Alex Atala é o cabeça de cartaz do festival
Gourmet

Utopia no jardim: o primeiro festival internacional de comida de rua está quase aí

Há um novo festival gastronómico em que os grandes nomes da cozinha se aliam às novas gerações e aos cozinheiros de mão-cheia desconhecidos. Eis o Foodtopia.

O verão de 2022 assinala o regresso em força dos habituais festivais da estação, mas também traz novidades que fogem ao espectro da música. Falamos, neste caso, do Foodtopia, um festival internacional de comida de rua que tem lugar no próximo sábado e domingo, 2 e 3 de julho, no Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa, em Belém. Durante dois dias, o público poderá, assim, provar dezenas de pratos criados por mais de 50 chefs, entre os quais Alex Atala, brasileiro à frente da cozinha do D.O.M, restaurante de São Paulo com duas estrelas Michelin, Hans Neuner (Ocean, com duas estrelas, em Porches) ou de Henrique Sá Pessoa (Alma, com duas estrelas, em Lisboa).

Mas engane-se quem pensar que este é apenas mais um festival de comida de rua típico. “Não há foodtrucks, hambúrgueres nem bifanas”, começa por dizer Paulo Barata, um dos fundadores da Amuse Bouche, agência que organiza esta primeira edição. “Por acaso até há uma bifana – a porcalhona do Pigmeu, que não é convencional”, interrompe Ana Músico, o outro rosto da agência responsável por nos ter trazido outros festivais como o Sangue na Guelra ou Arrebita. “Ao contrário de outros festivais, vamos ter duas ou três propostas com pão. De resto, estamos a falar de trabalho de autor”, continua.

Alex Atala, o rosto do festival, traz do Brasil as suas famosas formigas da Amazónia, mas incorpora-as numa sandes de pernil com porco nacional; já Rodrigo Castelo, do Ó Balcão, em Santarém, “criou um prato de raiz, um foie de pato bravo e cogumelos, caramelos de Abafado e gel de pickles de cebola e avelãs”, conta Ana. Alexandre Silva, do Loco, em Lisboa, com uma estrela Michelin, traz, por sua vez, um peixe de peniche marinado com batata doce do sudoeste alentejano, detalha Paulo. Estes são apenas alguns dos muitos pratos para descobrir num festival que, mais do que tudo, “quer democratizar o acesso à comida de autor e dar a conhecer o potencial imenso da cozinha portuguesa”, explicam.

Além dos grandes nomes, este é um festival que quer dar palco ao novo talento. O desafio comum colocado a todos, diz Ana, foi criar pratos simples, descomplicados, que possam ser comidos com as mãos. “As pessoas podem esperar uma enorme variedade; carne, peixe, vegetariano e até sobremesas. Tudo de uma forma acessível [o bilhete tem um custo de €10 e cada prato é vendido a €6]. Não é cozinha de rua. É cozinha na rua. Estamos a razer cozinheiros com estrelas Michelin para fazerem finger food, uma cozinha criativa que subverta alguns pratos tradicionais.”

E nem só de alta cozinha se faz este festival. Ana e Paulo tentaram chegar a outras comunidades – nomeadamente à africana, “que tão bem espelha a multiculturalidade de Lisboa” e é por isso que cinco dos cozinheiros convidados são oriundos de Moçambique, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. “Vamos ter um caldo de Mancarra feito pela Dulce Silva, uma cozinheira de mão cheia, a cachupa do Tony [Fox Coffe] e o Helt Araújo, de Angola, vai usar uns vermes desidratados”, exemplifica Paulo. As sobremesas, claro está, não estão esquecidas. Hugo Candeias, do Ofício, em Lisboa, traz a sua famosa tarte basca, sendo acompanhado pelas proposta de Américo dos Santos, chef pasteleiro do Belcanto ( restaurante com duas estrelas Michelin de José Avillez, de André Lança Cordeiro, do Essencial, em Lisboa, ou de Natalie Castro, do Isco, também em Lisboa.

Nos dois dias de festival, o nome de Alex Atala surge em ambos, já que Ana e Paulo sentem-se “completamente alinhados com a sua abordagem e maneira de estar”.. Mas há um rol de nomes de peso que não se repetem a fazer-lhe companhia. No primeiro dia do evento que ocupa o Jardim Botânico Tropical, Rui Paula (Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, com duas estrelas Michelin, Alexandre Silva (Loco, em Lisboa, com uma estrela Michelin, Manuel Maldonado (chef executivo do 100 Maneiras, com uma estrela Michelin ou Pedro Almeida (Midori, com uma estrela) juntam-se a novos nomes a dar cartas no panorâma gastronómico como Alana Mostachio (VdB Bistronomie, Nikita Polido (Celmar), Natalie Castro (Isco), Bernardo Agrela (West Mambo) e João Magalhães Correia (Tricky’s).

No segundo e último dia, Alex Atala junta-se a Henrique Sá Pessoa (Alma, com duas estrelas Michelin, em Lisboa), Hans Neuner (Ocean, com duas estrelas Michelin, em Porches, Vincent Farges (Epur, com uma estrela Michelin, em Lisboa), Louis Anjos (Al Sud, com uma estrela Michelin, em Lagos), Rui Silvestre (Vistas, com uma estrela, em Portimão), Gil Fernandes (Fortaleza do Guincho, com uma estrela Michelin) ou Tiago Bonito (Largo do Paço, em Amarante, com uma estrela Michelin). Marlene Vieira (que acabou de abrir o seu projeto de fine dining Marlene,). António Galapito (Prado), Hugo Brito (Boi Cavalo), João Sá (Sála) são outros dos nomes que encerram a programação do festival. 

A presença de dois restaurantes icónicos de Lisboa, o Ramiro e o Solar dos Presuntos, é também inédita no contexto de um festival gastronómico, apresentando pratos típicos como gambas al Ajillo (Ramiro) e uma açorda de lavagante (Solar dos Presuntos). No domingo, junta-se ainda à festa Ricardo Nogueira, do restaurante Mugasa, em Sangalhos, que vai servir uma sandes de leitão, “com pão acabado de cozer na hora”, garante Paulo Barata.

A animar o ambiente, haverá ainda música ambulante, mas também uma componente artística “ com atores que irão surpreender as pessoas”, revela Ana, mas também atividades para crianças e um pequeno palco para storytelling gastronómico.

“Batizámos o festival como Foodtopia por causa do local. Mesmo que um dia mudemos de sítio, terá de continuar a ser num lugar encantado”, antecipa Paulo. “Faz todo o sentido esta utopia de um lugar mágico em que a comida nos une.”

Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa, Belém. Sáb 12h-22h30, Dom 12h-22h. €10 (até 12 anos a entrada é livre).

Design e Artes

O olhar político, e até controverso, das novas exposições da Underdogs

A galeria Underdogs, do aplaudido artista Vhils, inaugura duas exposições em Xabregas: Está Iloviendo do artista espanhol Escif e Vacancy de Dimitris Trimintzios aka Taxis. Ambos refletem e agem sobre o espaço abandonado, com tudo o que têm de vazio - e tudo o que têm de esperança também

Gourmet