The Modernist cama
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O Prédio mais feio da cidade é agora o mais charmoso alojamento

Um curioso prédio inspirado no modernismo português e situado no centro de Faro transforma-se num alojamento de seis quartos minimalistas e low key. Chama-se The Modernist.

Elegância silenciosa

Nascidos em França, Chris e a mulher Angie estavam perto do Bataclan quando se deram os ataques terroristas de Paris, em 2015, e nesse momento decidiram que era altura de deixar a sua cidade, “a nossa vida em França tinha acabado ali”, descreve-nos Chris quando nos recebe na estação de comboios de Faro. O casal dedicava-se ao alojamento local e criou, em 2006, os Artisan Lofts Paris, recuperando lojas e ateliers abandonados devido à subida dos preços que empurraram artistas e pequenos negócios para a periferia da capital.

Já tinham vindo passar férias a Portugal e gostaram particularmente de Faro onde encontraram pérolas da Arquitectura modernista portuguesa espalhadas pela cidade. “Uma Palm Springs meets Havana”. Assim, de regresso ao país de origem de seus pais, e já com a dupla nacionalidade na mão, Chris esforçou-se por aprender o português, que hoje fala sem grandes solavancos, e durante a pandemia mudou a sua vida para a capital do Algarve.

O The Modernist nasce no encontro com um imóvel abandonado que os farenses diziam ser “o prédio mais feio da cidade”. Inspirado precisamente na Arquitectura modernista e desenhado pelo arquitecto Joel Santana, conhecido por algumas igrejas modernas em Lisboa, foi encomendado em 1974 por uma família da capital. Como tantos edifícios pelo país fora, estava sem destino, “aqui viviam apenas pombos e talvez ratos”, diz Chris no seu largo sorriso. O casal não só o adquiriu para recuperar como escolheu o estúdio de arquitectura Par, que pensou a linda Casa Modesta em Olhão, e respeitou à unha a sua autenticidade, a começar pela fachada em betão com azulejos coloridos e chão rosa típico do Algarve.  

A entrada faz-se através de um corredor que começa porta ao lado da loja da sorte Campião e culmina na livraria Bertrand. É uma porta discreta, como o modernismo gosta, que dá para umas escadas em mármore claro e com um corrimão de madeira e ferro em singelos motivos geométricos. Como é um alojamento local, e não um hotel, o check-in é feito pelo próprio hóspede que levanta e deixa a chave numa pequena caixa selada codificada.

São seis quartos com 45 m2 de decoração despojada, quase austera, as portas e o mobiliário são réplicas dos originais dos anos 70, e feitas por artesão de Olhão, e os equipamentos como a kitchenette são de linhas modernas muito discretas e com o tampo em mármore do Alentejo. Tudo é feito em Portugal, até o sabonete, o gel de banho e o champô. O melhor detalhe do nosso quarto no primeiro andar foi a janela horizontal sobre a cama que fica à altura do chão do jardim do pátio interior, que é partilhado por todos os quartos, por isso as plantas nascem junto ao vidro e parecem querer entrar. No lado oposto, na sala, uma varanda simpática debruça-se sobre uma rua pedonal e em cima do sofá encontrámos um jogo para treinar os nossos dotes arquitectónicos.

Chris e Angie resolveram criar um roteiro modernista do Algarve para os seus clientes, que dizem ser, na sua maioria, arquitectos, designers e artistas, seguirem e um pequenos livro (que custa €40) e também inclui um circuito pedonal dos edifícios art deco de Faro. Este movimento foi liderado pelo arquitecto algarvio Manuel Gomes da Costa, que fez escola e desenhou, entre 1950 e 2002, cerca de 400 edifícios entre Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, onde nasceu. “Gostávamos que Faro fosse mais do que uma cidade de chegada e de partida”, sublinha Chris, “mas que as pessoas quisessem ficar uns dias.” E vale mesmo a pena ficar, a cidade é muito charmosa, luminosa e acolhedora. Do terraço do The Modernist avistam-se os seus telhados e uma nesga da Ria Formosa. 

The Modernist, Rua Francisco Gomes, 27, Faro

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