Rita da Nova | Fotografia: D.R.
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De um "pequeno embrião", a nova história de Rita da Nova vai contra tudo o que já fez

Rita da Nova acaba de lançar um novo livro. Em entrevista à VERSA, revela, sem demais pormenores, como é que a história surgiu e como decorreu o processo criativo.

Depois de As Coisas Que Faltam e de Quando os Rios Se Cruzam, Rita da Nova, escritora portuguesa que é também conhecida pelo podcast Terapia para Casais e Livra-te, acaba de lançar o seu terceiro livro, Apesar do Sangue.

A nova obra é diferente de tudo o que já fez, tendo partido de um "pequeno embrião" que se alojou dentro de Rita. Sem spoilers, é uma história que não se centra em apenas uma personagem principal, tendo sido esse um dos principais desafios da nova obra de ficção não linear.

À VERSA, a autora conta (mas não demais) quem está envolvido na nova história, como decorreu todo o processo criativo e quem a inspira para cada nova construção literária. Um pouco de Rita da Nova está nesta entrevista.

Apesar do Sangue é um romance com uma estrutura não linear. O que a levou a optar por esta abordagem narrativa?

Era muito claro para mim, desde que comecei a pensar nesta história, que deveria contá-la a várias vozes. Isso traz muitos desafios: quem é que conta o quê? Qual a ordem que vai ser dada aos acontecimentos? Depois de muito explorar e estruturar, tomei a decisão de criar várias linhas temporais. Há a do presente, essencialmente contada da perspectiva de Glória, a avó, e depois vamos algumas vezes ao passado para compreender como é que chegámos ao presente da narrativa. É aí que Eduardo, o padrasto, Helena, a mãe, e Pedro, uma criança, se fazem ouvir também.

Que desafios encontrou ao dar voz a cada personagem principal?

Escrever quatro personagens tão diferentes foi muito desafiante, sem dúvida, sobretudo tendo em conta que os meus dois romances anteriores eram escritos na primeira pessoa, por personagens que eram mulheres jovens como eu. De certa forma, era mais fácil «encarnar» estas duas personagens. A principal dificuldade com Apesar do Sangue foi perceber como é que iria tornar cada voz única, e por isso optei por um narrador na terceira pessoa, que vai ganhando alguns trejeitos de cada um deles, que sabe tudo o que eles pensam e sentem. E também usei o truque de ter um documento para cada uma destas personagens, no qual escrevia os capítulos que eram contados por elas, para ser mais fácil entrar nas suas vozes.

O livro explora a importância dos laços criados ao longo da vida, mesmo quando não são de sangue. Esta é uma ideia que nasce de uma experiência pessoal ou de uma construção puramente ficcional?

Ao contrário dos meus dois primeiros romances, que partiam de curiosidades minhas sobre a forma como funcionamos enquanto pessoas – nomeadamente, sobre a maneira como construímos a nossa personalidade –, Apesar do Sangue nasceu de uma história que me contaram, muito pela rama, de um homem que se tornou padrasto e se apaixonou completamente pelo enteado, tendo sofrido muito quando se separou da mulher e, consequentemente, do rapaz. Não tive muitos mais detalhes do que isto, mas este pequeno embrião alojou-se dentro de mim e não fui capaz de parar de pensar em como desenvolver esta história. Por isso, embora tenha um fundo de verdade, foi completamente ficcionada.

 

Como é o seu processo criativo enquanto escritora? É metódica e tem rotinas de escrita bem definidas, ou segue mais a inspiração do momento?

Vou passando por várias fases e cada livro exige um processo diferente. Mas, em geral, tendo mais a ser metódica. Inicialmente, quando tenho uma ideia nova, deixo que ela se desenvolva na minha cabeça durante alguns meses, e é assim que vejo se tem potencial: se não me largar, é porque tem de ser escrita. Numa segunda fase, já completamente convencida pela ideia, tento estruturar aquilo que poderá ser a forma de a contar, quem são as personagens, quais as suas lutas, qual o conflito da narrativa, etc. A ideia é ter uma estrutura que me guie, mas que não me prenda. Quando entro no processo de escrita propriamente dito, gosto de ter alguma regra (escrever todos os dias, por exemplo), mas estou sempre muito livre para que a história vá ganhando rumo, mesmo que signifique que estou a ir contra o que estruturei inicialmente.

Quais são as suas maiores influências literárias e que autoras ou autores considera que moldaram a sua forma de contar histórias?

Isabel Allende deu-me vontade de escrever sobre dinâmicas familiares, Dulce Maria Cardoso é a minha grande referência no desenvolvimento da prosa e José Saramago tinha o melhor cérebro de escritor. Se puder vir a ter um décimo da qualidade destes três escritores já me darei por muito feliz.

É conhecida por um sentido de humor muito apurado. Como é que equilibra esse lado mais leve com a profundidade emocional que transparece nos teus livros?

Esses dois lados sempre coexistiram dentro de mim, e de forma muito pacífica, eu acho. O sentido de humor foi herdado do meu pai, e é por causa desta característica que não sou uma pessoa mais fechada e melancólica, porque tenho muita tendência para gostar de arte assim, mais introspectiva. De qualquer das formas, são duas características muito naturais em mim, e acho que isso também transparece nos livros.

O podcast Terapia para Casais influencia de alguma forma a escrita literária?

Não diria que influencia a escrita literária, mas sem dúvida que me dá espaço para explorar um lado mais criativo, divertido e até cáustico que existe dentro de mim. Ou seja, ajuda-me a canalizar essas características que também são parte da minha personalidade.

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