenegro. Tudo isto, enquanto desfrutam das iguarias servidas a bordo. Sim, porque estas tripulações servem verdadeiros banquetes. E estão disponíveis para atender os pedidos mais bizarros dos seus clientes: sabem que estão a lidar com um público exigente. A esse respeito deixo-vos a melhor história que ouvi nos últimos tempos, com o pedido mais original de sempre. Para um mega-iate, onde ia viajar uma família com mais de vinte pessoas, foram pedidas canas de pesca para todos. Mas isso, que por si só até seria considerado normal, veio acompanhado de uma advertência do cliente: é que eles queriam as canas, mas apenas se tivessem a garantia de que conseguiriam pescar. Como é que se pode prometer uma coisa dessas a alguém? Pois bem: o brocker, muito criativamente, arranjou logo solução. “Sem problema algum, pode ter a certeza que todos vão conseguir pescar”. Para isso contratou uma equipa de mergulhadores que seguiu a bordo para garantir que na hora da pesca cada elemento da família teria direito ao seu momento de glória e a um peixe no anzol. Como vêm, é tudo uma questão de orçamento. Quanto maior ele for, mais caprichosos podem ser também.

Gourmet

Quem tem medo do Lobo Mau? Ninguém que prove a cozinha do chef Hugo Guerra

Era uma vez um lobo que se pensava ser mau, até alguém ter provado as maravilhas da sua cozinha.

Evasão