Aqueles que passaram pela costa monegasca na semana passada talvez tenha ficado surpreendidos com a quantidade de super iates que se podiam vislumbrar ao largo em pleno final de Setembro. Eram dezenas os barcos com mais de 30 e 50 metros que tomaram conta da costa entre o Mónaco e Villefranche-sur-Mer, numa concentração muitíssimo superior à que se encontra durante os melhores dias de Verão, além dos que se encontravam no porto Hercules.
É óbvio que isso não aconteceu por acaso. É que nesta época acontece um dos eventos mais importantes do mundo para a vida náutica: o Yacht Show do Monaco, evento que tem o alto patrocínio do príncipe Alberto. Evento este que reúne 118 super iates, que se podem comprar ou alugar (charter), número cada vez mais difícil de juntar, especialmente depois da crise do Covid 19, que fez aumentar e muito a procura por todo o tipo de barcos. A dos super iates também, apesar de ser acessível a uma pequeníssima franja da população mundial.
Para que se tenha uma ideia do que estamos a falar, um super iate com cerca de 50 metros custa em torno de 50 milhões de euros, em função dos materiais escolhidos e acabamentos. Daí podem extrapolar os valores para os maiores. Sim, porque há iates privados que são verdadeiros bunkers flutuantes, onde pode encontrar de tudo: de sala de cinema, a spa e piscina interior e exterior, além de, claro, uma pista, ao menos, para helicóptero. Há barcos que chegam a ter duas. E nestes os valores sobem e muito. Vejam o caso do A, com 143 metros, o maior iate privado do mundo à vela, desenhado pelo Philippe Starck, propriedade do bilionário russo Andrei Igorevich Melnichenko, que se encontra detido no momento pelas autoridades italianas e que vale uns módicos 578 milhões de euros. Se o preço base é alto, imaginem só o custo para manter um brinquedo destes. Não só no que gastam a cada saída, quando são totalmente a combustível, como com paragens em marinas, além das tripulações. É que em muitos destes são barcos trabalham às vezes quase 100 pessoas.
Ou seja, tudo muito lindo, mas, privacidade, zero. O bilionário quer ir dar um passeio com a namorada nova e leva com não sei quantos mirones a bordo. É quase engraçado. Além disso, muitos destes bilionários, que agora andam com problemas com as polícias locais (por causa das sanções impostas pela guerra), tiveram de se debater com uma questão inesperada: como esconder barcos deste tamanho? Sim, não é fácil. Para não dizer, impossível. Pelo que a maioria dos barcos cuja propriedade é de oligarcas, têm vindo a ser apreendidos pelas autoridades. E não, não estava naturalmente nenhum deles para venda no iate show. Os tristes donos desses barcos andam revoltados, porque não só não os podem vender, como nem sequer os podem usar.
Mas não se pense que se dão por vencidos e que estão dispostos a abdicar dos seus brinquedos tão facilmente. Há bilionários que, a pensar já no próximo Verão, começaram a entrar na Justiça para pedir, ao menos, a possibilidade de utilização dos seus barcos. Vender não podem; alugar também não. Isso ok, eles até aceitam. Mas por que é que não podem usufruir deles, se por exemplo, os deixam continuar a usar as casas que possuem, apesar de estarem arrestadas também? O argumento é pertinente, resta saber o que decidirão os tribunais. É que claro que nenhum deles pode fugir quando se aloja numa casa, ao passo que num barco podem navegar para alto mar e terminar sabe-se lá onde.
Mas a verdade é que super iates destes não têm como desaparecer no horizonte. Não estamos no século XVI. Hoje todos os barcos registados são controlados em tempo real. Há até aplicativos (Marine Traffic) que nos permitem apontar o horizonte e saber que barco estamos a ver. É um exercício divertido para experimentarem quando estão na praia e têm um monte de barcos em frente. Vão saber o seu nome, a quem pertencem, quantos metros têm. No próximo Verão já sabem como ocupar os tempos livres. Why not?