O hotel Grande Real Villa Itália foi morada de Humberto II e é precisamente o seu antigo terraço que abre portas como ristorante e nos recebe à mesa. Já com um prosecco como ponto de partida, fazemos assim um brinde à expectativa de um jantar digno de realeza, engastado no charme de um espaço sofisticado, mas despretensioso.
Com mais ou menos twists, sabemos que nos esperam pratos de eleição da casa real Sabóia (devidamente assinalados na carta), bem como os clássicos de uma cozinha que se inspira na dolce vitta da riviera italiana e, como tal, o couvert do Belvedere é uma trilogia irresistível que dá início a uma viagem pelos sabores rústicos de Itália: azeitona frita em maionese; focaccia de parmesão e o familiar pão de azeitona. Ingredientes simples que nos encantaram pela precisão de detalhe.
Seguimos para as entradas, onde o Chef honra a essência dos sabores italianos com uma autenticidade rara. A Bagna Càuda, com um molho de anchovas, traz a intensidade dos sabores piemonteses e faz das verduras frescas uma celebração da simplicidade. Mas também conta uma história, afinal, “o rei que fez Itália jogar bilhar, fumar charutos, era um pouco brusco e adorava boa comida", como revela a carta, e terá herdado do seu antepassado, Vittorio Emanuelle II, a importância da bagna càuda na cozinha real.
Para contraste, a escolha recai no Crudité e Fritto Misto, que deixa as texturas falarem por si, combinando vegetais frescos e mariscos mergulhados em polme, fritos, com um equilíbrio que apenas a cozinha mediterrânea parece dominar.
Entre um branco Pinot Grigio, chega o primeiro prato principal, Pacharri al Pomodoro — uma ode à simplicidade de uma boa pasta, ainda que nenhuma outra se iguale ao pacherri, que aqui é finalizado à mesa com uma generosa dose de parmesão. É algo familiar, sim, mas, por outro lado, a perfeição do preparo parece fugir da sua essência simples. Um prato que poderia estar em qualquer mesa italiana e que se saboreia sem pressa, honrando cada garfada e, claro, com a ajuda de uma fatia de pão para limpar o prato, ou, como dizem os italianos... scarpetta!
“Servido no almoço de casamento entre Dona Maria Pia e D.Luís I. Rei de Portugal em 28 de setembro de 1862, logo se tornou um item clássico para refeições oficiais da Casa Savoia". Serve a curiosidade presente na ementa para apresentar o próximo prato, que nos traz o peixe do dia, no caso, uma garoupa, em molho de alcaparras. Aqui, o Belvedere entrega um prato que captura bem a essência do Mediterrâneo, respeitando o ingrediente principal numa dança salgada que, acreditem, sabe melhor do que soa.
Por fim, o Carré de Agnello con Pistacchio, acompanhado de uma polenta macia, traduz o espírito de uma cozinha que sabe celebrar o sabor autêntico da carne. Com o pistache a servir de crocante, cada pedaço leva-nos de volta à Itália rural, num prato robusto, mas delicado, ideal para os amantes de uma carne que não vive indiferente.
O que até então foi um percurso de sabores e tradições, encerra-se com a Cassata Siciliana e mais uma história, uma vez que a sobresa escolhida foi iguaria servida no casamento do rei que aqui prestigiamos com Maria José da Bélgica. Este "bolo de noivos", com cremes requintados entre camadas de bolo embebidos em licor, é uma celebração de sabores doces e frescos e a melhor forma de nos despedirmos de uma noite que, com toda a sua grandiosidade, nos fez sentir reis.
Não há dúvidas de que este restaurante é a celebração da realeza italiana, mas também daquilo que nos une — o prazer de uma boa mesa e de um momento que deixa memórias. É uma homenagem a Humberto II, sim, mas ainda mais à arte de bem servir e à boa companhia, com a subtileza que só a verdadeira Itália consegue oferecer.
Belvedere, integrado no hotel Grande Real Villa Itália, localiza-se na Rua Frei Nicolau de Oliveira, Cascais. Para reservas: Tel. +351 910 169 641 ou grvi@realhotelsgroup.com