A Louis Vuitton, ícone incontornável da indústria de luxo, decidiu levar a tribunal... um pequeno produtor de licores caseiros de Monção. É isso mesmo. O colosso francês contra o Sr. André, que rotula as garrafas em casa, provavelmente à lareira, ao lado da namorada, Tânia, para vender em pequenas feiras agrícolas.
A acusação? Alegado uso indevido da imagem ou nome da marca. Porque nada ameaça o império Vuitton como meia dúzia de garrafas vendidas em festas populares e mercados de fim-de-semana. Claramente, a sobrevivência da indústria de luxo dependia disto (leia-se com ironia).
A Louis Vuitton alega semelhança do seu símbolo com o do logótipo, com as letras LV, usado por André Ferreira, de Longos Vales, em Monção, que produz licores como hobby nos tempos livres, como explica o Jornal de Notícias. A Casa francesa fala de “aproveitamento parasitário do prestígio da marca de terceiro”, preocupando-se com uma tal de concorrência desleal, que beneficiaria o produtor português por usar “sinal idêntico ou semelhante”. À mesma publicação, André conta que desenvolveu o logótipo com a namorada Tânia Afonso, sendo “o L de licores e o V de vale", o mesmo que "foi virado ao contrário para simbolizar as montanhas envolventes à freguesia e as folhinhas representam a natureza”.
Mas antes de estranharmos esta preocupação, convém também reconhecer o outro lado da garrafa. O mercado de luxo anda a atravessar tempos mais duros: consumidores mais jovens compram menos símbolos clássicos de status e parecem preferir gastar menos em marcas que não prometem qualidade ou exclusividade; a economia global anda instável; e as cópias — essas pragas — continuam a proliferar mais depressa do que os influencers que as usam.
Para marcas como a Louis Vuitton, manter a aura de exclusividade é tudo. Quando o logo começa a aparecer em contextos não-curados — seja em carteiras falsificadas numa feira de rua ou, imagine-se, num rótulo de licor artesanal com o nome "LV da Serra" — isso arranha o verniz da marca. E, mais do que antes, isso é um problema.
A questão aqui é de escala, não de legalidade. Não só têm o direito de proteger a marca, como a proteção à propriedade intelectual é uma das armas mais poderosas do grupo LVMH e é por isso que mantêm a sua posição de liderança. Há um claro compromisso do grupo em preservar a autenticidade de suas criações. No final, o sucesso da LVMH mostra que o verdadeiro luxo sempre foi além da estética. Está na autenticidade, na exclusividade e na responsabilidade – e é exatamente isso que faz deste grupo o maior e mais influente nome do setor de luxo.
Mas será que perseguir o pequeno produtor minhoto, que talvez não tenha noção do peso do símbolo que "parodiou" sem intenção ou proveito, não será um tiro de canhão para matar um mosquito?
Talvez, sim, ou talvez este processo seja essencial para o império Vuitton manter o seu castelo em pé, sem sucumbir a exceções. Mas uma coisa é certa, estamos ansiosos por provar os Licores do Vale.