Restaurante Insólito
Gourmet

Que bem se está no Insólito

Tudo se vê do terraço do Insólito, onde se bebe um cocktail antes do jantar para depois só se comer coisas boas num pequeno e saboroso menú de degustação a preços possíveis. A Versa gostou e recomenda.

Imagine uma varanda sobre o miradouro de São Pedro de Alcântara que, por sua vez, se debruça sobre Lisboa linda. As colinas, o castelo, a Sé, a Senhora do Monte, o rio. Fica no topo de um palacete do século XIX e coroa o Independente suites & terrace, que já recebia os turistas de braços abertos antes da histeria hoteleira e imobiliária do momento, por isso, sabe bem o que faz, e faz bem e com sobriedade, uma das razões porque sempre gostámos do Insólito. Já experimentámos a sua carta outras vezes, e ao longo dos anos, mas agora parece ter acertado mais, por isso damos os parabéns ao chef David Vieira que cruza muito bem os clássicos sabores da cozinha portuguesa com aromas, ingredientes e cruzamentos de inspiração asiática.

Tudo começa no terraço, onde os cocktails de assinatura se complementam com um pequeno menú de snacks. E se nos distraímos, ficamos ali embalados pelo dj, as bebidas óptimas e a vista deslumbrante da cidade. Ouvimos falar da gamba do Algarve e shiso ou dos charutos de bulhão pato de alga, mas atirámo-nos ao couvert de pão de massa mãe com manteiga fumada dos Açores e não precisámos de mais nada enquanto saboreámos um leve White Rabbit e um saboroso The Mad Hatter, dois cocktails originais do Insólito. Ali, toda a iconografia anda à volta da história de Alice no País das Maravilhas.

Infelizmente já não se janta no terraço como dantes e tivemos de ir para dentro, mas se há sala confortável é a do Insólito, parecemos estar na sala de jantar de alguém, sob os grandes origamis que pendem do teto e entre os quadros pendurados ao contrário. Servem-nos um Respiro branco, da serra de são Mamede, para começar a provar as delícias do chef e chega-nos à mesa um miminho: uma cenoura bebé confitada num caldo à algarvia, beringela e uma brisa de canela, que aromatiza apenas, óleo de coentros e folha de shiso raspada e ficamos logo alerta com aquela terminação de picante asiático confortável e envolvente.   

Seguem-se umas maravilhosas ervilhas frescas grelhadas, com aquele aroma fumado que adoramos, em puré e num molho com redução cítrica de açafrão e queijo fresco artesanal, um prato super perfumado e leve. Ao qual se seguiu um dos nossos favoritos: a cavala em molho de soja, com favas frescas e chouriço de porco ibérico num leve dashi de espinafres, com óleo de paprika e óleo de coentros e redução de molho de açafrão e limão preservado: Parece muita coisa, mas é levíssimo, fresco, super bem equilibrado.  

Experimentámos o rissol de gambas do Algarve, levemente picante, que já namoráramos na lista de snacks, mas aqui chega-nos com pasta tom yum e limão. Assim como charuto de Bulhão Pato de algas com massa brick, tudo super leve e saboroso. Os sabores descobrem-se suaves, como nós gostamos, e por camadas subtis.

Tudo culmina num cremoso arroz carolino de cogumelos shiitake com um leve toque fresco e picante do manjericão roxo, mas poderia ter culminado num cachaço de porco alentejano, gamba rosa e guarnições do cozido. E, para a sobremesa, um take na rabanada tradicional portuguesa, mas feita num bolo do caco embebido em natas fumadas, azeite dos Açores, de laranja de toragashi.

Adorámos o facto de o menu de degustação ter como base “a sustentabilidade, sazonalidade e a nossa herança mercantil", explica o Chef David, que trabalha sabores familiares e confortáveis elevando-os com a sofisticação asiática. Percebe-se que é um viajante porque a sua cozinha tem imenso mundo e muita simplicidade dentro da sua complexidade – só quem sabe mais sabe e conhece consegue fazer um bom resumo. O grande mundo fê-lo gostar ainda mais da cozinha portuguesa e isso nota-se. Depois de trabalhar com Antoine Westermann, Angela Hartnett, Rafael Dvorak, Ljubomir Stanisic, Bruno Rocha ou Kiko Martins e, mais recentemente, ao lado fantástico chef Nuno Mendes do Bairro Alto Hotel que tanto o inspirou. Chegou aqui e aterrou bem.

Adorámos a despretensão, porque apesar de serem pratos cuidados pareceram-nos brisas de sabor. A despretensão na apresentação dos mesmos e o entusiasmo com que a empregada de mesa, Sara Esteves, nos explicou cada detalhe. Adorámos a informalidade e o preço ser justo e acessível a quem goste de comer bem e ser feliz no coração da cidade. A Versa vai voltar, com certeza, e vai trazer amigos.

Menú de degustação €45.

R. de São Pedro de Alcântara 83, Lisboa

Terça a quinta, entre as 18h-00h e sextas e sábados entre as 18h-01h.

 

 

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