“Olha, Tiago, para o ano ainda estás aqui a apresentar o teu vinho"
Quando disse estas palavras em 2022, mal sabia o avô Manuel Marecos que o neto Tiago Candeias, de 33 anos, comissário de bordo formado em Marketing, Publicidade e Relações, viria realmente a apresentar o seu vinho naquele mesmo restaurante onde estariam a celebrar um aniversário da mãe de Tiago.
Não foi no ano seguinte, porque a natureza e as burocracias empatam-nos os planos, mas foi passado dois anos que Tiago Candeias voltou ao restaurante Barreto Saloio, em Bucelas, para dar a conhecer o Micasta.
O nome provém da casta que prefaz o lema da nova marca de vinhos, “o Arinto é rei e Senhor, dele reza a história e Miscasta será seu fiel seguidor", e é com um 100% Arinto que Tiago inicia em 2024 a sua aventura no mundo dos vinhos.
Micasta: a casta de Tiago e de Bucelas
Em Portugal, está a crescer uma tendência que é há muito uma prática comum em países como França ou Espanha: escolher o vinho pela casta e não pela marca ou produtor. O monocasta Micasta vem, por isso, em boa altura, apresentando aquela que é a especialidade de Bucelas.
“Bucelas é uma região demarcada exclusivamente para vinhos brancos e espumantes, das únicas no mundo. Fazemos parte da rota dos vinhos de Colares e Carcavelos. O que nos diferencia neste sentido é termos uma casta que teve origem na nossa região e daí o título de Capital do Arinto”, começa Tiago por explicar.
“Dizem os connoisseurs que é em Bucelas que atinge a sua máxima plenitude. Isto acontece devido às grandes amplitudes térmicas, durante o dia bastante calor e, depois, as noites húmidas e frescas, que permitem uma maior concentração de açúcar e aroma nos bagos. A uva Arinto é a variedade mais cultivada na região de Bucelas e é responsável por conferir aos vinhos as suas características únicas”, continua.
Arinto dá assim ao Miscasta a devida acidez vibrante, aroma cítrico e mineralidade distinta, fazendo dele um vinho para “apreciadores de vinhos brancos de alta qualidade”. Mas é também para consumidores conscientes.
Isto porque o Micasta é o resultado de uma produção focada em práticas mais sustentáveis e de impacto positivo no ecossistema, que contribuem para a fertilidade do solo e para a biodiversidade e, consequentemente, para a qualidade da uva e do seu néctar.
“O grande objetivo não é só trazer algo novo, mas sim um vinho que toque na alma, em que a sua acidez não seja indiferente a quem tem a o prazer de o beber”, nota.
Um vinho ou um jogo que une todos à mesa
Tiago Candeias cresceu em Bucelas e tanto a ligação à natureza, como os dias sem relógio passados com o avô, fizeram-no querer estabelecer-se aqui. É, como diz, “filho do Arinto”, não só por ser a casta da região, mas também por estar ligada à família desde que se lembra.
“Embora de pequenas dimensões e uma produção familiar, sempre fizemos o nosso vinho. A prova do vinho é uma festa em família, juntamo-nos todos para dignificar o néctar. O que mais recordo, e vivo ainda hoje de coração cheio, é o orgulho do meu avô nesta celebração. Sentimos todos uma enorme recompensa do trabalho desenvolvido ao longo de todo o ano, quando saboreamos o que a natureza nos oferece”, recorda.
Hoje, a celebração é feita com a primeira produçao Micasta, feita a partir das uvas do próprio avô Manuel Marecos e do know how do neto, mas esta nova marca no mercado une todos à mesa por mais do que o vinho.
“A possibilidade de enaltecer aqueles que fazem parte da história deste percurso revelou-se na magia do rótulo. Pela ligação fraterna e pelo dom de um amigo, surge esta verdadeira obra de arte”, refere o produtor do Micasta.
O rótulo Micasta – da autoria de Carlos Cruz e Guilherme Barradas – faz da arte um jogo, que tem como objetivo identificar todas as figuras representadas, desde os protagonistas na vida de Tiago Candeias que contribuíram para o Micasta, assim como personagens ilustres na história do Arinto.
Num desenho dinâmico, é possível encontrar William Shakespeare, que denomina o vinho de Charneco na sua obra Henrique VI, o Duque Wellington, apreciador dos vinhos de Bucelas, e também o príncipe Regente George III, “que mais tarde se tornou rei e utilizou este vinho para tratar uma doença”. De figuras históricas portuguesas, consta Eça de Queiroz, que no século XIX escolhia o vinho de Bucelas para patuscadas com amigos, e Marquês de Pombal, outro entusiasta deste vinho.
Micasta es (finalmente) tu casta
Depois de um longo processo, Tiago Candeias ainda se recorda do dia em que pegou na primeira garrafa. “Foi uma explosão de sentimentos. É um orgulho por tudo o que conseguimos e para mim é uma honra gigante colocar no mercado um vinho das uvas do meu avô”, diz.
O Micasta lança-se com pouca quantidade, o que faz deste um vinho exclusivo e o reflexo do trabalho árduo desenvolvido nos últimos anos. "A qualidade foi a palavra de ordem, a preocupação com todos os pormenores. Não tenho pressa, gostaria de ir produzindo cada vez mais, mas quero manter o nível de excelência”, sublinha o produtor.
O Micasta pode ser adquirido (€12 por garrafa) através do site ou e-mail (micasta.wine@gmail.com) e também encontrado em parceiros da marca. Já nas redes sociais (Instagram e Facebook), serão anunciados em breve alguns eventos.
Fiel à casta, mas com um twist no futuro
O monovarietal Arinto Micasta é só o início desta marca de vinhos moderna e desafiadora.
À VERSA, Tiago Candeias revela que as próximas novidades já estão em curso, como é o caso da plantação de uma nova vinha em modo de produção biológico, com 80% da área plantada de Arinto. “Serei fiel à casta rainha da região, pois na verdade, vai muito ao encontro do que me dá prazer quando bebo um vinho branco”, afirma o produtor.
A restante percentagem é ocupada por outras variedades pouco disseminadas no país, com fim à sua preservação e tendo em vista a criação de um produto diferenciado.
"A essência do vinho vem das regiões, dos viticultores e das uvas que produzem! Por essa razão estou a iniciar a plantação de uma vinha de raiz, no sentido de conferir toda a minha identidade ao vinho”, remata Tiago Candeias.