O mundo da cozinha está ao rubro, novos Chefs a afirmar-se, outros a conquistar novos patamares, ao mesmo tempo que abrem novos restaurantes a um ritmo frenético, alguns deles a receber prémios com menos de um ano de vida, como é o caso do ÀCosta by Olivier, vencedor da 1.ª Edição do TheFork Awards em Portugal.
Mas uma coisa é certa: o mundo da cozinha é, ainda, dominado por homens, por isso mesmo quatro Chefs mulheres juntaram-se para preparar o menu servido na gala TheFork Awards em Portugal, no Convento do Beato, em Lisboa.
Justa Nobre, Ana Moura, Marlene Vieira e Sara Soares ocuparam a cozinha durante o evento e a elas juntou-se a Melhor Padeira do Mundo, Elisabete Ferreira, do projeto Pão de Gimonde, que viajou de propósito de Bragança para Lisboa para certificar-se de que o pão chegava à mesa na devida qualidade (não fosse ela a melhor do mundo).
Não há mesa sem pão, nem inverno sem a Sopa de Santola de Justa Nobre. Assim como não há quem não queira provar o toque alentejano de Ana Moura numa Lula recheada com migas de grelos e patê de ovas, a mestria de Marlene Vieira numa Costela de vaca assada, tarte de cebola e aipo e o saber vegan que a pasteleira Sara Soares aplicou na sobremesa, um Entremet de cenoura, caramelo de especiarias e mousse de amêndoa com sorbet de cenoura e óleo verde das suas folhas.
A VERSA entrou na cozinha, viu tudo a ser preparado numa bancada rodeada de mulheres e foi sobre elas que falámos com cada uma das Chefs portuguesas.
Faltam mais mulheres Chefs em Portugal?
A opinião é consensual: faltam mulheres, mas o caminho tem sido traçado e é uma questão de tempo até os obstáculo que as Chefs (ainda) sentem caírem por terra.
“Já houve mais entraves, hoje menos, e se houver vontade é possível. Todos nós temos dificuldades pelo caminho, independentemente do sexo, agora: efetivamente é um mundo muito marcado por homens e darem-nos esta mão é um testemunho e um passo numa direção que se quer marcar com esta presença de mulheres nos vários setores da restauração”, afirma Marlene Vieira, referindo-se à representação no evento de Chefs mulheres que se dedicam desde a cozinha regional à alta cozinha e da padaria à pastelaria.
No restaurante Zunzum, a Chef Marlene desenvolveu o conceito Pop-up Zunzum, em que convida Chefs que conhece bem para noites especiais na sua cozinha, pela qual já passaram vários nomes femininos, como as Chefs Michele Marques, Aurora Goy, Catarina Nascimento ou Ana Moura. Sabe-se que mais virão, quem sabe dos nomeados para o prémio TheFork. “Estou sempre atenta. Acho que as mulheres estão sempre com os radares ligados”, brinca.
Por falar em Ana Moura, ela mesmo reconhece que a colega Marlene tem sido um exemplo. "Apoia outras mulheres e está numa posição de maior notoriedade, o que é super importante. As mulheres apoiam-se cada vez mais umas às outras e assim vamos crescer todas juntas”, acredita a Chef.
Ana Moura, do restaurante Lamelas, em Porto Covo, considera mesmo que os tempos têm ajudado ao empoderamento feminino na cozinha e o TheFork Awards veio mostrar isso. “Há uns anos seria impossível um evento como este, só com mulheres a cozinhar. Há cada vez mais mulheres no mundo da cozinha e acho que é uma coisa que vai acontecendo organicamente, devagarinho. Vai demorar o seu tempo", diz.
E se o mundo da cozinha está a mudar no que diz respeito à representatividade, também no que diz respeito ao tipo de cozinha. Que o diga Sara Soares, que ao lado de Rodrigo está à frente do projeto de pastelaria vegan CAOS - O Futuro É Vegetal, criado já depois de ter passado por hotéis cinco estrelas e restaurantes Michelin.
“Para mim veganizar não é difícil porque é mais uma questão de conhecer a matéria-prima, saber como trabalhá-la e o que podemos mudar para substituir os ovos, os lacticínios, os gelificantes de origem animal, como a gelatina. É tudo uma questão de conhecimento prévio e, depois, é aplicar a parte estética para conseguir fazer coisas igualmente apelativas e bonitas”, afirma a Chef Sara Soares.
Apesar de mais tradicional e de ser conhecida pela Sopa de Santola ou pelo Cozido à Portuguesa, a Chef Justa Nobre está sempre recetiva a novas experiências na cozinha, em particular ao que Sara Soares foi preparando no backstage do TheFork Awards.
"O mundo está em movimento, em crescimento e estamos sempre a aprender e a fazer coisas novas. A evolução da cozinha é muito importante. Gosto de estar atualizada e gosto de ver as minhas colegas a crescer e a sobressair, fico muito feliz por isso, porque qualquer dia arrumo-me", diz.
De diferentes gerações e dedicadas a diferentes tipos de cozinha, as mulheres que se uniram para aguçar o paladar antes de se saber o vencedor da 1.ª Edição do TheFork Awards em Portugal mostraram que o mundo da cozinha ainda tem um caminho a percorrer e para isso é preciso a garra de mais e mais mulheres.
Algumas delas estão à frente dos 31 restaurantes nomeados pelo juri do TheFork Awards. Deixamos a lista completa.
Lisboa
– ÀCosta by Olivier
– Alzur
– Aurea
– Bar Alimentar
– Canalha
– Ciclo
– Laranja tigre
– Le Bleu by Chef Kiko
– Magokoro Ramen
– Parra Wine Bistro
– Petiscaria da Esquina
– Ryoshi
– Sugoi
– SULT - Cascais
– Touta
– Yoso - Omakase
Porto
– Babel
– Éter
– Lura - Baião
– Nem carne nem peixe
– Oculto - Vila do Conde
– Pata gorda
– Aveiro
– Prosa
Santarém
– Deselegante
– Rural 150
Faro
– Austa - Almancil
– Authentic - Almancil
– Checkout - Faro
– Há Pátria - Faro
Leiria
– Terruja - Alvados
Évora
– Taberna Sal Grosso