Luís Carvalho não precisa de apresentações. É um dos designers portugueses mais (re)conhecidos e o escolhido por muitos famosos portugueses em dias especiais. Por exemplo, na última edição dos Globos de Ouro, as suas criações desfilaram na red carpet com Cláudia Vieira, Carolina Loureiro e Iva Lamarão.
Criou a sua própria marca em 2013 e, nesse mesmo ano, apresentou a primeira coleção na ModaLisboa. Presença assídua desde então, para a primavera/verão do próximo ano, criou uma coleção em que "cada peça é uma proposta de coexistência", explica o criador português, em entrevista à VERSA, na qual também falou sobre as suas referências, inspirações e o futuro da moda nacional.
O que podemos esperar da nova coleção? Como nasceu o conceito?
É uma coleção muito rica em texturas, movimento e mistura de cor. O conceito nasceu da ideia de criar uma nova base têxtil onde junto várias fitas acetinadas de cores e tamanhos diferentes que nos remetem a um dos tecidos utilizados na coleção. Surge aqui então a ideia de união, principalmente vivendo nós numa época marcada pela divisão e pela desarmonia, é quase como uma celebração evocativa do amor!
Que imagens, memórias ou referências serviram de inspiração?
Tive como referências várias imagens de obras de artistas plásticos, mas destaco alguns trabalhos do artista Ian Davenport, compostos por essa mistura de cores e quase de uma geometria orgânica que estará muito presente na coleção.
Já a paleta une o verde, o amarelo mostarda, o roxo e o azul-petróleo que fluem como uma paisagem em transição, suavizada com a tonalidade do cru.
Que tipo de materiais escolheste?
As matérias-primas predominantes são definitivamente mais acetinados, como o jacquard de riscas que foi o ponto de partida para a seleção dos restantes materiais que tem esse aspeto mais brilhante e que me levou às fitas da construção da superfície têxtil que já referi, assim como os cetins utilizados na restante coleção.
Houve algum desafio técnico ou criativo marcante nesta temporada? Que peça ou coordenado consideras o coração da coleção?
O maior desafio foi a construção das peças que levam este trabalho mais artesanal, onde construímos o tecido cosendo cada fita individualmente, tendo que haver precisão para que todos os moldes batam certo. Por isso, sem duvida que todos os coordenado construídos com esta técnica são o coração da coleção.
Consegues descrever a coleção em poucas palavras?
Union atravessa dualidades de estilo: abertura e contenção, minimalismo e opulência, tradição e inovação. O resultado é uma espécie de geometria orgânica - formas que respiram, expandem e respondem ao movimento. Cada peça é uma proposta de coexistência.
Que tipo de pessoa veste Luís Carvalho?
Uma pessoa que veste LUIS CARVALHO, é sem dúvida uma pessoa com personalidade, que gosta de arriscar, e que tem um estilo que mistura o casual com o mais formal.
Como vês a tua evolução desde as primeiras coleções até agora?
Vejo uma evolução positiva. As coleções têm muito mais consistência e qualidade. A parte da alfaiataria cresceu imenso e tornou-se um pouco o core do ADN da marca. A própria maneira como construo as coleções é diferente, são mais pensadas e de certa forma sinto que são mais harmoniosas de estação para estação.
Tens algum ritual ou rotina que ajudem a entrar no processo criativo?
Não há um ritual, mas já sei que não vale a pena forçar quando o processo não está a fluir, é preferível parar e deixar para outro dia para não criar frustrações.
Mas sem dúvida que ver revistas, livros de moda, exposições, viagens, ouvir música é um bom ritual para entrar no processo criativo.
O que mais te entusiasma em trabalhar no mundo moda?
Sem dúvida que criar as coleções e ver o entusiasmo de um cliente a experimentar uma peça minha. O sorriso de entusiasmo é priceless!
Atualmente, que desafios encontras nesta indústria em Portugal?
Trabalhar em moda em Portugal não é fácil. Há a questão da produção, apesar de termos uma indústria têxtil riquíssima, nem sempre é fácil conciliar a inovação com os custos de desenvolvimento. Mas acredito que é precisamente nesses obstáculos que reside o desafio: procurar caminhos, reinventar e resistir.
O que distingue a moda portuguesa das restantes?
Temos uma herança artesanal muito forte e isso permite-nos criar peças onde tradição e inovação caminham lado a lado. Além disso, sinto que existe uma autenticidade na moda portuguesa, uma vontade de contar histórias próprias sem perder a ligação
Como imagina a moda portuguesa daqui a dez anos?
Imagino uma moda portuguesa cada vez mais afirmada a nível internacional, com mais espaço de visibilidade e reconhecimento. Vejo-a sustentável, não só em termos ambientais, mas também humanos, com marcas e criadores a valorizarem processos conscientes e transparentes.
