Diziam por ai que o Chef Miguel Ângelo organiza jantares com dez momentos, para dez pessoas à mesa. E, como acontece com qualquer boato, o melhor é sempre confirmar.
A aventura começa com uma mensagem de WhatsApp que indica a localização, hora e sugestão de vinhos que melhor harmonizam com o menu surpresa. E é logo aqui, quando estamos a escolher a garrafa que vamos levar ao jantar, que nos sentimos como num primeiro encontro que alguém nos arranjou, afinal, esta experiência é um “Boato às Cegas”.
Não conhecemos ninguém com quem vamos partilhar a mesa, mas não falta entusiasmo, já que não nos vamos desiludir com o que nos espera. Entre um ambiente animado e dez pessoas que se querem conhecer, a probabilidade de nos identificarmos com algum dos estranhos é grande. Silêncios à mesa? Não contamos com isso e, entre um mundo de conversas, podemos sempre evitar falar de política para ninguém se chatear.
E, se não fizermos amigos, vai certamente chegar o melhor à mesa, dado que o menu é preparado pelo Chef, que já passou pelo restaurante “Il galo D’oro”, na Madeira, com 2 estrelas Michelin, seguido do restaurante Eleven, com 1 estrela Michelin.
Seguimos então para a localização em Lisboa, a casa do Chef Miguel Ângelo, onde nos sentimos tão acolhidos como em casa de um amigo. Temos de admitir que não somos particularmente fãs do ambiente sereno nos restaurantes de fine dining, pelo que a proposta descontraída do Boato, que apresenta igualmente pratos apurados, já anunciava conquistar-nos. Mas antes de pegar nos talheres, servimos o copo de vinho e começámos a dirigir-nos para a mesa após breves instantes na cozinha do Chef.
Para dar um empurrão aos desconhecidos, na mesa de jantar encontram-se cartas “quebra gelo”, no entanto, na ocasião em que testámos o conceito nem foi mexida, porque gelo só o do frape do vinho.
Os Boatos entre pratos
Para nos conhecermos, claro que questões “como te chamas”, “és de onde” foram os pontos de partida para sabermos as histórias de vida uns dos outros. A conversa inicial quase que nos faz esquecer o que nos leva (também) ali, as criações do Chef Miguel Ângelo, mas isso foi só até chegar o primeiro de dez momentos (oito salgados, com opções vegetarianas, e dois doces).
1.º momento: cavala à bulhão pato com óleo de coentros.
Este prato desapareceu rapidamente e não era sinal de fome (já tinhamos passado pelo pão com manteiga e flor de sal), mas culpa da combinação de sabores que não tinha nada para desiludir. Mais umas risadas e histórias contadas e, chegado o segundo momento do menu, já todo o grupo parece conhecer-se há anos, e a diferença de idades não foi um problema.
2.º momento: molejas à marinara // alternativa vegetariana: couve flor mergulhada num molho branco cremoso.
3.º momento: pastel de pata, com pato confitado e molho holandês // pastel com cogumelos e molho holandês – é um best seller que inicialmente todos pensavam tratar-se de uma sobremesa.
4.º momento: puré de castanha, cogumelos, redução de sobra de vegetais e bolacha de farinha de castanha.
5.º momento: esparguete com manteiga fumada e cebola caramelizada – uma brincadeira que remete para quando o Chef Miguel Ângelo cozinhava nas suas folgas um simples esparguete com manteiga, que nesta versão surge com todos os sabores elevados.
6.º momento: choco cozinhado a baixa temperatura, molho amendoim e óleo de coentros.
7.º momento: corvina cozinhada a baixa temperatura, com puré de couve flor e óleo de aneto.
8.º momento: mandioca frita, molho barbecue, maionese menta, lombo borrego e molho dos ossos borrego – representa a famosa expressão "comer até ao tutano" e facto é que nada restou // ravioli com abóbora, cebola carameliza e tomilho
9.º momento: gelado de lima e coentros, com crocante merengue – remete para a viagem do Chef à Índia.
10.º momento: brioche quente e creme inglês com café – resulta de uma brincadeira do Chef sobre o que comia ao pequeno-almoço em Itália e, neste caso, serve para terminar a refeição, com o mesmo aconchego de um brioche com café ao início da manhã.
Não quisemos interromper nenhum dos momentos acima descritos para contar que, entretanto, algumas foram as garrafas de vinho esvaziadas, inside jokes criadas, e até pratos partilhados. Se pensas que houve spoilers, desengana-te, cada jantar Boato pode ser diferente. No fim, não se criou um grupo de WhatsApp como noutros jantares, mas tudo culminou na troca de contas de Instagram (talvez fruto das gerações que se juntaram à mesa) e a promessa de um regresso do exato grupo àquela mesa muito em breve.
Mas, afinal, qual é o boato? Descobrimos e obviamente não nos falta vontade de o espalhar.
Perdoem-nos os fãs do pastel de pata, que já faz furor nas redes sociais, ou aqueles que se deliciaram com o brioche, mas este conceito vai muito além dos dez memoráveis momentos gastronómicos. Nenhum deles seria tão especial sem a companhia surpresa ao longo do jantar e é pela combinação da fatores que ainda na despedida já ficamos com vontade de voltar.
E, se faltar um pretexto, os jantares de Natal estão à porta. A experiência “Boato às Cegas”, que junta desconhecidos, é uma das opções para entrar no espírito, ou então o “Boato em Casa”, em que todos se conhecem e se juntam num local selecionado por um dos participantes.
Quem quiser oferecer a experiência, também já tem disponíveis os vouchers presente Boato, no valor de €50 (equivalente a um jantar). Para reservar ou oferecer qualquer experiência, basta aceder ao link na bio da página do Instagram.