Cada um tem as suas fobias e nós, além de aranhas, nunca suportámos cobras (nem em imagens, nem ao vivo). Mas há uma que até suportamos: a Cascavel. Curioso não é? Explicamos porquê: é o nome de um recente gastrobar em Lisboa, localizado na zona de Santos, e que apesar de nos receber logo à entrada com uma cascavel na maçaneta, tudo lá dentro faz esquecer a fobia.
O animal é apenas a base do conceito, um gastrobar inspirado na Lisboa dos anos 80, altura em que aos bares da cidade eram dados nomes de animais, sendo neste caso uma cascavel pela oferta exótica na carta. Mas já lá vamos.
O Cascavel foi criado pelos sócios Tomás Coelho e Carlos Aragão e ao entrar encontramos um espaço acolhedor, com oito mesas e lugares ao balcão para quem prefere estar mais próximo dos cocktails pensados pelo chef de bar Gonçalo Santiago.
Não há fotografias de cobras, felizmente, só um ambiente descontraído, que convida a um desses cocktails antes do jantar, com o risco de estes nos convencerem a ficar para os vinhos selecionados por Tomás, na carta apenas identificados por Seleção, Colheita ou Reserva, abrindo infinitas opções de escolha entre o que está disponível na garrafeira.
Por onde começar? Por um falso açaí
Num gastrobar, é natural que aquilo que mais chama todas as atenções seja a carta de bebidas e no Cascavel a escolha torna-se difícil por todas as receitas serem criativas e fugirem aos clássicos Negroni ou Margarita, além de haver um total de dez opções.
Íamos quase para o Habibi (um Moscow Mule adaptado, feito com vodka com infusão de sementes, lima e espuma de gengibre), €12, quando Valdano Carvalho nos sugere um dos best sellers: o Tupã, feito com cachaça, açaí, lima e menta (€13).
Chegado à mesa, parece um sumo de açaí, mas percebemos que é um falso açaí assim que se sente a cachaça, perigosamente disfarçada com o doce da famosa fruta brasileira, equilibrada com a acidez da lima.
Ora, o que era para ser só um copo, abriu o apetite e virou jantar, e só assim faria sentido, já que depois do "bar", faltavamo-nos conhecer o "gastro" que denomina o conceito deste novo espaço em Lisboa.
Ficámos sem GPS, mas chegámos ao destino
Finalmente, é chegado o momento de perceberes a verdadeira razão do nome Cascavel. Sendo um animal exótico e que se desloca sorrateiramente, só esta espécie faria sentido num gastrobar que tem uma carta pautada por sabores exóticos e de vários cantos do mundo, também estes sorrateiros para nos fazer demorar nas descobertas.
As receitas foram pensadas por Tiago Hung, natural de Angola, origens que transpõe para a carta e às quais junta influências do Brasil à Índia.
Há pratos para entreter uma conversa, como o pão de queijo com vitela desfiada e pesto kizaka (€12/ três unidades), e o Afri Puri, um puri de mandioca e batata doce com molho agridoce de tamarindo (€8/ três unidades) e, para aconchegar, Mufete de Bacalhau, punheta de bacalhau com húmus (€13) e Magoga de Camarão, uma sandes de camarão frito em pão brioche e coleslaw (€14).
A meio desta degustação, ficámos sem GPS dada a mistura de sabores de todo o mundo que nos dizem constantemente para onde ir. Contudo, não nos perdemos e chegámos ao destino: a satisfação plena, acompanhada já nesta altura por um copo Seleção de Quinta de Santa Teresa Singular White 2021 e de boa companhia, como pede um gastrobar.
Diríamos que depois desta visita, deixámos de ter fobia, pelo menos à Cascavel.
Localização: Rua da Esperança 170, 1200-808 Lisboa
Horário: todos os dias, das 17h às 00h