A passar uns dias em Mértola, a minha curiosidade sobre os sabores e tradições fica ainda mais desperta, não fosse o Alentejo um dos mais ricos patrimónios gastronómicos de Portugal. Mas é ao pão que fico presa. Não sei se já o experimentaram, mas garanto aos amantes de bom pão que é impossível resistir e mais difícil ainda é parar. E, convenhamos, não há mesa portuguesa que viva sem pão.
Para minha sorte, é produzido ali bem perto de onde estou, em São Pedro de Sólis. Como nem só de piscina se vivem os dias de descanso, desafiei os miúdos a perceberem como é feito o pão que os tem feito suspirar.
Chegámos mesmo a tempo de ver o início do processo e de conseguir uma palavrinhas com um dos funcionários que faz a distribuição e que me contou que não há segredos, nem ingredientes escondidos nesta receita. Até custa a acreditar. O charme dos miúdos arranca à Maria Antónia uma massa crua que os vai deixar perceber mais logo que até numa pizza caseira este pão é rei.
A Padaria Costa, Esperança, Dias e João está nas mãos de 3 sócios, desde 1983. É na pequena Rua do Cerro que se ergue a Panififcadora, que numa vila tão pequena não passa despercebida. Eu elegi, há muito, o cheiro a pão acabado de cozer como o melhor cheiro do mundo e depois desta excursão mantenho o voto.
A Panificadora começou com um edifício de apenas 80 m2, hoje tem cerca de 1200 m2 e conta com 35 funcionários neste ofício que não queremos ver perdido. São 3.000 pães que saem para distribuição diariamente.
De repente, apercebo-me que estou numa Panificadora altamente premiada. Ao todo a Padaria de S. Pedro de Sólis já soma 3 medalhas de ouro, 2 de prata e a distinção de “O Melhor dos Melhores”. Não me surpreende.
Insisto com a pergunta do segredo, mas na fábrica todos repetem o mesmo: "não há segredo". Num olhar atento, percebemos que o segredo pode estar no tempo que o pão é amassado. Para além do processo de levedura de um dia para o outro, esta massa é amassada à mão uma hora inteirinha e repousa outro tanto tempo, antes de entrar nos fornos. Fornos que já não são a lenha. São aquecidos a maçarico. Convidam-me a entrar na sala final onde ficam os pães cozidos antes de seguirem viagem. A sala tem mais de 40 graus que vêm unicamente do calor do pão. Afinal, as viagens podem ser longas, mas o pão quente é o preferido de todos e assim se mantém o calor por muito mais tempo.
Daqui saem os famosos pão cabeça, os cacetes e a chapata. Todos com igual massa mas diferentes formas e até algumas diferentes cozeduras. Adoro todos. Portugal adora todos.
Quero terminar este breve artigo com indicações onde comprar, mas deparo-me com uma dificuldade. Neste mercado do pão não há branding! Um saco transparente com letras azuis impressas é deveras insuficiente para identificar inequivocamente este pão. É o nome da panificadora que o identifica, não tem propriamente uma marca. Como já foi "baptizado" por alguém como o pão de mértola, acho que podes procurar assim no comércio mais tradicional de Portugal e, inclusive, em alguns países com maiores comunidades de portugueses.