Aura Dim Sum | Fotografia: Instagram
Gourmet

Nestes Santos Populares, Alfama não vive só de bifanas e sardinhas

Nunca errar fez tanto sentido, até errar no que comer nos Santos Populares. No final de contas, o erro leva a uma aprendizagem e desta experiência a VERSA levou uma para a vida.

Lisboa está em festa, com arraiais por toda a parte e, claro, bifanas e sardinhas que perfumam a cidade. Tudo isto faz parte da cultura portuguesa e desta festa tradicional, mas no centro de Alfama há outras e novas propostas para variar durante e após o mês de festa.

Aura Dim Sim é um restaurante dedicado à cozinha cantonesa localizado no bairro de Alfama e onde a chegada é feita já com um apetite considerável depois de subidas íngremes, que são já um clássico da cidade. Mas o que é, afinal, dim sum?

"Dim sum é uma tradição culinária originária da China, mais especificamente da região de Cantão (Guangdong). A expressão 'dim sum' pode ser traduzida como 'toque no coração'. Trata-se de uma refeição composta por uma variedade de pequenos pratos, normalmente servidos com chá. Podem ser cozidos ao vapor, fritos, grelhados ou assados e são tradicionalmente servidos em cestas de bambu ou pratos pequenos, permitindo que os comensais compartilhem e experimentem diferentes itens", explica Catarina Goya, responsável pelo Aura Dim Sum, à VERSA.

 

Visitámos o restaurante a propósito do novo menu e da porta da rua para dentro, é como se entrássemos noutra dimensão. Deixamos de estar em Lisboa para estar em Cantão, uma vez que o espaço é fiel à decoração típica da região, através de luzes baixas e candeeiros de papel que criam um ambiente místico avermelhado, bancos ao balcão e cestas de bambu empilhadas à espera de se encherem com os novos sabores.

Já na mesa, experimentámos então este conceito gastronómico, o dim sum, e errámos, vezes sem conta, ainda que neste caso errar seja sinónimo de boas experiências. Eis cada erro cometido sem arrependimento. 

– Não se come dim sium ao jantar

"Dim sum é tradicionalmente consumido durante o brunch ou no início da tarde, especialmente nos fins de semana".

Ora, não só fomos ao Aura numa terça-feira, como já eram 21h30 quando começámos a jantar. E para fazer as honras deste desvio, começámos com um cocktail, que nos leva ao próximo erro. 

– Não se bebem cocktails com dim sum

"Dim sum tem as suas raízes nas casas de chá da região de Cantão, onde viajantes e comerciantes paravam para descansar e tomar chá. Com o tempo, esses estabelecimentos começaram a servir pequenos pratos para acompanhar o chá, originando a tradição do dim sum".

Pois então, o que bebemos? Claramente não foi chá, mas sim um velho e um novo cokctail. O velho é o Wasabi Mule (€11), que não sai da carta nem por nada, o que compreendemos por ser alcoólico sem se notar, fresco e cheio de sabor. Já o novo Jade Blossom (€11), feito com Gin, Manteiga de Cacau, Triple Sec, Pandan, Limão e Xeres, é para gulosos que gostam de um toque de cacau até no cocktail, rematado com natas por cima (se é cocktail ou entrada, fica a reflexão). 

Jade Blossom (€11), Aura Dim Sum

Não usar as mãos é não aproveitar a experiência

"Nos países asiáticos, como a China, há muitos pratos que são comidos à mão, como spring rolls, e alguns tipos de dim sum".

Cumprimos com os Cantonese Spring Rolls (€9,50), crocantes por fora e extremamente bem recheados por dentro com char siu, cenoura, rebentos de soja, couve chinesa, fungo preto e cebolinho, mas em tudo o resto errámos.

Provámos todos os novos pratos com pauzinhos (ou hashi), sendo eles o novo Sesame Prawn Toast (€9), um pão crocante coberto com camarão, a Glass Noodles Tofu Salad (€12,50) e os petiscos a vapor: Har Gao (€9,50), recheados com camarão, rebetos de bambu, gengibre e cebolinho, os Fun Guo (€9,50), com Bbq de porco à moda de Cantão e os Three Style Mushroom Dumplings (€9), com suculentos cogumelos ostra.

Até na sobremesa usámos colher, tanto no novo Thai Jasmine Rice Cream (€5,50), preparado à base de gelado de arroz de jasmim aromático, papel de arroz crocante e wasabi, como no Aura Signature Ice Cream (€5,50), um gelado de sementes de sésamo preto, com topping de amendoins torrados.

Apesar do erro de não comer tudo com as mãos, diríamos que neste caso é perdoado, uma vez que a experiência não pareceu comprometida, ainda que Catarina Goya defenda que "comer com as mãos pode aumentar o prazer sensorial da refeição".

Será que alguma coisa fizemos bem? Várias até, há que confessar.

– Partilhar é o segredo para provar

"Dim sum é uma refeição partilhada. Pega-se em pequenas porções de cada prato para deixar os outros experimentarem também".

Não só o fizemos, como pelo meio da prova comentámos e, de todos os pratos, o que mais surpreendeu foi o novo Sesame Prawn Toast (€9).

Sesame Prawn Toast (€9), Aura Dim Sum

– Seguir uma ordem

"É comum começar com pratos mais leves, como os de vapor, e progredir para pratos mais pesados, como baos e fritos".

Por mérito do staff do Aura Dim Sum, fomos levados a seguir o menu como mandam as regras cantonesas, começando assim pelos mais leves e terminando nos fritos e também numa explosão de picante que é só para os mais fortes, o prato Yellowfin Tuna Wontons (€11), com atum, edamame, gengibre, cebolinho, ovas de peixe. 

– Não abusar no molho de sushi

"Não é comum encher o prato com molho de soja. Use uma pequena quantidade para não sobrecarregar o sabor delicado dos pratos de dim sum".

Neste aspeto, não só não enchemos o prato, como deixámos o molho de soja muitas vezes de parte, ora para sentir o sabor autêntico dos pratos, ora para provar os molhos sugeridos para a harmonização. Afinal de contas, não estamos no sushi e no que toca ao dum sim, o molho de soja nem sempre é essencial. 

A versão cantonesa da bifana portuguesa

Estamos em Alfama, com os Santos Populares à porta e apesar de no interior do Aura se vier uma outra realidade, quem quer estar embebido no espírito da cidade pode aqui encontrar uma versão da tradicional bifana portuguesa. 

"Podemos fazer essa comparação, embora com algumas nuances culturais e gastronómicas. Os buns na cozinha cantonesa e as bifanas na cozinha portuguesa são ambos alimentos populares e icónicos que refletem as respectivas tradições culinárias. Por exemplo, a função social, tanto os buns quanto as bifanas são alimentos práticos e populares, frequentemente consumidos como refeições rápidas ou lanches; a acessibilidade, ambos são amplamente disponíveis e apreciados por diversas camadas da sociedade; e versatilidade, podem ser adaptados e encontrados em diversas variações regionais e pessoais", explica Catarina. 

Uma bifana vive de um bom pão, boa carne e respetivo molho; já um bom bao vive de um recheio que sobressaia sobre o pão fofo cozido normalmente a vapor ou frito. É precisamente o caso do novo Forest Bao (€9,50), que detro do pão frito tem shimeji, porcini, shiitake, bok choy, bambu fermentado, coentro, cenoura, raspas de laranja.

Forest Bao (€9,50), Aura Dim Sum

Seja uma bifana, sardinha ou bao, todos se encaixam naquilo que aprendemos com os erros cometidos no Aura Dim Sum: as tradições mudam com o tempo, mas há sempre uma essência que permanece e a do dim sum é a continuidade do que significa a própria expressão, "toque no coração". No Aura fomos tocados no coração pelo prazer da gula e do bem receber nesta casa que traz a China para o coração da capital. 

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