Quinta do Ventozelo, fotografia de Luís Ferraz.
Evasão

No Ventozelo, encontra-se “o Douro numa quinta” e a simplicidade de uma região

Neste enoturismo composto por 29 quartos, há espaço para respirar e conhecer uma região que tem muito mais para lá do vinho. Da mata à horta, há muito para conhecer na Quinta de Ventozelo.

Ao descer-se a estrada de acesso, a vinha ocupa-nos o olhar. Atrás dela, num azul que reflete o céu límpido, contemplamos o serpentear das águas do Douro que, a dada altura, são engolidas pela imponência dos vales que circundam o horizonte. A toda a volta, para onde nos viramos, há vinhas e vinhas. Sempre vinhas. É assim o cenário com que se depara quem chega à Quinta de Ventozelo, perto de Ervedosa do Douro.

À chegada, encontramos João Paulo Magalhães, o responsável pelas áreas de hotelaria e de restauração da quinta, que nos espera para uma visita à propriedade que se estende por 400 hectares, 200 deles ocupados por vinhas. “Sabe, aqui mostramos a simplicidade e a originalidade do Douro”, diz, antes de termos oportunidade de conhecer os recantos do local que em 2014 foi adquirido pelo grupo francês Gran Cruz (que produz vinho do Porto) e que em 2019 abriu as portas do seu projeto de enoturismo, poucos meses antes de a pandemia despontar. 

Com um total de 29 quartos com capacidade para acomodar 58 hóspedes, as construções da quinta com mais de 500 anos de história tiveram de ser reabilitadas – a arquitetura ficou a cargo do atelier Santelmo & Pereira Arquitetos. “Pegámos em todo o edificado que estava em ruínas e transformámo-lo segundo a história de cada edifício”, explica João Paulo, numa tarde de verão em que o calor duriense dá tréguas.

O cardenho, que era então um dormitório que acomodava 40 trabalhadores, foi transformado numa estrutura com sete quartos, onde ficamos a passar a noite. A cantina, onde se alimentavam os trabalhadores,  continua a ser a cantina (onde está instalado o restaurante com o mesmo nome que recebe consultoria do chef Miguel Castro e Silva), mas o que eram as pocilgas deste lugar, deram origem a cinco quartos (Casa do Laranjal) e os dois balões de betão, onde era guardado o vinho são agora duas suítes. Há ainda um Centro Interpretativo para explorar, onde é possível conhecer a história, biodiversidade e riqueza da quinta.

Num total de sete unidades, há ainda a possibilidade de escolher ficar numa das três casas que completam a oferta hoteleira da Quinta de Ventozelo (Casa Romântica, com uma suíte; Casa do Rio, perto da margem do Douro, com dois quartos e uma piscina privada: Casa Grande, com seis quartos e uma piscina privada que se debruça sobre o rio).

Os 200 hectares de vinha contínua fazem do Ventozelo uma propriedade invulgar devido à tipologia do terreno. “É algo bastante único cá no Douro”, diz orgulhosa Ana Rita Ferreira, responsável pelas atividades de Enoturismo, quando entramos na adega que foi construída em 1840 para uma prova (uma das várias atividades que a quinta proporciona, a par dos percursos pedonais). Com a aquisição da Gran Cruz, a prioridade foi direcionada para a produção de vinhos tranquilos (brancos, tintos e rosés). 

A extensa área de vinha permitiu, então, que, a partir de 2014, começassem a surgir os primeiros monocastas. “Já temos nove monocastas e uma prova acaba por ser a melhor forma de os conhecer”, explica a responsável formada em enologia. “Nos tintos, selecionámos as mais famosas. A Touriga Nacional, a Touriga Franca. Temos também Tinta Amarela, que não é muito comum encontrar por aqui. Nos brancos, temos um Malvasia Fino, Viozinho e Rabigato.”

João Paulo Magalhães acredita que o Ventozelo é único, pois mostra tudo o que o Douro é num só lugar. “Queremos mostrar aqui como se vivia no Douro”, afirma com entusiasmo. Além do apiário, de onde é retirado o mel, e dos 20 hectares de olival a partir do qual é feito o azeite servido no restaurante, a horta da quinta tem vindo a assumir um papel preponderante na oferta gastronómica. “Nestes dois confinamentos, aumentámos a produção de plantação para que passasse a  alimentar a parte vegetal e frutícola do restaurante. É uma maneira de tentar pôr em prática conceitos de sustentabilidade e de caminharmos para a autonomia”, explica João Paulo, enquanto colhe uma framboesa de uma árvore para conferir o seu nível de doçura.

É, aliás, na Cantina de Ventozelo, o restaurante da quinta onde são servidas todas as refeições, que melhor se espelha esse trabalho feito na horta. A oferta é simples, mas talvez seja essa a forma de chamar a atenção, nota João Paulo. Há sempre uma sopa, um prato de carne, outro de peixe e sobremesas. As guarnições, essas, acompanham a sazonalidade. Ao almoço, de segunda a sexta-feira o almoço é servido num menu de €40 (ao fim de semana, são servidos pratos confecionados em forno de lenha, num menu que se fixa em €45).

À mesa, com os vales durienses como pano de fundo, provamos, ao jantar, pratos que espelham essa filosofia de aproximação à terra. A beterraba laminada com requeijão e ervas da quinta, repleta de sabor, ou o lúcio perca grelhado (espécie invasora do rio)  acompanhado por legumes são simples, reconhece João Paulo, “mas transmitem verdade”. “Como é que posso surpreender uma pessoa viajada, com mundo, com dinheiro?”, questiona. “Com simplicidade e honestidade”, contrapõe em seguida. “ É preciso haver um sítio onde se possam encontrar pessoas à volta do vinho e do que se produz no Douro.” 

João Paulo Magalhães estava certo desde o início. No Ventozelo, deparamo-nos com toda a originalidade e simplicidade da região. Afinal, aqui, encontra-se “o Douro numa quinta”.

Quinta de Ventozelo, Ervedosa do Douro, São João da Pesqueira; 254 249 670; a partir de €195 por noite.

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