Há uma coisa de que gostamos em Bruno Aleixo: a honestidade. Não é de cerimónias, o que dá jeito no mundo do vinhos, dotado de um largo palavreado, que vai de "encorpado" e "sério" quando se fala do perfil até a "longo", "rico" ou "refrescante" para caracterizar o final de boca.
Não faltam adjetivos para os mais especialistas classificarem um vinho, mas a segunda edição do vinho Dr. Bruno, que resulta de uma parceria entre a Herdade do Rocim e a Quinta da Lagoa Velha, é fácil de pautar.
"É super bom e toda a gente a quem dei a provar também achou super bom", pode ler-se na nota de prova.
A VERSA provou e não podia concordar mais com Bruno Aleixo. Sem entrar em mais detalhes sobre a prova, temos apenas de dizer que se confirma: o novo clarete é bom para a meia-estação, ao contrário da primeira edição.
"O outro era mais de verão, um clarete que quase parecia um rosé de tão clarinho. Este é um bocadinho mais denso. Costumo dizer que é de meia-estação", diz à VERSA João Moreira, a inconfundível voz de Bruno Aleixo, a personagem indefinida (que anda entre um cão e um urso) criada em 2008.
Já sabemos que um clarete é um vinho tinto obtido através da fermentação parcial de uvas tintas, mas, neste caso, envolveu "uma maceração ligeira, quase uma infusão" de uvas vindimadas no concelho de Anadia, com predominância da casta Baga.
Ao encher o copo, revela uma incrível cor ruby intensa e no final do copo não revela nada da nossa personalidade habitualmente mais contida, já que o teor alcoólico está abaixo da média na categoria de tintos, um 12%.
E é, claro, um vinho da Bairrada, como só assim poderia ser, explica João Moreira.
"Só fazia sentido ser da Bairrada, porque a própria personagem tem lá as suas raízes. Eu tenho, de facto, uma prima na Bairrada que produz vinho e que gere um terreno meu com vinhas, portanto só fazia sentido também fazer com ela. Tinha de acontecer", explica.
A prima, que detém os vinhos da Quinta da Lagoa Velha, teve peso na decisão de arrancar com a marca Dr. Bruno, no entanto, não foi da ligação familiar que surgiu a ideia.
"O Fernando Alvim já tinha lançado um vinho com a Herdade do Rocim. Eu e o Pedro Santo somos muito amigos do Alvim, trabalhamos com ele desde sempre, e numas férias em que fomos com ele para o sul, parámos para almoçar no Rocim, com o Pedro e a Catarina. Ficámos amigos, falámos e foi então que surgiu esta ideia de virmos a fazer alguma coisa em conjunto", conta João Moreira.
Era para ter sido um vinho de pacote, "para acabar com o estigma do vinho de pacote", diz Pedro Santo na apresentação", mas saiu mesmo uma garrafa clássica de vidro, com a fotografia de Bruno Aleixo no rótulo como se estivesse no perfil do Linkedin, espelho da faceta mais séria do cão que é também urso e bebe vinho.
"O Bruno Aleixo diria que esta segunda edição é um vinho que consegue ser complexo e duro, mas ao mesmo tempo tem um final docinho. Consegue ir do fresco e irreverente até ao mais clássico e conservador. Tem vários lados, como o Bruno Aleixo: mais conservador nos costumes, mas depois no trato é uma criança, tem de ganhar, é teimoso, faz birras", diz o co-autor do vinho, na voz da personagem.
"A única maneira de comer leitão sem ser em tronco nu é com este vinho"
Na apresentação da nova colheita do Dr. Bruno no Pigmeu da Ribeira, no Mercado da Ribeira, a delishop e wine bar harmonizou o novo vinho com as suas iguarias, dos torresmos de rissol ao queijo de ovelha da Quinta do Carapinhal. Não houve leitão, mas podia ter havido e sem se cumprir com a máxima de Bruno Aleixo de que "leitão é para comer em tronco nu".
"O leitão normalmente bebemos com vinhos com bolhinhas e um bocadinho mais ácidos, porque é uma comida um pouco mais gordurosa. Começámos a pensar 'será que fica bem?'. E está provado que fica bem com leitão. Mas como é meia-estação, não é preciso estar de tronco nu, temos a desculpa. O vinho tem essa grande vantagem. No verão sim, de tronco nu. Portanto, a única maneira que têm de comer leitão sem ser em tronco nu é com este vinho", brinca João.
Com leitão ou outros pratos, a harmonização tanto pode ser feita com o irreverente Dr. Bruno de outono (€19,99), como com as novas colheitas da Herdade do Rocim.
São elas o Quinta da Pedragosa rosé, que resulta de uma parceria do Rocim com a Quinta da Pedragosa, em Lagos, e que é o segundo de uma série de três, estando o branco já no mercado e o tinto a caminho, com previsão de chegar até ao final do ano.
Nas novidades incluem-se também o Grande Rocim Branco 2023, o Amphora tinto 2023 e o Vinha da Micaela 2021, de uma das vinhas mais relevantes da herdade, com 23 anos, que apresenta só agora a segunda colheita, sendo a primeira de 2018.