Micasta | Fotografia: Daniel Carvalho
Gourmet

Do néctar ao rótulo, Micasta quer ser um “vinho que toque a alma”

Micasta acaba de ser lançado e já é rei e senhor. Quer dizer, não ele, mas, sim, a sua casta, Arinto.

“Olha, Tiago, para o ano ainda estás aqui a apresentar o teu vinho"

Quando disse estas palavras em 2022, mal sabia o avô Manuel Marecos que o neto Tiago Candeias, de 33 anos, comissário de bordo formado em Marketing, Publicidade e Relações, viria realmente a apresentar o seu vinho naquele mesmo restaurante onde estariam a celebrar um aniversário da mãe de Tiago.

Não foi no ano seguinte, porque a natureza e as burocracias empatam-nos os planos, mas foi passado dois anos que Tiago Candeias voltou ao restaurante Barreto Saloio, em Bucelas, para dar a conhecer o Micasta.

O nome provém da casta que prefaz o lema da nova marca de vinhos, “o Arinto é rei e Senhor, dele reza a história e Miscasta será seu fiel seguidor", e é com um 100% Arinto que Tiago inicia em 2024 a sua aventura no mundo dos vinhos. 

Micasta: a casta de Tiago e de Bucelas 

Em Portugal, está a crescer uma tendência que é há muito uma prática comum em países como França ou Espanha: escolher o vinho pela casta e não pela marca ou produtor. O monocasta Micasta vem, por isso, em boa altura, apresentando aquela que é a especialidade de Bucelas.  

“Bucelas é uma região demarcada exclusivamente para vinhos brancos e espumantes, das únicas no mundo. Fazemos parte da rota dos vinhos de Colares e Carcavelos. O que nos diferencia neste sentido é termos uma casta que teve origem na nossa região e daí o título de Capital do Arinto”, começa Tiago por explicar.

“Dizem os connoisseurs que é em Bucelas que atinge a sua máxima plenitude. Isto acontece devido às grandes amplitudes térmicas, durante o dia bastante calor e, depois, as noites húmidas e frescas, que permitem uma maior concentração de açúcar e aroma nos bagos. A uva Arinto é a variedade mais cultivada na região de Bucelas e é responsável por conferir aos vinhos as suas características únicas”, continua.  

Tiago Candeias, fundador e produtor Micasta | Fotografia: Daniel Carvalho

Arinto dá assim ao Miscasta a devida acidez vibrante, aroma cítrico e mineralidade distinta, fazendo dele um vinho para “apreciadores de vinhos brancos de alta qualidade”. Mas é também para consumidores conscientes.  

Isto porque o Micasta é o resultado de uma produção focada em práticas mais sustentáveis e de impacto positivo no ecossistema, que contribuem para a fertilidade do solo e para a biodiversidade e, consequentemente, para a qualidade da uva e do seu néctar.  

“O grande objetivo não é só trazer algo novo, mas sim um vinho que toque na alma, em que a sua acidez não seja indiferente a quem tem a o prazer de o beber”, nota.  

Um vinho ou um jogo que une todos à mesa 

Tiago Candeias cresceu em Bucelas e tanto a ligação à natureza, como os dias sem relógio passados com o avô, fizeram-no querer estabelecer-se aqui. É, como diz, “filho do Arinto”, não só por ser a casta da região, mas também por estar ligada à família desde que se lembra.  

“Embora de pequenas dimensões e uma produção familiar, sempre fizemos o nosso vinho. A prova do vinho é uma festa em família, juntamo-nos todos para dignificar o néctar. O que mais recordo, e vivo ainda hoje de coração cheio, é o orgulho do meu avô nesta celebração. Sentimos todos uma enorme recompensa do trabalho desenvolvido ao longo de todo o ano, quando saboreamos o que a natureza nos oferece”, recorda.  

Hoje, a celebração é feita com a primeira produçao Micasta, feita a partir das uvas do próprio avô Manuel Marecos e do know how do neto, mas esta nova marca no mercado une todos à mesa por mais do que o vinho.  

“A possibilidade de enaltecer aqueles que fazem parte da história deste percurso revelou-se na magia do rótulo. Pela ligação fraterna e pelo dom de um amigo, surge esta verdadeira obra de arte”, refere o produtor do Micasta.

O rótulo Micasta – da autoria de Carlos Cruz e Guilherme Barradas – faz da arte um jogo, que tem como objetivo identificar todas as figuras representadas, desde os protagonistas na vida de Tiago Candeias que contribuíram para o Micasta, assim como personagens ilustres na história do Arinto. 

Num desenho dinâmico, é possível encontrar William Shakespeare, que denomina o vinho de Charneco na sua obra Henrique VI, o Duque Wellington, apreciador dos vinhos de Bucelas, e também o príncipe Regente George III, “que mais tarde se tornou rei e utilizou este vinho para tratar uma doença”. De figuras históricas portuguesas, consta Eça de Queiroz, que no século XIX escolhia o vinho de Bucelas para patuscadas com amigos, e Marquês de Pombal, outro entusiasta deste vinho. 

Rótulo Micasta | Fotografia: Daniel Carvalho

Micasta es (finalmente) tu casta 

Depois de um longo processo, Tiago Candeias ainda se recorda do dia em que pegou na primeira garrafa. “Foi uma explosão de sentimentos. É um orgulho por tudo o que conseguimos e para mim é uma honra gigante colocar no mercado um vinho das uvas do meu avô”, diz.  

O Micasta lança-se com pouca quantidade, o que faz deste um vinho exclusivo e o reflexo do trabalho árduo desenvolvido nos últimos anos. "A qualidade foi a palavra de ordem, a preocupação com todos os pormenores. Não tenho pressa, gostaria de ir produzindo cada vez mais, mas quero manter o nível de excelência”, sublinha o produtor.  

 

O Micasta pode ser adquirido (€12 por garrafa) através do site ou e-mail (micasta.wine@gmail.com) e também encontrado em parceiros da marca. Já nas redes sociais (Instagram e Facebook), serão anunciados em breve alguns eventos.

Fiel à casta, mas com um twist no futuro 

O monovarietal Arinto Micasta é só o início desta marca de vinhos moderna e desafiadora.

À VERSA, Tiago Candeias revela que as próximas novidades já estão em curso, como é o caso da plantação de uma nova vinha em modo de produção biológico, com 80% da área plantada de Arinto. “Serei fiel à casta rainha da região, pois na verdade, vai muito ao encontro do que me dá prazer quando bebo um vinho branco”, afirma o produtor.  

A restante percentagem é ocupada por outras variedades pouco disseminadas no país, com fim à sua preservação e tendo em vista a criação de um produto diferenciado.  

"A essência do vinho vem das regiões, dos viticultores e das uvas que produzem! Por essa razão estou a iniciar a plantação de uma vinha de raiz, no sentido de conferir toda a minha identidade ao vinho”, remata Tiago Candeias.  

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