Fotografia: Bela Zola/Mirrorpix via Getty Images
Gourmet

Um menu de Chef que termina num grupo de WhatsApp? Não é Boato

Tudo começa no Instagram, mas pode acabar num grupo de WhatsApp ou só numa experiência social saborosa que fica para sempre na memória. Está espalhado o Boato.

Nem sempre um boato acaba em caos e discórdia. Aliás, até pode juntar várias pessoas na mesma mesa.  

Foi com esse propósito que o chef Miguel Ângelo, de 33 anos, decidiu lançar o Boato. Quer que todos conheçam um outro lado da restauração, por defender que "restauração não é só comer", e para isso criou um conceito de Supper Club, onde pessoas que se conhecem ou que nunca se viram partilham uma refeição fora de um restaurante.  

“Quando digo que a restauração não é só comer, digo-o porque sinto que a comida à mesa é apenas a base por cima da qual falamos, rimos e partilhamos momentos com amigos que mais tarde recordamos”, diz o chef à VERSA.  

Chef Miguel Ângelo | Fotografia: Instagram

Com isto em mente, Miguel Ângelo decidiu que tinha tudo aquilo de que precisava para proporcionar esses momentos, depois de ter uma vasta experiência no currículo. Começou a carreira na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, que antecede a um estágio no restaurante “Il galo D’oro” na Madeira, com 2 estrelas Michelin, seguido de uma passagem no restaurante Eleven, antes de se aventurar pelo mundo.  

Esteve em Berlim a convite de um grande amigo, Daniel Sangareau, depois em Barcelona (nos restaurantes Nino Viejo, Hoja Santa e no estrelado Mont Bar) e em Itália (no Al Garamond, como Chef, e Eragoffi, como sub-Chef).  

De volta às origens, Miguel Ângelo trouxe uma tremenda vontade de começar algo novo, pondo em prática o que aprendeu lá fora. Foi então que, impulsionado pelo amigo Daniel Sangareau, decidiu criar o que hoje é o Boato.   

Que Boato se quer espalhar? 

O Boato começou sem nome e a ideia era simples: fazer jantares exclusivos e intimistas, que fossem ao mesmo tempo uma experiência gastonómica e social. No entanto, como um boato, depressa evoluiu.

"Começou por ser room de room, passou rápido para rumor e, numa conversa entre amigos, ao explicar o porquê de rumor, tive de dar um sinónimo e apareceu boato. E ficou", conta o chef. 

Agora que está solidificado, podem então espalhar o conceito do Boato: é uma experiência em que “os papeis se misturam e a parte social da refeição é tão importante quanto a gastronómica. Cada Boato consiste numa mesa de dez pessoas desconhecidas, ou não, um menu de degustação de dez momentos e as bebidas que ficam a cargo dos participantes”.  

Comecemos então pelas bebidas, porque são elas que por vezes ajudam ao caráter social desta experiência.  

“Normalmente, a partilha dos gostos pessoais de cada um no que toca a vinhos, cervejas ou outras bebidas é o tópico que ajuda a quebrar o gelo”, refere Miguel Ângelo. 

 

O gelo por vezes chega a derreter e não faltam histórias que o chef vai reunindo durante a preparação de cada prato.

“Já tive jantares em que o início foi tímido e, a partir do segundo prato, já havia risadas gigantes. E já tive jantares nos quais as pessoas acabaram a criar um grupo de WhatsApp”, lembra e continua com mais um episódio. "Fazemos um jogo no final, que não posso revelar. Mas uma das histórias que achei mais piada, pelo momento, foi uma das pessoas partilhar que perdeu a virgindade depois do jogo da derrota entre Portugal e Grécia na final do Euro 2004”.  

As memórias também ficam no paladar  

Nos jantares do Boato, não há apenas um protagonista. O convívio tem tanta importância como aquilo que junta todos à mesa. E, no entender do Chef, este conceito pedia algo diferente dos habituais jantares.  

“Não é uma critica, mas a nossa cultura gastronómica é muito de tacho na mesa e pratos cheios de um mono sabor. Eu adoro comida portuguesa, mas divirto-me mais num conceito de tapas e ir petiscando sabores diferentes", diz Miguel Ângelo.  

Por isso mesmo, o Boato funciona com menus de degustação surpresa, alguns em colaboração com outros Chefs, que vão variando conforme o tipo de jantar organizado, ainda que alguns pratos não variem.  

“Temos pratos que se mantêm, como é o caso do nosso pastel de pato, que já se tornou um clássico. No fundo, é fruto das minhas experiências e inspirado no pastel de nata. A massa é a clássica do pastel de nata, com um recheio de coxas de pato confitadas e um molho holandês", revela.  

 

E um restaurante Boato? 

Seja num espaço na região de Lisboa escolhido pelo Chef (no caso da experiência “Boato às Cegas”, que junta desconhecidos) ou no local selecionado por um dos convidados (situação do “Boato em Casa”, em que todos se conhecem), nunca existe um sítio certo para espalhar este Boato. E assim parece que vai continuar.  

“Penso que o conceito não combina com um espaço físico fixo e ainda está numa fase em que precisa de uma liberdade criativa que não acomode a estrutura de um restaurante. Adicionalmente, este conceito permite-me a flexibilidade necessária para continuar a explorar o mundo e desenvolver novas receitas. Por agora, quero estar assim, num futuro não sei”, afirma o chef Miguel Ângelo.  

Para fazeres parte deste Boato, resta reservar a experiência.  

É possível fazê-lo através do link na bio da página do Instagram, que permite selecionar uma das datas possíveis. O custo de cada jantar é de €50.

Nécessaire

Skincare à mesa? Já o podes fazer neste restaurante em Lisboa

A Vichy serve os nossos maiores desejos, levando a preocupação pela pele cuidada à mesa. Durante o mês de outubro, é neste restaurante lisboeta onde a magia acontece.

Gourmet

IOL Footer MIN