Já não é a primeira vez que o GPS nos leva por caminhos confusos, fazendo-nos olhar de porta em porta a ver se estamos no sítio certo. E foi o sítio certo, na hora e dia certos que chegámos ao No Convento, restaurante em Santos, Lisboa, que, como o nome indica, está a paredes meias com o Convento das Bernardas.
Neste mesmo espaço funcionou durante cerca de 20 anos o emblemático restaurante A Travessa, detido por dois franceses, mas desde o início de 2024 que deu lugar ao novo conceito No Convento, desenvolvido pela Reia Collective e pelos co-fundadores e sócios Sacha Gielbaum e Emil Stefkov.
Do legado anterior ficam as influências francesas, que se fundem com a cozinha tradicional portuguesa num menu desenvolvido pelo Chef Executivo Pedro Henrique Lima, em conjunto com o Chef Residente João de Oliveira e o apoio dos Chefs internacionalmente reconhecidos Alexis Gielbaum e Maxime Kien.
Do passado fica também a estrutura que preserva os mais de 300 anos de história do Convento das Bernardas, que se faz notar em alguns pormenores, como o chão e lareira originais. Pode já não arder lenha, mas pelo restaurante não faltam focos de luz a criar um ambiente intimista, mais precisamente cerca de 100 velas acendidas todos os dias para se proporcionar uma noite especial que culmina com Património Imaterial da Humanidade, o Fado, com twist.
Não nos deixeis cair em engano
Neste mundo à parte que é o No Convento, o tempo parece desacelerar, com o ambiente criado pela decoradora Juliana Cavalcanti, em colaboração com Sacha Gielbaum e Emil Stefkov.
Se a envolvência das velas e luzes baixas, as cortinas densas e aveludadas junto ao bar luminoso e as paredes de pedra já aquecem a alma, mais aconchegados ficamos no primeiro momento à mesa, um pequeno copo de chá de canela, que remonta a uma tradição do século XV, após a descoberta da canela no Oriente durante a época dos descobrimentos, especiaria que é reconhecida pelas propriedades digestivas.
É uma iniciação leve antes de passar à carta de cocktails assinada por Maurício Leal, bartender executivo, entre eles o Cilandro Sour, cocktail com Mezcal, Absinto, Cordial de Coentro, Limão, Aquafaba e Óleo de Coentro (€15).
É então momento de provar as propostas do Chef João Oliveira, como o Bacalhau, puré de nabo, batata fondant, espinafres salteados com manteiga noisette, plâncton e azeite do Alentejo (€36), a assumida inspiração francesa no Tournedo Rossini, um lombo de Vitela Assado, foie gras de pato, brioche, espargos verdes e puré de batata, finalizado com demi-glace trufado (€38) ou a recomendada Corvina da nossa costa, com arroz de tomate assado – e por aqui ficamos porque só esta combinação é quanto baste para plena satisfação, destacando-se o arroz que traz a nostalgia da casa da avó (€46).
Tudo acompanhado com um vinho da carta, com refinadas referências nacionais e francesas, selecionadas pelo sommelier Luís Amaral.
Quanto a sobremesa, os leitores mais gulosos vão ter de aguardar, porque No Convento outro momento doce faz-nos querer esperar, e até esquecer, que está à espreita um Pudim Abade de Priscos.
O Fado No Convento
As noites no restaurante No Convento dividem as atenções entre as propostas gastronómicas e a seleção musical de Joana de Souza Dias, Music Director do Reia Collective e responsável pela curadoria da programação das noites de Fado.
Todas as noites são diferentes e aquela que a VERSA teve a sorte de presenciar juntou a cantora brasileira Nani Medeiros na voz e João Pita na guitarra portuguesa. Fez-se silêncio, cantou-se o Fado, mas também se cantarolou, baixinho, os temas que fundiram Fado com Bossa Nossa, desafiando assim a tradição. E que melhor lugar para isso do que um antigo convento?
Por isso, que se repita, e assim está previsto todas as noites, de terça-feira a domingo, às 20h30 e 21h30, horário das duas atuações que acompanham o jantar. Além de Nani e João, o Fado no Convento recebe frequentemente as duplas Ana Paula Martins e Custódio Castelo ou Rui Tanoeiro, Luís Carlos e Acácio Barbosa, e Carmo Vieira com o músico Luís Roquette.
O espaço que sempre sobra
Se a intensidade dos momentos Fado no Convento não roubaram o apetite, ainda haverá espaço para a sobremesa. Mesmo depois de nas entradas experimentarmos o famoso St Jacques, vieiras seladas, com molho de coral e açafrão e gel de limão (€17) e o Foie Gras “Mi-cuit” com pêras cozidas em vinho tinto, legumes sazonais, manteiga de pêra e pão brioche tostado (€23), seguimos para a última fase.
Uma vez num convento, não falta o clássico Pudim Abade de Priscos, com citrinos, gel de laranja e telha de mirtilo (€13), mas também opções como uma Mousse de Chocolate amargo com "laranja para dar frescura", explica o Chef João de Oliveira (€8), ou o Crème Brûlée de Baunilha com Bourbon Beans e "frutas vermelhas da estação para dar textura (€13).
O restaurante No Convento está situado na Travessa do Convento das Bernardas e funciona de terça-feira a domingo, das 19h às 23h. Para reservar, basta telefonar (+351 915 389 532) ou marcar mesa diretamente no site.