Morning Matters | Fotografia: D.R.
Gourmet

Esta nova marca portuguesa quer mudar a forma como bebemos café

Inês de Ayala não gostava da bica portuguesa e depois de conhecer outros cafés pelo mundo trouxe aquele que é mais do que um café: é um convite para um ritual.

Desde que surgiram as cápsulas de café, que a forma como consumimos esta bebida ficou tal e qual como decorre o nosso dia a dia: num trago, despachamos a tarefa e passamos à seguinte. Já quase não há o ritual de preparação do café à mão ou numa cafeteira italiana que quando atinge o ponto de ebulição perfuma a casa com o aroma de um café acabado de fazer, mas Inês de Ayala pretende mudar isso. 

Inês de Ayala, fundadora da marca Morning Matters | Fotografia: D.R.

Porque Morning Matters, a jovem de 29 anos lançou em fevereiro a sua própria marca de café, com a particularidade de ser um café de especialidade, termo que pode gerar algumas dúvidas.  

Afinal, qual a diferença de um café de especialidade para uma bica?  

“A diferença é que o meu café é de especialidade e o outro é comercial”, começa por dizer. “O café de especialidade é transparente na produção (sabe-se exatamente onde foi produzido, a sua variedade e o processo de como passou de fruta a grão). Geralmente, é de apenas uma origem e é pontuado numa escala de especialidade (apenas acima dos 80 pontos é que pode ser considerado)”, diz. 

Já o café tradicional (ou comercial, como refere Inês), “não apresenta um rastreio da origem do produto (é uma misturada de países), não há controlo de qualidade na produção (acabam por ir grãos de café que não foram amadurecidos e outras coisas apanhadas na colheita, como pedras, paus etc), nem há informação sobre quem são os produtores e qual o nível de qualidade de vida dos trabalhadores. Eticamente, não é algo que eu possa apoiar por falta de informação. Afinal, como é possível pagar apenas e, às vezes, €0.70 por uma bebida que passou por tantas mãos do outro lado do mundo?”, questiona.  

No que toca a sabor, há também diferenças. O café de especialidade 100% arábica terá notas de acidez de fruta, ao passo que o café tradicional terá notas amargas pela torra escura.  

E foram precisamente estas notas que fizeram com que durante anos Inês não conseguisse beber café. Até ter o seu.  

Da rejeição à bica a apreciar um café de especialidade

Inês de Ayala é natural de Lisboa e durante anos andou a viver pelo mundo, desde os Estados Unidos a Paris, tendo tido a oportunidade de conhecer outras culturas, outros sabores, outros tipos de cafés. Mas foi mais precisamente numa viagem a Paris que provou o primeiro café de que realmente gostou, um café de especialidade.

Enquanto cá estava, em Portugal, Inês nunca conseguiu gostar daquele que é o nosso café, a bica, nem por açúcar ou leite, e tudo pelo sabor. 

"É excessivamente torrado, resultando num sabor terrivelmente amargo, com notas defeituosas a carvão e a tabaco. Às vezes, para mascarar o sabor a amargo, são adicionados sabores artificiais”, refere e faz ainda uma comparação entre a bica e o café de especialidade.  

“Costumo comparar os dois tipos de café a dois tipos do vinho: o vinho barato de pacote versus o vinho em garrafa de herdades que têm brio na produção de uma bebida requintada”.  

Inês transpôs esse brio para o café, que explorou quando na pandemia se viu obrigada a fazer café em casa, e uma vez tendo background de marketing, aliou-o a tudo o que a motivava a criar uma marca própria.

"Aliado à necessidade de querer beber café de qualidade em casa, criar um momento slow para este ritual matinal e criar um produto esteticamente apelativo para a minha geração, surgiu a Morning Matters", diz. A marca começa com café de especialidade, mas, anuncia Inês, terá outro tipo de produtos fruto de colaborações futuras.

 

Morning Matters e o que importa saber sobre este café

O café de especialidade parece só coisa de cafetarias no centro das cidades, mas aos poucos vai também instalando-se nas nossas casas. No caso do Morning Matters, antes de tudo o que nele se pode saborear, eis o que mais importa.  

“O estar presente naquele pequeno momento de manhã. Idealmente, começar sem stress, lentamente e conscientemente. Passar pelo ritual matinal, com a hidratação do corpo e da mente. E passar pelo ritual do café de qualidade, tomando o seu tempo para o preparar, pensando no dia que aí vem, e no que temos de bom na vida”, convida a fundadora da marca de café.  

Essa preparação pode ser feita na cafeteira Italiana ou numa máquina de espresso (nunca cápsulas), como se pode tomar filtrado (prensa francesa, V60 ou máquina de filtro). Mas, refere Inês, o seu “objetivo é educar no ritual do V60, um dos melhores métodos de extração de café. Com este método, consegue-se apurar as notas mais subtis do café (caso seja de especialidade). E o ritual é muito sereno: a aromaterapia da moagem do café, a hipnose dos três despejos de água a 92°C em movimentos circulares, e a euforia do primeiro gole de café aromatizado”. 

 

Depois deste modo slow morning, sem cápsulas que nos apressam o dia, “Matters” o que sente: o paladar. Isto é, um café com torra feita em Lisboa por um torrador certificado e com tudo aquilo que se quer num café de especialidade: notas frutadas, florais e caramelizadas naturais do fruto do café, colhido no ponto mais maduro. 

Como provar o café da nova geração? 

Apesar de recente, a Morning Matters está em contante inovação. Tudo começou com o Everyday Coffee (€14,90), um café com aromas florais de rose e frutados da maçã, e saiu em abril um novo perfil de café, o Passion Pour Coffee (€16,90), com aromas marcantes de maçã e maracujá.  

Além dos cafés (em grão e moído), a marca tem ainda todos os acessórios necessários para o ritual de preparação matinal, do set Hario V60 Coffee (€25) aos filtros V60 (€5,09)

É tudo vendido online e nas lojas físicas Lovely concept store (lisboa), Nórdico (Braga), no eco jardim tattoo estúdio (Lisboa). No Instagram Inês divulga ainda eventos de degustação de café que permitem conhecer esta nova marca.  

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