28 de abril é a data que tão depressa não esquecemos após o apagão que se deu com maior expressão na Península Ibérica. Até à noite ficámos sem luz, sem Internet, sem rede, e em alguns casos até sem água. Durante este período de anormalidade, muitos saíram à rua para confraternizar e sentir que o mundo continuava a girar, até, finalmente, tudo ser reposto. Mas, e depois do apagão?
Sem luz, o frigorífico e congelador deixaram também de funcionar e, por isso, de refrigerar os alimentos. Após cerca de dez horas, alguns alimentos podem já não estar no melhor estado para consumo, mas quais podem ficar e quais devem ser descartados?
A VERSA questionou uma engenheira alimentar, Susete Estrela, que revela os passos chave para saber que alimentos descartar após este apagão.
– Alimentos muito perecíveis expostos a temperaturas acima dos 5°C durante 2 horas ou mais. Especialmente, se for para dar às pessoas dos grupos de risco;
– Se o alimento cheira, parece ou sabe diferente do habitual, não arrisque;
– Alimentos que apresentem alteração de textura, cor anormal, mau cheiro ou bolhas (fermentação) em molhos, lacticínios e preparados;
– Embalagens de queijo fresco opadas (inchadas);
– Se a comida tiver temperada com natas, carnes ou marisco é mais seguro descartar.
"Regra de ouro: se tiver dúvidas, deite fora. A intoxicação alimentar pode ser grave e, muitas vezes, os alimentos contaminados não apresentam sinais visíveis", diz à VERSA.
No que toca aos alimentos de maior risco e evitar, encontram-se então:
– Carne crua ou cozinhada.
– Peixe e Marisco
– Sushi
– Leite pasteurizado, natas, iogurtes.
– Produtos que contenham ovos.
– Comida previamente cozinhada (sobras)
– Maioneses caseiras
E os ovos?
Os ovos suscitam várias dúvidas no momento pós-apagão, pela potencialidade para contaminação por Salmonella, uma bactéria que pode estar presente tanto na casca como no interior do ovo.
Em Portugal, os ovos não têm de estar conservados no frigorífico, no entanto, há quem o faça e é nestes casos que é preciso ter cuidado ao consumir após o apagão que parou a refrigeração dos alimentos.
"O ovo não pode ganhar condensação na casca. Pois essa humidade destrói uma película invisível que protege a sua degradação. É como esperar que uma laranja descascada dure o mesmo tempo que uma laranja com casca", afirma.
Se um apagão se repetir, que cuidados ter?
Desejamos que o cenário que aconteceu na segunda-feira, 28 de abril, não se repita, no entanto, estarmos preparados para conservar alimentos e evitar o descarte pode ser fundamental se o futuro voltar a surpreender.
A engenheira alimentar Susete Estrela deixa algumas dicas.
– Manter as portas fechadas tanto quanto possível;
– Transferir alimentos críticos (como carnes, lacticínios) para caixas térmicas com pacotes de gelo ou gelo em blocos;
– Organizar o congelador: agrupar os alimentos juntos ajuda a conservar o frio mais tempo;
– Preparar-se antecipadamente: ter caixas térmicas, sacos térmicos e gelo armazenado é uma boa prática preventiva;
– Nota prática: um termómetro analógico de frigorífico/congelador é um investimento acessível que ajuda a monitorizar se a temperatura ultrapassou o limite de segurança.
Nota para o facto de que os "alimentos no frigorífico e congelador duram o tempo a que a temperatura se mantiver. Ou seja, os estudos dizem que se não abrirmos a porta do frigorífico, que, antes do corte de energia já estava a 3ºC ou 4ºC, este consegue manter a temperatura nesses 4ºC durante as 4 horas seguintes, só depois começa a subir. No congelador, se estiver meio cheio, aguenta 24 horas a -18ºC, que é a temperatura certa. Se estiver cheio, aguenta 48h aos mesmos -18ºC", remata.
Depois deste período de tempo, há vários fatores determinantes para a durabilidade dos alimentos, como "a frescura inicial antes do apagão e a temperatura a que o alimento está assim que chega a luz". Mais uma vez, aplica-se aqui a regra de ouro: "se tiver dúvidas, deite fora".