O restaurante Cavalariça Comporta
Gourmet

Aqui brilham os vegetais, a boa conversa à mesa e o pão alentejano

Sabes de que restaurante Guia Michelin falamos? Uma cozinha de proximidade e próximo de nós, na Comporta.

Se comer fora fosse apenas pela comida, isto teria muito pouca graça. A combinação da conversa, do espaço, do contexto, das pessoas que nos recebem e guiam e, claro, da comida do local é o que nos faz querer sair de casa e experimentar locais novos, regressar àqueles de que gostamos e recomendar. E o Cavalariça Comporta é um desses lugares para recomendar e regressar.

Nos sete anos de vida, este local já viu por ali passarem nomes famosos e gente de muitas línguas diferentes, mas a filosofia criada por Bruno Caseiro permanece, a de um espaço acolhedor e informal, de pessoas que ajudam pessoas e numa economia circular, para culminar numa carta de vinhos e pratos nos quais imperam os vegetais e o mais natural possível. Mas exuberante ao mesmo tempo. 

Um restaurante que junta várias pessoas fora do restaurante

A filosofia é simples, mas verdadeira. Boa (grande) parte do que é servido à mesa vem de amizades e ajuda a pessoas que criaram os seus negócios na agricultura e na criação ali perto. Os vegetais unem o Cavalariça à “Cerquinha”, o espaço onde Rita desenvolve, em colaboração com o restaurante, a criação dos alfobres e o cultivo dos vegetais que dão cor a todos os pratos.

Na ausência do Chef Bruno Caseiro coube-nos a honra das explicações dos pratos pelo Chef João, que nos explicou em detalhe cada combinação. Os ingredientes são puros. Vai ficar na memória o prato de beterraba, que já foi inclusive pedido por vários clientes como sobremesa (talvez pela cama de puré de pêra ou, simplesmente, porque é muito guloso? Eu alinho! Aliás, podemos pedir duas vezes, para entrada e depois sobremesa, p.f.?).

Mas não é apenas aqui na horta. O azeite é da “O Amor é Cego”, uma dupla de irmãos que investiu tanto na recuperação do olival dos avós que só mesmo por amor e não pelas economias se poderia ajuizar o feito. E as colaborações vão-se desenrolando. Aos vinhos, muitos de pouca intervenção, biológicos ou naturais. À carne (a presa ibérica que experimentámos é das melhores coisas que veio para a mesa na VERSA este ano!).

E claro, para terminar: a nossa mestre de cerimónias, Inês, que na sua natural simpatia nos foi recebendo, explicando, conversando e feito o tempo deslizar de forma serena e lânguida ao ponto de a refeição ser mais um convívio. À vinda de cada prato ou à nossa chamada para mais uma dúvida ou copo com água, lá íamos falando da Ásia e de Portugal nos seus contrastes. Ou das mil histórias e do que faz a Cavalariça e dos seus pratos de base vegetal únicos. E o tempo voou, entre mesas ao lado com portugueses, espanhóis, franceses e ingleses.

Mas vamos então aos pratos

Começámos com um cocktail picante preparado pela Carla. Ainda um cocktail sem nome, porque o está a ‘afinar’, ao que sugeri chamarem-lhe VERSA, pois claro. Até porque é magnífico. Fora da caixa. Controverso. Como nós gostamos.

O Chef João trouxe-nos então a Tempura de Kale, com molho adaptado à época (no nosso caso em pleno verão foi um de pimento vermelho para ligar à época de sardinhas assadas). Começamos bem. Não sendo inesquecível, é um crocante para abrir o palato.

Passámos à Beterraba. Um copo de “Protótipo”, com uma versão de Chardonnay de fermentação espontânea em barricas por alguns meses, fez o pairing perfeito. Os cubos de queijo no prato saltitavam na nossa boca. Mas eram os dois tipos de beterraba na cama de puré de pêra que nos deslumbravam, fazendo ir ao cesto do maravilhoso pão alentejano para deliciar em dobro. Um dos eleitos da refeição.

Mas o pódium seria disputado. Seguiu-se a salada de tomates vários, que nos fez rapar o prato (mais pão p.f.!). Uma combinação exímia na qual se nota que a arte da sensibilidade do Cavalariça no domínio dos vegetais está apurada. Conseguir que os vários tipos de tomate não resultem numa confusão de sabores, mas sim num encontro em que sobressai um fio condutor, mas depois conseguindo cada tipo de tomate ganhar a sua expressão caso o comensal opte por picar individualmente.

Fechámos os pratos para partilhar com a couve-flor grelhada e fumada, um ex-líbris que não sai da carta. O feijão frade estava magnífico. Um prato forte, de grande personalidade. Não se consegue facilmente. De novo, a ideia simples passa depois por uma execução demorada e complexa, com muitos pormenores que o Chef João nos explica e dão a razão para termos achado tão exuberante.

Fechamos com a Presa de Porco Alentejano. Um dos pratos do ano para nós na VERSA. Em primeiro, pela qualidade da carne. Não parecendo sequer porco. Pela cor, pelo lado tenro e suculento. Pelo sabor suave. Depois, pela reinvenção, ao brindar com um molho de pimenta inspirado no típico molho do leitão da Bairrada. Segue-se uma batata palha feita na casa e uma taça extra com as famosas batatas em três frituras, para quem quiser mais para demolhar. E a peça feliz no meio disto tudo, uma salada de alface flamejada com laranja de babar, com a acidez certa para encaixar no molho de pimenta e na carne. Excecional.

Também há espaço para os gulosos

Segue-se um vinho de Carcavelos para trazer o fortificado mais antigo de Portugal para a mesa; uma espécie de Porto Tawny que se preenche de mais laranja, além do figo, mel e nozes que marcam o Tawny. É que à mesa serve-se agora o Parfait, junto com um merengue perfeito com pedras de sal do Algarve, tudo sobre uma base de bolo de sésamo negro. Isto só por si já valeria a visita.

Chamou-se em tempos “Parfait de Azeite”, mas ninguém lhe pegava; decerto assustados pela untuosidade sugerida. Mas o rebranding fez-lhe justiça e é hoje um campeão de pedidos para terminar a refeição, sendo a única sobremesa que ainda resiste na Carta nos sete anos de história do Cavalariça na Comporta.

Veredicto VERSA

  • Um espaço Guia Michelin Portugal 2024 sem dúvida

A ter em conta

  • Alguns pratos podem ser desafiantes nos sabores, pela sua intensidade e arrojo, pelo que o apoio na conversa com a Inês ao fazer o pedido é essencial

Repetimos e Recomendamos  

  • O acolhimento do Staff
  • A Beterraba e Pêra
  • A Salada de Tomate
  • A Presa de Porco Ibérico
  • O pão!

 

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